Notícias
Funai apoia o fortalecimento da luta e protagonismo das mulheres Potiguara em encontro histórico na Aldeia Jacaré de César
A Aldeia Jacaré de César, em Marcação (PB), sediou nos dias 29 e 30 de novembro o Encontro de Mulheres Indígenas Potiguara. Cerca de 300 mulheres de diversas aldeias se reuniram para debater temas essenciais, celebrar a cultura e reforçar a luta por direitos e igualdade. Representada pelo coordenador regional de João Pessoa, Eugenio Herculano Junior; a coordenação local da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) desempenhou um papel fundamental na realização do evento, contribuindo com articulações e apoio logístico para que o encontro se tornasse um marco na construção de um futuro mais justo e igualitário para as mulheres Potiguara.
O evento, promovido pela Coordenação Regional da Funai em João Pessoa em parceria com a Associação das Mulheres Guerreiras Indígenas Potiguara da Paraíba (AMGIP), contou com o apoio doDistrito Sanitário Especial Indígena (DSEI/Sesai) Potiguara, da Secretaria de Estado da Mulher e Diversidade Humana (SEMDH), da Secretaria de Estado da Cultura (Secult), da Secretaria de Agricultura Familiar e Desenvolvimento do Semiárido (SEAFDS), do Conselho Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), da Coordenadoria das Delegacias Especializadas da Mulher (Coordeam), da Delegacia da Mulher de Mamanguape, da Patrulha Indígena e das Prefeituras de Marcação, Baía da Traição e Rio Tinto.
O evento proporcionou um espaço seguro para que as mulheres Potiguara discutissem temas fundamentais como violência de gênero, saúde mental, direitos territoriais, educação e participação política. A violência doméstica, por exemplo, recebeu atenção especial em uma roda de conversa conduzida pela Delegada Walnísia, da Delegacia da Mulher, e mediada por uma psicóloga. A saúde mental também foi tema de debate, com a equipe do DSEI Potiguara e a psicóloga Roseane. Além dos debates, o encontro celebrou a rica cultura Potiguara com rituais tradicionais, apresentações culturais e a exposição de artesanatos e iguarias típicas, como beiju, tapioca e mungunzá. Ambas as iniciativas foram apoiadas pela Funai, que articulou parcerias para enriquecer a programação do evento.
Para além dos temas já mencionados, o encontro também abriu espaço para discussões sobre a preservação ambiental e os desafios das mudanças climáticas, com a participação do Coletivo Águas Potiguara. Em um ato simbólico, foram plantadas mudas de Imbiraba e Jatobá no território sagrado, reforçando o compromisso com a Mãe Terra.
Para a cacica de Monte Mor e representante do Conselho Nacional de Política Indigenista (CNPI) Claudecir Potiguara, a luta pelo direito e a igualdade não pode ser normalizada. “Normalizamos o machismo e nos acostumamos com isso. Nós temos que dizer e ensinar pros nossos filhos que eles devem cuidar e respeitar as mulheres”, afirmou. Em seu discurso, ela ressaltou a capacidade e a força das mulheres indígenas: "Eu sou igual a qualquer homem e capaz de realizar as mesmas tarefas. Isso está dentro de cada uma de nós. Temos o poder de decisão e precisamos encorajar outras mulheres a acreditarem em si mesmas."
Homenagens e fortalecimento da ancestralidade
Uma das figuras centrais do encontro foi Cesária Soares de Lima, que fundou a Aldeia Jacaré de César e que dá nome ao local. Sua história de luta e resistência inspirou as gerações presentes e futuras de mulheres Potiguara. A organizadora do evento, conhecida como Comadre Guerreira, ressaltou que a união das mulheres indígenas é fundamental para a preservação da cultura, o cuidado com os territórios e o fortalecimento das novas gerações.
Comadre Guerreira, Presidenta da AMGIP, demonstrou a importância da assembleia para o território Potiguara: "O encontro foi um espaço de fortalecimento da vivência cultural e tradicional, além de promover a participação das mulheres nas políticas públicas. Fortalecemos e valorizamos a cultura e o território Potiguara, com foco no tema 'A mulher na luta pelo bem viver do Povo Potiguara'."
Lazer e Diversão para os curumins
Para a alegria dos curumins, o evento contou com a participação especial do grupo de teatro Cia Boca de Cena. Com uma apresentação vibrante e divertida, os artistas encantaram a criançada e todas as presentes. Além do entretenimento, a Cia Boca de Cena proporcionou momentos educativos, transmitindo mensagens importantes de forma lúdica e interativa.
Encaminhamentos para o futuro
O encontro resultou em importantes encaminhamentos, como a importância de incluir temas como preservação ambiental e enfrentamento ao machismo nas pautas prioritárias das aldeias; o pedido de definição de estratégias para ampliar a participação da juventude indígena nas atividades comunitárias; e a homologação das Terras Indígenas (TIs) Potiguara de Monte-Mor, assinada na tarde desta quarta (4), pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.
