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Protagonismo feminino e experiências de mulheres indígenas são debatidos na III Marcha das Mulheres Indígenas
A Mesa Ocupar Espaços de Governo reuniu na terça-feira (12) mulheres indígenas que ocupam importantes cargos públicos para a política indigenista. O encontro ocorreu durante a III Marcha das Mulheres Indígenas, organizada pela Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA). Eliane Xunakalo Bakairi mediou o debate sobre as experiências vivenciadas pelas convidadas ao longo de suas respectivas trajetórias.
A secretária de Direitos Ambientais e Territoriais Indígenas do Ministério dos Povos Indígenas (MPI), Eunice Kerexu, lembrou que a Marcha das Mulheres Indígenas foi o local onde elas surgiram com uma nova proposta política para o Brasil. Eunice ressaltou que a conquista de um local de fala tem ocorrido com muita luta: “Estamos aqui para construirmos e mantermos esses espaços conquistados juntas”.
“Precisamos romper com a ideia de que o espaço do microfone é só para os homens. Não. O espaço do microfone é de todos e todas nós que queremos falar”, observou Juliana Alves, que hoje é secretária dos Povos Indígenas no Governo do Ceará.
Na sequência, Patrícia Pataxó, secretária dos Povos Indígenas no Governo da Bahia, abordou o papel dos povos indígenas na preservação e conservação ambiental para as futuras gerações, não apenas dos povos indígenas, mas de todos brasileiros. “Nós somos os guardiões do meio ambiente e de todos os biomas brasileiros”, destacou.
Do ponto de vista das políticas públicas, Rosilene Guajajara, que é secretária-adjunta dos Direitos dos Povos Indígenas no Governo do Maranhão, pontuou a importância da ocupação de cargos estratégicos por mulheres indígenas: “Esses espaços são importantes para garantir que as políticas públicas possam ser de fato implementadas dentro dos territórios indígenas. Para que nossos parentes tenham uma educação específica, diferenciada e de qualidade, para que nossos territórios sejam de fato protegidos e para que tenhamos uma saúde de qualidade”.
Nesse sentido, Jozileia Kaingang, representante da Secretaria de Articulação e Promoção de Direitos Indígenas do MPI, comentou que o ministério é onde as políticas públicas são pensadas e que elas “precisam ser construídas a partir de nossas vozes e nossos territórios”.
A presidenta da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joenia Wapichana, fez um resgate do gradativo processo de ocupação de espaços e funções públicas por indígenas, citando os exemplos dos agentes indígenas de saúde (AIS), agentes indígenas de saneamento (AISAN), professores, advogados, acadêmicos, até passarem a ocupar postos importantes na política. “Nós podemos fazer a diferença. Nós temos capacidade de fazer a nossa política indígena sem nos submeter a negociações de direitos, sem vender o nosso povo e sem descumprir os nossos compromissos. Nós temos plena capacidade e honra. As mulheres carregam isso, o seu compromisso, a sua sensatez, a sua solidariedade. É por isso que a gente faz diferença, inclusive na política”, incentivou Joenia.
Diante de tantas histórias e mulheres indígenas inspiradoras, a secretária de Gestão Ambiental e Territorial Indígena do MPI, Ceiça Pitaguary, sugeriu a edição de um livro sobre as vidas dessas mulheres: “Vamos escrever um livro das nossas mulheres. Vamos contar a história das nossas mulheres”.
A Mesa Ocupar Espaços de Governo contou também com uma participação internacional: Izbella Margarida Montiel, que é diretora-geral do Escritório de Coordenação dos Povos Indígenas e Territoriais do Ministério do Poder Popular dos Povos Indígenas da Venezuela. Ela compartilhou algumas experiências e arranjos da política indigenista em seu país, como leis sobre os direitos indígenas, formas de organização das comunidades, projetos produtivos e empreendedorismo para mulheres, educação intercultural bilíngue, e atendimento de saúde diferenciada em locais de difícil acesso. Izbella mencionou também que, no campo político, mulheres indígenas venezuelanas ocupam cargos de deputadas, prefeitas e governadoras. “Eu sei que sim, podemos”, exortou ela.
Assessoria de Comunicação/Funai