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Funai marca presença em encontro internacional com lideranças, pesquisadores e estudantes indígenas em Brasília
A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) participou da abertura do I Encontro Internacional de Pesquisadores Indígenas entre Aldeias e Universidades — Ciência Indígena e Justiça Climática. Realizada pela União Plurinacional dos Estudantes Indígenas (Upei), a reunião ocorreu no auditório do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), em Brasília. O evento tem o objetivo de promover o diálogo e a troca de conhecimentos entre pesquisadores indígenas, estudantes, docentes e lideranças tradicionais do Brasil e de países da América Latina, como Bolívia e Equador.
A Funai é uma das entidades colaboradoras do evento, tendo em vista a sua competência regimental de acompanhar a execução das políticas de educação escolar indígena sob a responsabilidade dos órgãos governamentais federais, distrital, estaduais e municipais, colaborando tecnicamente com sua qualificação e especificidade, em articulação intersetorial e interinstitucional.
A abertura do evento contou com uma apresentação cultural de um grupo constituído por acadêmicos indígenas do povo Tikuna da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com o Hino Nacional entoado na língua Tikuna, de tronco linguístico isolado.
Representando a Funai, a diretora de Administração e Gestão, Mislene Metchacuna, indígena Ticuna, endossou a respeito do órgão indigenista ter o papel de articulador e estar de portas abertas para formalizar parcerias que visem garantir, valorizar e reconhecer os conhecimentos indígenas, promovendo o fortalecimento do protagonismo dos pesquisadores indígenas que exercem um intercâmbio de conhecimentos ancestrais com os conhecimentos da academia, o que na prática pode significar uma estratégia de enfrentamento da crise climática global.
Para tanto, as universidades precisam dispor de uma política de acessibilidade aos estudantes indígenas com a finalidade de garantir a permanência deles no ensino superior, para que saiam da invisibilidade e sejam os detentores de seus conhecimentos que, historicamente, foram apropriados por pesquisadores não indígenas com outras finalidades, sem retorno algum para as bases étnicas.
Mesa de abertura
Participaram da mesa de abertura o cacique Raoni Kayapó; a liderança indígena Txai Suruí; a professora e escritora Eliane Potiguara; o coordenador executivo da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Kleber Karipuna; o presidente em exercício do CNPq, Olival Freire Junior; a presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Denise Pires de Carvalho; o representante da Embaixada da Bolívia, Carlos Sebastian; e o pró-reitor da Unicamp, Ivan Felizardo.
Doutor Honoris Causa pela Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) e uma figura viva da ancestralidade indígena, o cacique Raoni Kayapó lamentou que os não indígenas tenham se apossado de saberes dos povos originários. “Quero pedir a vocês que todo o nosso conhecimento, principalmente em relação aos remédios, vocês indígenas estudantes, registrem. Não podemos deixar que tomem nosso conhecimento e se apropriem”, alertou o cacique.
Aos pesquisadores e estudantes, Raoni fez um pedido: “Eu desejo que vocês façam um trabalho correto para beneficiar a nós [indígenas]. Todo esse conhecimento é nosso”. O líder indígena comentou que busca ao máximo defender o bem viver de todos os indígenas perante as autoridades. “Defendo vocês, as nossas florestas e os rios. Somos os verdadeiros donos desta terra e merecemos ser respeitados”, completou o cacique ao abordar o desmatamento e degradação da natureza.
Liderança indígena do povo Paiter Suruí e estudante de direito, Txai Suruí frisou a necessidade de valorizar o conhecimento ancestral e a sabedoria indígena dentro das instituições de ensino superior. “O que eu vi e nós vivemos mesmo foi uma universidade que ia nas nossas aldeias, fazia pesquisa e não trazia os resultados de volta para nós”, declarou.
“Nós, como estudantes indígenas, como povos indígenas que estão dentro da universidade, temos um papel muito importante, não só para ir aprender, mas também em disseminar o conhecimento indígena e revolucionar esse lugar”, sustentou Txai Suruí. Ela acrescentou que o saber indígena é circular, e o futuro, ancestral: “O conhecimento que eu aprendi com o meu avô, que não sabia ler nem escrever, nenhuma universidade jamais vai ensinar”.
Encontro
O I Encontro Internacional de Pesquisadores Indígenas entre Aldeias e Universidades teve início nesta quarta-feira (20) e se estenderá até sexta-feira (22). Na ocasião, haverá a celebração de um termo de cooperação técnica e científica entre parceiros. A programação conta com atividades culturais, debates, painéis e rodas de diálogo. Representantes do Ministério dos Povos Indígenas (MPI), Ministério da Educação (MEC) e do Ministério Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA) marcaram presença no evento.
O encontro reúne pesquisadores indígenas em iniciação científica, estudantes de diferentes programas de pós-graduação (mestrado e doutorado), docentes indígenas e pesquisadores comprometidos com a temática da ciência indígena e justiça climática. Na avaliação dos idealizadores do evento, esse diálogo abrange uma diversidade de participantes, o que enriquece as discussões e contribui para a construção de soluções sustentáveis e socialmente justas.
Assessoria de Comunicação/Funai