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Museu do Índio empresta acervo para a exposição “Ensaios Para o Museu das Origens”
Foto: Acervo/MI
A exposição “Ensaios Para o Museu das Origens”, que o Itaú Cultural e o Instituto Tomie Ohtake vão realizar simultaneamente, de 9 de setembro a 28 de janeiro de 2024, em São Paulo, vai exibir 168 peças do acervo etnográfico do Museu do Índio (MI). De acordo com a equipe curadora, buscou-se, em cada instituição participante, um conjunto documental que mostrasse um gesto instituinte forte daquele espaço, com itens que contassem como se desenhou a vocação de cada um.
As peças selecionadas no MI retratam três momentos históricos distintos. Alguns artefatos selecionados pela curadoria remontam ao início dos anos 1950, quando o órgão foi criado. Há, ainda, itens da década de 1970 e dos anos 2000.
A proposta de criação do Museu das Origens data de 1978, quando um incêndio de grandes proporções atingiu o Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro. Na ocasião, o crítico de arte Mário Pedrosa se empenhou em reunir artistas e agentes culturais em prol da reconstrução do museu.
Dessa proposta inicial resultou a ideia de criar uma “instituição guarda-chuva”, que integraria cinco instituições: Museu de Arte Moderna; Museu do Índio; Museu do Inconsciente; Museu do Negro; Museu das Artes Populares. Surgia aí a ideia do Museu das Origens.
A proposta não se concretizou, mas hoje inspira um projeto de exposição, a realização de um seminário e uma publicação que visam colocar em diálogo mais de uma dezena de espaços de memória e patrimônio distribuídos pelo território nacional.
A mostra tem curadoria geral de Izabela Pucu e Paulo Miyada, curadoria adjunta de Ana Carolina Roman, e conta com Daiara Tukano e Thiago de Paula como curadores convidados.
As peças
No Instituto Tomie Ohtake, serão expostos 120 itens das etnias Karajá e Baniwa, e no Instituto Itaú Cultural, 47 peças Baniwa, como artefatos e placas com grafismos característicos do povo.
Entre as peças Karajá, destacam-se 79 cerâmicas figurativas, chamadas ritxoko na fala feminina da etnia. São retratos tridimensionais da cultura Karajá e fazem referência a cenas do cotidiano; momentos importantes da vida das mulheres, como o casamento e o parto; histórias e personagens sobrenaturais; fauna, além de eventos cerimoniais e rituais.
Os itens relativos aos anos 1950 integram a Coleção do Serviço de Proteção aos Índios (SPI), incluindo artefatos coletados pelo antropólogo Eduardo Galvão, na primeira expedição realizada pelo MI no Alto Rio Negro, em 1954.
Os objetos dos anos 1970 são cerâmicas Baniwa, época em que essa arte tradicional era mais disseminada na comunidade. As peças dessa coleção são complementadas com as coletadas em 2014 e 2020, por meio de projetos de pesquisa desenvolvidos no âmbito do Programa de Documentação de Culturas (ProDocult) coordenado pelo MI, numa cooperação técnica com a Unesco. Há também algumas amostras das ritxoko Karajá, que foram reconhecidas como patrimônio cultural do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em 2012.
A coleção de 2014, composta por placas de cerâmica com grafismos Baniwa, foi produzida por um grupo de ceramistas, após uma visita ao acervo etnográfico do museu. Depois de conhecer as peças que eram historicamente produzidas na região do Alto Rio Negro, no Amazonas, as artistas participaram de uma oficina para produção de uma nova coleção para o MI, dando origem a mais de 100 novas peças, entre elas algumas das placas emprestadas para a exposição. O projeto foi coordenado pelo pesquisador Thiago Oliveira.
Já as peças datadas de 2020 são resultado do trabalho de pesquisa "Arte e vida das mulheres Baniwa: uma visão de dentro pra fora", conduzido pela pesquisadora indígena Fran Baniwa. A maioria das peças são cerâmicas.
Para demonstrar o processo de transformação das peças cerâmicas características da etnia, entre os itens selecionados para a mostra está uma tigela que não foi submetida ao processo de queima e que tem um tom cinza com grafismos em amarelo. O objeto contrasta nitidamente com os demais itens coleção porque, após a queima, as cerâmicas tornam-se mais claras e os grafismos ganham um tom vermelho-alaranjado.
Fran classificou a iniciativa como umas das conquistas mais importantes para os 23 povos do Rio Negro, especialmente para o povo Baniwa, por ser a primeira vez que uma indígena coordenou um projeto para e com outras mulheres indígenas.
Assessoria de Comunicação/Funai
Com informações do Museu do Índio