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Homenagem
Funai homenageia os 40 anos de carreira de Artur Nobre Mendes
A Fundação Nacional dos Povos Indígenas homenageia, nesta sexta-feira (2), o antropólogo Artur Nobre Mendes por seus 40 anos de carreira, celebrados no dia 31 de maio, e por sua aposentadoria, publicada no dia 1º de junho. O servidor é uma referência para o indigenismo, que conquistou muitas vitórias com sua dedicação e esforço.
Atuando na Funai desde 31 de maio de 1983, Artur é bacharel em Sociologia com Especialização em Antropologia Cultural pela Universidade de Brasília (UNB) e possui especialização em Planejamento e Gestão Estratégicos no Setor Público pela Escola Nacional de Administração Pública (ENAP).
Além de ter sido presidente do órgão indigenista em dois momentos históricos distintos, 2002 e 2016, Artur foi chefe da Divisão de Delimitação de Terras Indígenas, coordenador de Projetos Especiais, diretor de Assuntos Fundiários, diretor de Promoção ao Desenvolvimento Sustentável e coordenador-geral de Gestão Estratégica, sua ocupação atual na gestão de Joenia Wapichana.
O antropólogo atuou em demarcações de terras indígenas emblemáticas como Raposa Serra do Sol, em Roraima; Krikati, no Maranhão; Tupiniquim, no Espírito Santo; Xucuru, em Pernambuco; e Marãiwatsédé, no Mato Grosso.
Atualmente, Artur é membro da Equipe de Trabalho de Apoio ao Censo Demográfico 2022, fruto de um Acordo de Cooperação Técnica entre a Funai e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e principal fonte de informação para a construção de políticas públicas para os povos indígenas. "Até antes do Censo 2010, as populações indígenas eram invisibilizadas", disse o antropólogo, que também participou do Censo 2010.
Na comemoração dos 50 anos de criação da Funai, em 2017, Artur recebeu a Medalha de Honra ao Mérito Indigenista por seu relevante trabalho em favor da proteção e promoção dos direitos dos povos indígenas brasileiros. À época, o antropólogo declarou que gostaria de "agradecer por todos esses anos que eu convivi com vocês, e espero ainda conviver. São vocês que me dão a força que eu preciso para cumprir com o meu dever. Relutei para aceitar essa medalha porque muitos a merecem, mas a dedico a todos os servidores e ex-servidores da casa que lutam por essa causa".
Artur também recebeu diversas outras homenagens, como o reconhecimento pela atuação em prol da Nação Waimiri Atroari, em 2003; pela atuação em prol da homologação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em 2005; um diploma de participação em ações indigenistas e ambientais desenvolvidas junto ao povo Awete Parakanã, em 2006; uma homenagem pelos 25 anos de apoio às atividades do Programa Waimiri Atroari, em 2014; dentre outros reconhecimentos.
Em 2016, Artur também compôs o Comitê Diretor do "Projeto de Salvaguarda do Patrimônio Linguístico e Cultural de Povos Indígenas Transfronteiriços e de Recente Contato na Região Amazônica". O Projeto de Salvaguarda, assinado em dezembro de 2015, é resultado do Acordo de Cooperação Técnica Internacional entre a Funai, a Agência Brasileira de Cooperação do Ministério das Relações Exteriores (ABC/MRE) e a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).
Em agosto de 2016, em que atuou como presidente substituto da Funai, Artur aprovou as conclusões e reconheceu os estudos de identificação e delimitação das terras indígenas Djaiko-Aty, Amba Porã e Ka'aguy Mirim, localizadas nos municípios de Miracatu e Pedro Toledo, estado de São Paulo, e de ocupação tradicional dos povos indígenas Guarani-Nhandeva, Guarani-Mbya, Tupi e Tupi-Guarani da região do Vale do Ribeira.
Desde 2016, Artur se posicionou contra o marco temporal, por meio do qual setores contrários aos direitos indígenas buscam inviabilizar a demarcação de terras. "Na Funai, não trabalhamos com o conceito de marco temporal e não aceitamos esse ponto de vista. Nossa interpretação das leis e do direito originário indígena não contempla o marco temporal. Não é nossa prática, nem nosso entendimento", afirmou à época.
