Notícias
Joenia Wapichana participa da posse do indígena Ailton Krenak na Academia Mineira de Letras
O indígena Ailton Krenak e a presidenta da Funai, Joenia Wapichana, na cerimônia da AML em Belo Horizonte (foto: divulgação)
A posse do ambientalista, escritor, poeta e filósofo, Ailton Krenak, na Academia Mineira de Letras (AML), contou com a presença da presidenta da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joenia Wapichana. "É a primeira vez que uma academia de Letras faz um reconhecimento a um escritor indígena, conhecido internacionalmente, e que também tem uma trajetória inspiradora e de extrema importância na vida dos povos originários. Principalmente no reconhecimento dos direitos territoriais", afirmou Joenia durante a cerimônia realizada em Belo Horizonte (MG), na última sexta-feira (3).
Ailton Krenak soube da nomeação para a cadeira número 24 da AML em junho de 2021, quando aconteceu a eleição. À época, o indígena disse ter ficado preocupado com a indicação. "O anúncio de que os integrantes da Academia Mineira de Letras estavam considerando internamente a possibilidade me acolherem aqui como um membro, em um primeiro momento me causou uma preocupação. Eu sou um ativista de movimentos sociais, não sou um acadêmico", ponderou.
No discurso de posse, Krenak falou sobre o confinamento a que seu povo foi submetido nas primeiras demarcações do século passado. "De onde que um menino que nasceu na década de cinquenta, cercado pela Vale do Rio Doce, podia sonhar com um território que não fosse uma fazenda? Quatro mil hectares a extensão da terra que o presidente da província de Minas Gerais, em 1923, arbitrou e assinou um decreto dizendo que os índios sobreviventes da bacia do Rio Doce iam fazer o favor de ficar naquela reserva enquanto [os brancos] ocupavam o entorno. Eles disseram isso para os nossos avós", contou Krenak.
Marco histórico
De acordo com o presidente da AML, Rogério Faria Tavares, a posse de Ailton Krenak na Academia é uma marca inédita para a cultura brasileira. "Esse momento é histórico. É um momento único e raro. Demorou 500 anos, mas chegou. É hora de o Brasil se encontrar com suas origens, com uma das matrizes formadora da sua cultura, da sua nacionalidade, da sua identidade. E essa matriz é uma matriz ofertada pela riqueza dos povos originários. O que fazemos hoje aqui é um ato de reverência, de homenagem à riqueza potente dos povos originários do Brasil", disse Tavares.
Integrante da AML, a escritora, professora e ensaísta, Maria Esther Maciel, também ressaltou a posse de Ailton Krenak na instituição literária. "Significa uma reviravolta, porque é o primeiro indígena a ocupar uma academia de Letras no Brasil. E os saberes ancestrais que ele vai trazer para nós, a experiência como ativista em defesa dos povos indígenas. A defesa da natureza. A poética que atravessa a sua existência e a sua obra. Tudo isso vai ser um grande presente para a Academia Mineira de Letras", pontuou Maria Esther.
Biografia
Ailton Alves Lacerda Krenak, do povo Krenak, nasceu em 1953 no município de Itabirinha, Minas Gerais. Na juventude, Ailton foi morar com a família no Paraná, onde passa a exercer a profissão de jornalista e produtor gráfico. A partir da década de 1980, passa a atuar no movimento indígena. Em 1985 funda o Núcleo de Cultura Indígena, organização não-governamental dedicada a promover a cultura indígena. Em 1988, participa da fundação da União dos Povos Indígenas. No ano seguinte, participou da Aliança dos Povos da Floresta, movimento que visava a criação de reservas naturais na Amazônia.
É professor honoris causa pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e pela Universidade de Brasília (UnB). No ano de 2020, conquista o Prêmio Juca Pato de Intelectual do Ano concedido pela União Brasileira dos Escritores (UBE), pelo livro "Ideias para adiar o fim do mundo".
Livros
Traduzida para mais de 13 países, a obra de Ailton Krenak se divide entre os seguintes ensaios e coletâneas de entrevistas:
- Tembetá
- Lugares de Origem
- Futuro Ancestral
- O amanhã não está à venda
- Ideias para adiar o fim do mundo
- A vida não é útil
- O sistema e o antissistema: três ensaios, três mundos no mesmo mundo
Assessoria de Comunicação / Funai, com informações da AML