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Servidores da Funai completam 20 anos de carreira e apontam os desafios de trabalhar na instituição
Nesta terça-feira (17), completam-se 20 anos da nomeação da primeira turma de servidores da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), do concurso realizado em 2004. Programadores educacionais, engenheiros, antropólogos, sociólogos, economistas, contadores, geógrafos e administradores: o concurso nomeou 91 servidores, e 50 continuam ativos na instituição.
O certame foi o primeiro realizado após a promulgação da Constituição de 1988, que reconhece aos indígenas sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam. A iniciativa representou mais um passo na busca pela garantia dos direitos dos povos originários, com o reforço da equipe da instituição, que necessitava de um número maior de servidores com formações específicas para melhor atender à temática indígena.
A atual diretora de Proteção Territorial (DPT) da Funai, Maria Janete de Carvalho, também nomeada no concurso de 2004, aponta as mudanças que ocorreram na instituição e na forma de trabalhar ao longo desses anos. “Trabalhar na Funai é um misto de desafios e alegria. Passar esses 20 anos no órgão foi uma oportunidade de ver como as coisas mudaram. Desde os avanços tecnológicos, como deixar de tirar uma senha para trabalhar no computador para, hoje, trabalhar com três telas, até avanços na forma de ser indigenista. A gente é uma ponte entre um mundo indigenista que a instituição já foi, pois, quando entramos, havia servidores mais antigos, e esse mundo novo, no qual a fundação vem se modificando para ser indígena e indigenista.”
Para Janete, ter sido uma das servidoras mais novas em 2004, e hoje ser uma das mais antigas do órgão, é algo que, ao mesmo tempo em que assusta, também é uma grande responsabilidade. “É uma satisfação e tanto para nós que continuamos lutando. Como diretora da DPT, tem sido uma oportunidade de aprender e tentar ajudar nessa missão tão ímpar que a Funai tem”, afirmou.
Foto: Gustavo Menezes (PFE) na Terra Indígena Yanomami (RR)
Para o antropólogo Gustavo Menezes, atualmente lotado na Procuradoria Federal Especializada, atuar na Funai representa um aprendizado diário. “Trabalhar na Funai nos permite conhecer mais sobre o Brasil e seus primeiros habitantes, aprender mais sobre a odisseia dos povos originários, seus modos de vida e de pensamento.”
O servidor chama a atenção para a troca que os servidores conseguem fazer, ao longo de sua trajetória no órgão, com os povos indígenas do Brasil. “Nesses 20 anos, aprendi muito com os povos indígenas e passei a ver o Brasil com outros olhos. Aprendi muito com os colegas da Funai também. Pessoas incríveis com quem tive a honra de trabalhar. O Brasil tem um débito com os povos indígenas, e a Funai tem uma missão importante de coordenar a política indigenista brasileira. Sou grato por fazer parte dessa história”, afirmou.
Foto: Thais Gonçalves (CGMT)
O olhar diferenciado do servidor da Funai também é uma característica fundamental para o trabalho, de acordo com a atual coordenadora-geral de Monitoramento Territorial, Thais Gonçalves. “A Funai me trouxe uma visão mais ampla da sociedade brasileira, além da região sudeste, que era o que eu conhecia até então. A partir desse entendimento, eu fui me apaixonando pelo trabalho e hoje começo a entender o contexto geográfico das terras indígenas no Brasil, e o quão importante é o trabalho que fazemos na Funai, seja para os povos indígenas, seja para toda a sociedade. Um trabalho que busca incessantemente proteger as terras indígenas, trazendo reflexos positivos em um contexto crítico de mudanças climáticas, desmatamento, incêndios florestais e vários outros ilícitos”, apontou a servidora.
Eduardo Barcellos, econimista da Funai, apontou as primeiras impressões que teve ao chegar ao órgão e sua evolução enquanto servidor. "Logo nos primeiros dias na antiga sede, ficava deslumbrado vendo indígenas de todo o Brasil. Foi um processo de encantamento, como se um portal se abrisse para mim. A paixão pelos povos indígenas foi crescendo à medida que frentes de trabalho surgiam. Aprendi com meus colegas antigos da Funai que nossos verdadeiros chefes são os indígenas. Aos poucos, tive a oportunidade de conhecer diferentes povos indígenas, com suas culturas e diferentes maneiras de se organizarem. Tudo isso suscitou a ressignificação dos meus valores e modo de ver o mundo".
O servidor, hoje diretor-substituto do Museu do Índio, no Rio de Janeiro, trabalhou nas Frentes de Proteção Etnoambiental Guaporé e Vale do Javari; e, posteriormente, na CR Vale do Javari no início de sua trajetória. "Logo percebi o que é ser servidor da Funai. Estar ao lado dos povos indígenas representando o órgão indigenista oficial demandaria de mim generosidade, autoconhecimento e espiritualidade. Após 20 anos de dedicação, mesmo com os escassos recursos humanos e financeiros do órgão, a Funai é uma instituição que permitiu meu crescimento profissional e pessoal. Aplico estes conhecimentos no meu dia a dia, e desejo lutar junto com os povos indígenas para a garantia dos seus direitos originários assegurados pela nossa Carta Magna".
Assessoria de Comunicação/Funai