Artur também foi figura atuante nas sessões de discussão sobre a Declaração Universal dos Direitos Indígenas, publicada em 2008 pela Organização das Nações Unidas (ONU), e que reconhece a importância do respeito para todos os povos, reafirmando o direito dos indígenas serem livres de toda forma de discriminação.
Sobre a situação emergencial do povo Yanomami, Artur relembrou que acompanhou a primeira grave crise ocorrida em 1992, também envolvendo o garimpo ilegal em condições semelhantes à atual. O antropólogo participou pessoalmente da prestação de socorro aos indígenas à época. “De uma perspectiva histórica, o Estado brasileiro não pode alegar que não sabia da crise humanitária na Terra Indígena Yanomami”, afirmou em reunião este ano.
Na década de 1990, Artur coordenou o Programa de Proteção das Populações e Terras Indígenas da Amazônia Legal (PPTAL), que se propunha a formular e a testar algumas experiências promovidas pelo governo brasileiro com a participação da sociedade civil e, a partir daí, gerar conhecimentos, políticas ou procedimentos que pudessem ser absorvidos e integrados às políticas públicas do Estado. “Embora seja mais conhecido pelo que tem contribuído na área de demarcação das terras indígenas, o PPTAL também busca oferecer contribuições para reformular e aperfeiçoar outras políticas públicas relacionadas à questão indígena”, afirmou Artur à época.
Além da questão fundiária, Artur participou de projetos que produziram resultados importantes na melhoria da condição de vida de povos indígenas específicos, com destaque para os Programas Parakanã e Waimiri Atroari. Deste último, o indigenista participou da implementação do Programa Waimiri Atroari (PWA), uma parceria entre a Funai e a Eletronorte, criado e idealizado pelo sertanista Porfírio de Carvalho, em 1988, que possibilitou que a comunidade Waimiri Atroari tivesse acesso a vários serviços sociais nas áreas de saúde, educação, etnodesenvolvimento, dentre outras. Para Artur, "O PWA é uma parceria bem-sucedida, que pode servir de exemplo para outros casos de interferência de empreendimentos em Terras Indígenas".
Ao ser questionado sobre sua atuação no órgão indigenista, Artur afirmou que nada do que realizou foi sozinho. “Não reivindico nenhum feito como meu. São conquistas dos povos indígenas, resultados da luta do movimento indígena por seus direitos. Dia 31 de maio, completo 40 anos de Funai e no dia 1º de junho devo me aposentar. A lembrança mais emocionante será olhar para trás depois desses 40 anos e concluir que eu tive a sorte de desenvolver um trabalho com um retorno social e uma relevância ambiental inquestionáveis, sem contar o privilégio de conviver com pessoas, indigenistas e indígenas, extremamente generosas e sábias.”
A presidenta da Funai, Joenia Wapichana, reconheceu a importância do antropólogo para o indigenismo brasileiro e relembrou fatos marcantes de sua atuação na Funai. "É muito importante esse reconhecimento e essa homenagem que o Artur recebe esse ano para marcar seus 40 anos de Funai, e também sua vida exemplar, que tem feito com que ele se torne uma referência no indigenismo. Isso mostra a pessoa que ele significa, não somente para a Funai, mas para os povos indígenas, que o têm como um servidor experiente, um líder na Funai, um sábio da profissão, um especialista no indigenismo e, acima de tudo, um ser humano que tem sensibilidade, responsabilidade, solidariedade e profissionalismo. Eu o conheci numa dessas atuações, na TI Raposa Serra do Sol, participando das discussões e das soluções. Acredito que, em todas as ações importantes da Funai nos últimos anos, o Artur esteve presente. Parabéns, Artur! Estamos juntos nessa luta", afirmou.
A aposentadoria e os 40 anos de carreira de Artur serão comemorados nesta sexta-feira (2), em uma homenagem realizada na sede da Funai, em Brasília. A seguir, alguns amigos que Artur fez ao longo de sua trajetória na Funai relembram histórias e deixam seu carinho ao antropólogo.
