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Funai participa de curso de formação e fortalecimento de jovens lideranças Potiguara
O projeto “Anama - Fortalecendo Lideranças e Juventudes no Território Potiguara” chega em 2024 ao seu terceiro ano de realização, consolidando-se como uma das principais iniciativas de formação e empoderamento de jovens líderes indígenas no território Potiguara, na Paraíba. Com o objetivo de fortalecer a gestão territorial e promover a preservação cultural, o Anama se destaca como uma estratégia para garantir que as novas gerações estejam preparadas para enfrentar os desafios contemporâneos e continuar lutando pela preservação de sua identidade, saberes tradicionais e território.
O curso, que teve início em 2022, é fruto de uma demanda das lideranças e da juventude Potiguara, que buscavam uma forma de mobilizar os jovens para ações coletivas que valorizassem a identidade étnica e protegessem o território indígena. Para isso, estabeleceram uma parceria com o Campus IV da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), localizado próximo à Terra Indígena de Monte-Mor, em Rio Tinto. A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) se integrou ao projeto oferecendo apoio técnico desde o início da iniciativa.
De acordo com Wdson Fernandes Gomes, Técnico em Indigenismo e Chefe do Serviço de Promoção dos Direitos Sociais e Cidadania (Sedisc) da Coordenação Regional da Funai em João Pessoa, o Anama tem um significado profundo para a comunidade Potiguara. “A iniciativa do projeto Anama é uma verdadeira expressão de compromisso com o fortalecimento das comunidades indígenas e a preservação de suas culturas e territórios. Desde o início, quando os jovens Potiguara buscaram nosso apoio, ficamos imbuídos da importância dessa missão, que vai além de simples ações de capacitação; trata-se da valorização das raízes e da identidade do Povo Potiguara”, afirma Gomes.
Estrutura e objetivos do Anama
O curso, que significa "família" em Tupi, já formou mais de 130 jovens Potiguara desde sua criação e ampliou sua capacidade para 70 participantes em 2024. Com encontros inicialmente quinzenais e agora mensais, os módulos são realizados de forma itinerante, nas diversas aldeias que compõem o território Potiguara, permitindo que os jovens participantes conheçam a história e os desafios específicos de cada comunidade.
Os temas abordados nos módulos são diversos, englobando saúde, meio ambiente, educação, rituais, espiritualidade, o papel das mulheres e a preservação dos conhecimentos tradicionais. Além disso, o curso promove trocas de experiências com anciãos e lideranças de outros povos indígenas, enriquecendo a formação dos jovens com saberes ancestrais e novas perspectivas.
Kelly Emanuelly de Oliveira, professora do Departamento de Ciências Sociais da UFPB e uma das parceiras do projeto, destaca a relevância do curso para a comunidade: “O curso, proposto pelos Potiguara, ganhou uma visibilidade e alcance maior do que a proposta inicial, sendo hoje uma referência no povo como espaço de reflexão política, ética, e comprometido com valores de fortalecimento da identidade étnica da comunidade.”
Já para Estêvão Palitot, “O projeto Anama tem possibilitado um espaço de intercâmbio entre diversos coletivos do povo Potiguara, entre pessoas de diferentes gerações e também entre integrantes desse povo e de outros povos indígenas e com a Universidade Federal da Paraíba, Funai e outras instituições. O protagonismo indígena é a tônica geral do projeto desde a sua concepção, proposição, elaboração, execução e avaliação permitindo uma construção e desenvolvimento coletivos e participativos. Em muitos momentos temos tido a oportunidade de apresentar o resultado das pesquisas desenvolvidas na UFPB junto aos Potiguara possibilitando a devolução de registros e conhecimentos produzidos no âmbito acadêmico por docentes e discentes indígenas e não-indígenas.”
Em 2024, o Anama executa três grandes módulos temáticos, focando em ambiente e sustentabilidade, cultura e musicalidade e equidade para mulheres indígenas. A metodologia utilizada reflete a proposta de "produção social do currículo", integrando conhecimentos acadêmicos e saberes culturais, uma abordagem que visa fortalecer a autonomia indígena e a organização social Potiguara.
Logística e parcerias
A execução do Anama conta com o apoio técnico e logístico de diversas instituições. A Funai é responsável por fornecer recursos logísticos, como transporte, alimentação e materiais para os participantes, além de promover a articulação com outros coletivos indígenas. A UFPB, por sua vez, mantém uma longa relação de cooperação com o povo Potiguara desde os anos 1970 e tem sido parceira na oferta de suporte acadêmico e metodológico ao projeto.
Os servidores da Funai desempenham um papel crucial na realização das atividades, conforme destaca Wdson: “As viagens de intercâmbio e as diversas atividades do projeto têm sido cruciais para aprofundar a nossa conexão com a comunidade e aprimorar nossas abordagens institucionais. O Anama contribui de forma significativa para a construção de uma nova geração de líderes comprometidos com a gestão territorial, a conservação ambiental e a promoção da identidade cultural Potiguara.”
Impacto e expectativas futuras
O Anama não apenas fortalece a juventude Potiguara, mas também fomenta a criação de novos coletivos, como o Projeto Curica e o Memórias Potiguara, que atuam em áreas como educação, saúde e sustentabilidade.
Para 2025, o Anama continuará em expansão, com a formação de uma nova comissão organizadora, composta pelos próprios indígenas, responsável por planejar as atividades futuras do curso. Esse processo de autonomia reflete o sucesso da iniciativa em criar um espaço de protagonismo indígena, onde os Potiguara possam conduzir suas próprias demandas e buscar soluções para os desafios de seu território.
Como resume Poran Potiguara, uma das lideranças indígenas envolvidas na criação do projeto: “O Anama surgiu como um curso, mas a ideia é que ele fosse um movimento, não para contrapor algo, mas para ser um espaço de reflexão sobre o território. Mais do que discutir coisas de fora, queríamos olhar para dentro e ver o que acontece aqui. Quais são as possibilidades? Como podemos mudar isso? Como discutir a história Potiguara? Isso é muito importante.”
Outra liderança, capitão Potiguara, falou da importância da iniciativa. "Anama significa família, povo. Esse projeto é muito importante para fortalecer a nossa juventude, que estava justamente precisando desse curso para fortalecer nossos jovens e contribuir para a formação de lideranças conhecedoras de nossos direitos, do nosso território e de sua retomada. Também é importante conhecer a história de luta de nossos guerreiros que já se ancestralizaram: Severino Fernandes, Batista, Sr. Valdemar e Sr. Vicente em Monte-Mór, entre outros guerreiros que já passaram.”
A continuidade do Anama é vista como uma peça-chave para a preservação cultural e territorial do povo Potiguara, garantindo que os saberes tradicionais sejam passados às próximas gerações e que a juventude se engaje cada vez mais na luta pela defesa de seus direitos e da sua terra.
Acompanhe o trabalho do Anama.
Assessoria de Comunicação/Funai