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Mostra sobre povos xinguanos entra em cartaz na inauguração de Centro Audiovisual em Goiás
Entrou em cartaz nesta quinta-feira (11) a exposição Xingu: Contatos, do Instituto Moreira Salles (IMS), no Centro Audiovisual (CAud), em Goiânia (GO). A exposição marcou a abertura do CAud, estrutura da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) que será gerida pelo Museu do Índio (MI), órgão científico-cultural vinculado à autarquia indigenista. A mostra ficará aberta ao público gratuitamente até o dia 13 de outubro e contará com uma série de atividades paralelas que serão divulgadas ao longo do período expositivo.
“A mostra é resultado de uma parceria importante que teve à frente diferentes representantes dos povos do território do Xingu que se debruçaram sobre as imagens históricas que são expostas. Foi um aprendizado para nós construir essa exposição em uma perspectiva de reflexão da luta e resistência dos povos xinguanos”, ressaltou o diretor do Instituto Moreira Salles, Marcelo Araújo.
A diretora do MI, Fernanda Kaingang, destacou o simbolismo da exposição na inauguração do CAud. “O audiovisual faz parte da trajetória do Museu do Índio desde sua criação, em 1953, e a inauguração do Centro de Audiovisual com a exposição Xingu: Contatos simboliza o fortalecimento dessa atuação com protagonismo dos povos indígenas e a parceria do Instituto Moreira Salles", frisou.
O Território Indígena do Xingu foi a primeira grande área demarcada no Brasil, em 1961, no estado do Mato Grosso. A história de luta e resistência dos mais de 6 mil indígenas de 16 povos que lá vivem será revisitada na exposição.
A mostra foi exibida na sede do IMS de São Paulo, entre 2022 e 2023, e agora chega ao CAud. A equipe de curadoria é formada pelo cineasta Takumã Kuikuro, diretor de documentários como As hiper mulheres (2011); pelo jornalista Guilherme Freitas, editor-assistente da Serrote, revista de ensaios do IMS; e pela assistente de curadoria Marina Frúgoli.
Composição da mostra
A exposição apresenta múltiplas narrativas e olhares em torno do território, tendo como destaque a produção audiovisual indígena contemporânea, que tem no Xingu um de seus principais pólos.
O conjunto inclui seis curtas-metragens, feitos especialmente para a exposição, de autoria de Divino Tserewahú, Kamatxi Ikpeng, Kamikia Kisêdjê, Kujãesage Kaiabi, Piratá Waurá e do Coletivo Kuikuro de Cinema. Com ênfase na linguagem documental, os filmes tratam de questões como a preservação das culturas, o desmatamento e a luta por direitos. A mostra traz ainda um trabalho do artista Denilson Baniwa, também produzido para a exposição, e fotografias produzidas pelos comunicadores indígenas da Rede Xingu+.
Também são exibidas imagens, reportagens e outros documentos produzidos no Xingu por não indígenas desde o final do século XIX. Na mostra, essas imagens são confrontadas pela produção de artistas e comunicadores indígenas, em um processo de diálogo, contraste e elaboração de novas perspectivas.
Fruto de dois anos de pesquisa, a seleção apresenta cerca de 150 itens. Os materiais provêm do acervo de diferentes instituições, como os próprios IMS e Museu do Índio, além do Instituto Socioambiental (ISA), o Instituto Goiano de Pré-História e Antropologia da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás) e a Organização Não-Governamental (ONG) Vídeo nas Aldeias, entre outras. As imagens do acervo passaram por um processo de requalificação, conduzido em diálogo com pesquisadores e lideranças indígenas, para identificar pessoas, locais e situações.
Resgate do protagonismo indígena
De acordo com Takumã Kuikuro, as narrativas em torno do território sofreram muitos apagamentos, sendo preciso reforçar o protagonismo das lideranças indígenas na luta pela demarcação do parque e na diplomacia com os não indígenas. A exposição parte do objetivo de evidenciar esse ativismo.
“Hoje, nós somos protagonistas da nossa história. Antes não conhecíamos o audiovisual, agora conhecemos. Somos donos da nossa imagem e levamos as lutas dos povos do Xingu para museus, festivais, cinemas, redes sociais e exposições. Não existiu só um contato entre indígenas e não indígenas. O contato acontece o tempo todo, hoje e amanhã, e acontece também através do audiovisual. Queremos contar nossa história para que os não indígenas possam reconhecer e ensinar aos seus filhos o protagonismo dos povos indígenas do Xingu e de todo o Brasil”, reflete o cocurador.
Guilherme Freitas, também cocurador, considera que, para evidenciar essas novas narrativas, é preciso reavaliar a forma como os acervos das instituições são catalogados e exibidos. Segundo ele, parte da história do Xingu está registrada em fotografias sob a guarda do Instituto Moreira Salles.
O jornalista também avalia que a exposição Xingu: Contatos é o marco inicial de um processo de requalificação desse conjunto de imagens, com a colaboração de pesquisadores e lideranças indígenas, por meio da identificação de pessoas, locais e situações retratadas.
“Buscamos, assim, colocar o acervo a serviço da reflexão crítica sobre a representação dos povos originários na história do país e do desenvolvimento de novas formas de autorrepresentação indígena. Por tudo isso, para nós é uma grande alegria colaborar com o Museu do Índio e levar a exposição a essa nova unidade dedicada ao audiovisual indígena em Goiânia”, afirma Freitas.
Conselho consultivo
No processo de idealização da mostra, os curadores contaram com o apoio de um conselho consultivo externo, que contribuiu apresentando considerações, opiniões e críticas. Fizeram parte do grupo o indigenista André Villas Bôas, a linguista Bruna Franchetto, o antropólogo Carlos Fausto, a curadora Naine Terena, a liderança Tapi Yawalapiti, o cineasta Vincent Carelli, criador do Vídeo nas Aldeias, e Watatakalu Yawalapiti, uma das lideranças do movimento de mulheres do Xingu.
O processo de identificação de imagens contou com a colaboração da Associação Terra Indígena do Xingu (ATIX), que representa os 16 povos que vivem no território, e de lideranças dos povos Xavante, Bakairi e Kayapó, também retratados na exposição.
Serviço
Exposição Xingu: Contatos
Visitação: de 11 de julho a 13 de outubro de 2024
Entrada gratuita
Centro Audiovisual do Museu do Índio (CAud)
Alameda Leopoldo de Bulhões, s/n°, qd. 3, lts. 1/4,
Setor Pedro Ludovico, Goiânia/GO
CEP 74.820-060
Horário de funcionamento:
De terça a sexta: 10h às 18h
Sábados e domingos: 10h às 16h
Assessoria de Comunicação/Funai
Com informações do Instituto Moreira Salles