“Falar do Artur, para mim, é algo muito especial. Artur é um professor, uma inspiração, e a aposentadoria dele e seus 40 anos de serviço marcam uma era, na qual houve um compromisso inabalável dele com os direitos dos povos indígenas. Ele enfrentou muita coisa na Funai, desde antes da Constituição de 1988. Nesses últimos quatro anos de retrocesso, Artur esteve sempre sereno, sempre nobre, trabalhando e construindo possibilidades de atuação. Infelizmente, as próximas gerações podem não ter o privilégio de ter sua companhia no dia-a-dia do trabalho, como um colega e amigo. Nesse mundo, em que fui privilegiada entrando na Funai e podendo conviver com grandes antropólogos, ter o Artur como professor e inspiração é um privilégio inenarrável. O que eu aprendi, o que eu aprendo e o que sei que vou aprender devo muito a ele. Sua história deve ser registrada. Ele é guardião de várias histórias da Funai, da história de vida dele e de vários indigenistas que já partiram. Temos que reconhecer a importância ímpar de Artur na Funai.”
Maria Janete de Carvalho – Diretora de Proteção Territorial
“Artur marcou minha trajetória como indigenista! Sempre admirei muito o trabalho dele. Eu nem sei o que dizer. Ele é um profissional e uma pessoa incrível! Sempre muito atencioso com os indígenas e com os servidores. Fico feliz que, mesmo aposentando, ele continuará como coordenador na Funai. Eu ainda quero poder conviver e aprender com ele!”
Inayê Uliana Perez – Coordenação Regional de Roraima
“Artur é sinônimo de generosidade, sabedoria, dedicação e indigenismo. Além de um amigo querido e parceiro em trabalhos importantes, é uma grande inspiração para mim. Sua nobreza não está só no nome, é sua atitude diária. Ele é um dos responsáveis por minha permanência no indigenismo oficial de estado, lá naquele início de minha chegada, e por minha sobrevivência nos tempos terríveis que se seguiram a 2019. Tantas vezes sonhamos juntos com a mudança que viria, cultivando uma esperança viva e pulsante, que se renovava a cada encontro, no corredor, no café, na militância, no elevador, almoçando nossas marmitas, ou em salas de reuniões relevantes. A cada ‘causo’ contado, tirado do fundo do baú dessa mente que não esquece nada, muitas risadas e a certeza de que as dificuldades passam, ficam os aprendizados e a amizade. Artur é sempre Artur, simples e pronto para ajudar. Gratidão por tudo!”
Rute Pacheco - Chefe do Serviço Técnico de Ouvidoria e Ouvidora Substituta
“Na minha jornada pela Funai, tive a oportunidade de encontrar pessoas incríveis que contribuíram para o meu crescimento como pessoa e profissional, e o Artur foi uma dessas pessoas que, com sua gentileza, amizade e seu profissionalismo, esteve sempre ao meu lado. Ele acreditou no meu trabalho e, em 2008, me recebeu na sua equipe, num momento difícil e delicado pelo qual passei na Funai, quando tive de provar minha inocência num Processo Administrativo Disciplinar. O apoio dele foi determinante para que eu tivesse tempo e tranquilidade para trabalhar na Instituição e instruir minha defesa naquela época. Tudo foi revelado e fui inocentada. A vida é assim, altos e baixos, acertos e erros, alegria e dor, tudo faz parte da nossa caminhada e aprendizado. O que faz a diferença é a forma como percebemos cada coisa que nos acontece e o fato de termos pessoas assim, gentis, amigas e queridas ao nosso lado. Artur, sou muito grata por ter você na minha vida!”
