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Funai participa de expedição histórica dos povos Wayana e Aparai no Baixo Rio Paru
A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) participou da Expedição Paru, uma iniciativa histórica que marcou o retorno dos povos indígenas Wayana e Aparai ao Baixo Rio Paru, após mais de 50 anos sem presença indígena na região. A expedição, que teve início em 29 de agosto, partiu da aldeia Parapara, na Terra Indígena (TI) Rio Paru d’Este, e percorreu territórios fora das áreas demarcadas, que hoje fazem parte da Reserva Biológica Maicuru e da Floresta Estadual do Paru, no Pará.
Os povos Wayana e Aparai, historicamente presentes no Baixo Rio Paru, foram gradualmente concentrados no alto rio devido à chegada de não indígenas e à criação de estruturas do Estado brasileiro a partir da década de 1970. A demarcação das terras indígenas intensificou o desejo de redistribuição dos indígenas ao longo do território, com o objetivo de aumentar a vigilância e garantir a integridade de suas terras.
A expedição contou com 19 indígenas e cinco não indígenas, incluindo três servidores da Funai, e teve como objetivo principal mapear o Baixo Rio Paru, uma área que ficou de fora da demarcação original e que vem sofrendo com a exploração ilegal de recursos, como garimpo ilegal. Este último localiza-se entre a TI e as cachoeiras da região.
As cachoeiras e corredeiras do rio, que se estendem por 40 quilômetros, são obstáculos naturais que dificultam o acesso à região e ajudam a protegê-la. Como os garimpeiros não conseguem movimentar equipamentos, têm utilizado pistas de pouso clandestinas acima das cachoeiras do Rio Paru para facilitar suas atividades. Devido a isso, a expedição buscou monitorar esses espaços, reforçando a vigilância territorial.
Além disso, buscou-se estabelecer um vínculo com os castanheiros da Floresta Estadual do Paru, que têm grande presença na área e podem ser parceiros na proteção do território, localizando-se abaixo das cachoeiras.
“A realização da Expedição Paru abriu um novo momento para a proteção territorial da região e também para o acesso a direitos sociais e cidadania das etnias Aparai e Wayana. A partir de agora, vamos avaliar a atividade, que ocorreu sem nenhum problema, e pensar nos próximos passos e nas parcerias necessárias para fazer o caminho do Paru uma realidade”, afirmou Priscila Karipuna, coordenadora regional da Funai do Amapá e Norte do Pará.
Além da vigilância territorial, a expedição também proporcionou aos indígenas uma nova rota de acesso à cidade de Laranjal do Jari, no Amapá. Até então, a única forma de transporte era por meio de voos particulares, uma opção extremamente cara e limitada, que dificultava o acesso dos indígenas a serviços públicos essenciais, comércio e outros direitos.
A chegada a Laranjal do Jari permitiu aos indígenas estabelecer um canal de diálogo com a gestão municipal e sensibilizar as autoridades para suas necessidades. A expedição foi um marco para a inclusão social e a garantia de direitos dos povos Wayana e Aparai, que, apesar de viverem em território no Pará, têm uma ligação mais próxima com o estado do Amapá.
Continuidade
A Expedição Paru será discutida na próxima assembleia dos povos Wayana e Aparai, que ocorrerá na aldeia Bona, em novembro. Essa avaliação será essencial para definir os próximos passos e consolidar parcerias futuras que possam fortalecer a presença indígena no Baixo Rio Paru, ampliando a proteção territorial e o acesso a serviços essenciais.
A Funai desempenhou um papel central no sucesso da expedição, fornecendo combustível para o deslocamento e uma embarcação de apoio, além de ter enviado servidores para acompanhar e auxiliar a equipe no mapeamento do território.
Foram realizadas visitas ao município de Laranjal do Jari (AP) com o objetivo de sensibilizar a gestão municipal para a existência da demanda dos povos indígenas por acesso a serviços públicos e outras atividades. A expedição chegou até o porto Puxuri, localizado a 120 quilômetros de distância de Laranjal do Jari, e de lá seguiu com apoio da Funai para a cidade.
A ação envolveu ainda o Instituto de Pesquisa e Formação Indígena (Iepé), o Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade (Ideflorbio) e o Instituto Municipal da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (IMAPA/Laranjal do Jari), demonstrando a importância das parcerias institucionais na proteção dos direitos e territórios indígenas.
Essa expedição não apenas reforça a vigilância das terras indígenas, mas também abre portas para um futuro de maior integração e acesso a direitos, contribuindo para a preservação do modo de vida e do território dos povos Wayana e Aparai.