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Ailton Krenak é o primeiro indígena a se tornar ‘imortal’ da Academia Brasileira de Letras
A presidenta da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joenia Wapichana, integrou a mesa de diplomação na cerimônia de posse de Ailton Krenak na Cadeira 5 da Academia Brasileira de Letras (ABL), na noite de sexta-feira (5), no Rio de Janeiro (RJ). O ambientalista, escritor, poeta e filósofo é o primeiro indígena a ocupar uma cadeira no instituto literário. A cerimônia foi transmitida pelo YouTube.
“Foi uma honra prestigiar esse momento histórico de representação dos povos indígenas na cultura e na literatura brasileira, no qual a Academia Brasileira de Letras ‘imortalizou’ o nosso Ailton Krenak, essa liderança indígena, que já colaborou muito, com a sua trajetória de ativismo, na nossa constituição de 1988”, destacou a presidenta Joenia Wapichana, fazendo referência ao simbólico gesto protagonizado por ele na década de 1980.
Na ocasião, Krenak passava tinta de jenipapo no rosto enquanto se pronunciava na tribuna do Congresso Nacional em favor dos povos indígenas. O gesto mobilizou a opinião pública e os parlamentares na aprovação dos artigos 231 e 232 da Constituição Federal, os quais reconhecem os indígenas como cidadãos e aptos a solicitar amparo legal na defesa de seus direitos.
A referida atitude foi reverenciada pela acadêmica da ABL Heloísa Teixeira que fez a apresentação da trajetória de Ailton, elencando a sua marcante história na defesa de seus parentes e o saudou como integrante da Academia Brasileira de Letras. “Nosso novo acadêmico habita seguro o campo da oralidade, esse oceano de sabedoria, como diz ele. E é exatamente esse imenso universo da oralidade, o que ele de melhor traz para a ABL, rompendo de uma só vez a tradição letrada e lusófona dessa Casa”, discorreu.
Em seu discurso, invocando escritores e poetas, Ailton Krenak homenageou os que o antecederam na Cadeira 5 da ABL. “Espero ter honrado aqueles que me antecederam, aqueles que contribuíram para que essa Casa possa seguir honrando a sua fundação”, afirmou. O novo “imortal” percorreu pela formação miscigenada dos brasileiros ao mesmo tempo que evidenciava os impactos na identidade dos povos indígenas e os saudava. “Eu não sou mais do que um, mas eu posso invocar uns 300. Nesse caso, 305 povos indígenas”.
Literatura na oralidade
Uma das ideias de Ailton Krenak para contribuir com a ABL é a criação de uma plataforma parecida com a Biblioteca Ailton Krenak, disponibilizando o acesso de centenas de imagens, textos, filmes e documentos em diversas línguas nativas. "Podemos fazer isso junto com todas as etnias que estão envolvidas no resgate linguístico”, propõe.
Aproveitando que a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) declarou a década 2022-2032 como a Década Internacional das Línguas Indígenas, a ideia também é convidar a Unesco para dar visibilidade à proposta. “Quando está na web, está no mundo, deixa de estar apenas no site. A ideia é priorizar a oralidade e não o texto. O que ameaça essas línguas é a ausência de falantes", observa Krenak.
Em março de 2023, Ailton foi empossado na Academia Mineira de Letras (AML) na Cadeira 24, sendo também a primeira vez que um indígena ocupa uma posição como essa na academia mineira. O evento também contou com a presença da presidenta da Funai, Joenia Wapichana.
Biografia
Ailton Alves Lacerda Krenak, do povo Krenak, nasceu em 1953 no município de Itabirinha (MG). Na juventude, Ailton foi morar com a família no Paraná, onde passou a exercer a profissão de jornalista e produtor gráfico. A partir da década de 1980, começa a atuar no movimento indígena. Em 1985, funda o Núcleo de Cultura Indígena, organização não-governamental dedicada a promover a cultura indígena. Em 1988, participa da fundação da União dos Povos Indígenas. No ano seguinte, participou da Aliança dos Povos da Floresta, movimento que visava a criação de reservas naturais na Amazônia.
É professor honoris causa pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e pela Universidade de Brasília (UnB). No ano de 2020, conquista o Prêmio Juca Pato de Intelectual do Ano concedido pela União Brasileira dos Escritores (UBE), pelo livro "Ideias para adiar o fim do mundo".
Livros
Traduzida para mais de 13 países, a obra de Ailton Krenak se divide entre os seguintes ensaios e coletâneas de entrevistas:
- Tembetá
- Lugares de Origem
- Futuro Ancestral
- O amanhã não está à venda
- Ideias para adiar o fim do mundo
- A vida não é útil
- O sistema e o antissistema: três ensaios, três mundos no mesmo mundo
Assessoria de Comunicação/Funai com informações da ABL