A Funai não apenas apoiou a realização do evento, mas também reafirmou seu compromisso com a continuidade dessas ações. A presença institucional em momentos como este é essencial para garantir que as demandas das mulheres indígenas sejam ouvidas e incorporadas em políticas públicas que respeitem sua cultura e promovam sua autonomia.
O Cacique Tita, da Aldeia Jacaré de César, agradeceu a escolha da aldeia para sediar o evento e destacou a importância do encontro para as mulheres e para o Povo Potiguara. "As mulheres vêm conquistando seu espaço e superando as dificuldades com conhecimento e luta", afirmou. "Este encontro é prova de suas realizações e reafirma que o lugar da mulher é onde ela quiser."
Îasypytã Potiguara, Gerente Operacional de Políticas de Apoio a Comunidades Tradicionais na SEMDH, abordou o empoderamento feminino: "Falar sobre empoderamento feminino é reconhecer a força da 1ª Mesa desta Assembleia, composta por mulheres indígenas em posição de liderança. Enfatizo minha orientação sexual [bissexual] por reconhecer que só posso ser quem sou graças às mulheres que lutaram para que suas individualidades fossem respeitadas. Mesmo em nosso povo, com histórico matriarcal, o machismo persiste. É através do empoderamento que nossas vozes ecoam."
Wdson Fernandes, Chefe do Serviço de Promoção dos Direitos Sociais e Cidadania da Funai, ressaltou a importância de ouvir as mulheres indígenas e de dialogar com os governos para garantir que suas vozes sejam de fato ouvidas e respeitadas. "É essencial que a consulta pública aos povos indígenas seja um processo real, em que as instituições se desloquem até os territórios e ouçam atentamente as mulheres indígenas", afirmou. "Não basta ler documentos; é preciso ver e sentir a força e os sentimentos expressos por essas mulheres guerreiras, compreender suas necessidades e, assim, promover políticas públicas mais assertivas, construídas com a participação delas."
O Encontro de Mulheres Indígenas Potiguara foi mais do que um momento de debate e celebração. Ele consolidou a união entre as aldeias e fortaleceu a identidade cultural do povo Potiguara, inspirando as mulheres a seguirem na luta por empoderamento e bem viver. Com o apoio da Funai e da Associação das Mulheres Guerreiras Indígenas Potiguara da Paraíba (AMGIP), o evento se consolida como um espaço essencial para o fortalecimento da ancestralidade e a construção de um futuro igualitário.
Próximos passos: Conferência Nacional das Mulheres Indígenas no Território Potiguara
Entre os dias 12 a 14 de fevereiro de 2025, o Território Potiguara se prepara para sediar uma das etapas da Conferência Nacional das Mulheres Indígenas - Território Mangabeira. Com o intuito de fortalecer ainda mais a luta pelos direitos e bem-estar das mulheres indígenas, o evento reunirá lideranças e representantes de diversas etnias do Brasil. Por meio de grupos de trabalhos e rodas de conversa, as participantes vão colaborar com a reflexão e com propostas coletivas às políticas públicas voltadas para as mulheres indígenas. Os documentos regionais, com as colaborações e demandas dos territórios, vão culminar em decisões que serão lançadas na etapa nacional. A conferência terá como tema central o “Enfrentamento da Violência contra as Mulheres Indígenas” e os debates serão divididos em seis eixos temáticos: Direito e Gestão Territorial, Emergência Climática, Políticas Públicas e Violência de Gênero, Saúde, e, por último, Educação e transmissão de saberes ancestrais para o bem viver.
TI Potiguara de Monte-Mor
Na última quarta (5), o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, assinou a homologação das Terras Indígenas (TIs) Potiguara de Monte-Mor, na Paraíba, e Morro dos Cavalos e Toldo Imbu, em Santa Catarina. O ato foi realizado em Brasília, nesta quarta-feira (4), véspera do aniversário de 57 anos da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), e reafirma o compromisso do Governo Federal com os direitos dos povos indígenas. A próxima etapa é o registro imobiliário. Com a assinatura, já são 13 terras indígenas homologadas pela atual gestão do Governo Federal desde 2023, entre 14 enviadas para homologação. Destinada à posse permanente do povo indígena Potiguara, a TI Potiguara de Monte-Mor localiza-se nos municípios de Marcação e Rio Tinto, na Paraíba. O território, com cerca de 7,5 mil hectares, abriga mais de 7 mil indígenas em seis aldeias, de acordo com dados do Censo 2022, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A TI Potiguara de Monte-Mor possui rica biodiversidade e está localizada em áreas com relevante interesse ecológico, incluindo manguezais e zonas de proteção ambiental, no bioma Mata Atlântica.