Antonieta Barros de Oliveira – servidora da CGGE
“Baiano de nascimento, paraense de criação, brasiliense por opção, servidor público da Funai, o Artur é daquelas pessoas que Deus nos dá na vida para entendermos e praticarmos a paciência, a simplicidade, a compreensão, a renúncia, o entendimento da diversidade cultural, racial, gastronômica e especialmente respiratória. O amigo mais zen de todos e aquele serzinho que faz uma legião de fãs no trabalho fundarem uma Associação dentro da Funai, na década de 80: a AMAR - Associação das Mulheres que Amam o Artur. A Funai e todos nós sabemos a diferença que ele fez e faz com seu profissionalismo e conhecimento. Letrado, culto, fruto da sua família, que o ensinou a trilhar o estudo e a leitura, e que hoje, apesar da lei prever sua aposentadoria, a fundação e tampouco os indígenas podem abrir mão de sua competência e experiência. Amigo querido, chegou a data de se aposentar mas sua presença nessa nossa fundação é imprescindível. Felizes dos colegas que ainda desfrutam da leveza de sua presença e experiência. Parabéns, Artur, mas você ainda tem muito a fazer. Bem-vindo ao grupo dos aposentados que continuam na ativa e não envelhecem nunca. Amo você.”
Sheila Fernandes – servidora aposentada da Funai/Sede
“Conheço o Artur desde 1984 e logo me tornei seu amigo, coisa que tenho o privilégio de guardar a sete chaves, dentro do coração. Em relação à sua trajetória na Funai, o que vou destacar é o fato dele ter sido sempre claro e firme em seu posicionamento em defesa dos direitos indígenas. Estou me referindo à sua longa permanência no interior de Rondônia e do Acre, realizando trabalhos não programados pela direção da Funai, de identificação de Terras Indígenas; à coerência política e técnica na direção das unidades que tratam de assuntos fundiários, como o Departamento de Identificação e Delimitação e a Diretoria de Assuntos Fundiários. Na presidência da Funai, em 2002 e 2016, persistiu com os mesmos princípios que marcaram a sua história como antropólogo, indigenista e gestor. De todas as atividades que desenvolveu, parcialmente citadas, nada se compara àquelas por ele implementadas na coordenação do Projeto Integrado de Proteção às Populações e Terras Indígenas da Amazônia Legal (PPTAL), de 1995 a 2002. Com uma inesgotável e irritante paciência de um professor de yoga, colocou em prática mudanças inovadoras na política indigenista, contribuindo de forma decisiva para o desenho atual das terras indígenas na Amazônia. Sempre foi um importante aliado do Museu do Índio, entendendo, como poucos, o caráter singular de uma unidade museológica dentro de um órgão com as especificidades da FUNAI. Acredito que a longevidade do Artur no exercício dos principais cargos dirigentes da fundação está relacionada ao seu temperamento amigável e à compreensão de que aqueles que trabalham na Funai devem tomar partido, em favor dos indígenas. E, para concluir, aproveitando a oportunidade que o momento me proporciona, gostaria de mais uma vez citar o poeta, expressando com carinho que, ‘se todos fossem como você, que maravilha seria viver’.”
José Carlos Levinho – Servidor aposentado e ex-diretor do Museu do Índio
"Querido Artur, fica difícil verbalizar tal a sua grandeza de caráter e lealdade à profissão. Fico feliz de tê-lo como amigo. Já no nome levas a “nobreza” de pessoa que és. Te desejo boa aventurança pela vida que há de seguir. Forte e fraterno abraço."
Mário Vilela - Ex-fotógrafo da Funai
"Quando entrei na Funai, em 2010, Artur foi meu primeiro chefe. Junto com toda a equipe da CGGE, me recebeu muito bem e já me jogou no fogo pra conhecer e colaborar com a revisão do Relatório de Gestão daquele ano. Foi dureza, mas uma aula e tanto de Funai e de burocracia, que influenciou positivamente meu aprendizado e minha trajetória no trabalho. Mas, além do lado profissional, devo a ele e a minha coordenadora da época o incentivo pra concluir meu curso superior. Entrei nova no cargo de Agente em Indigenismo e ainda cursava jornalismo na UnB, que tinha uma grade horária difícil de cumprir. Graças ao seu suporte, pude conciliar meu trabalho e minha vida acadêmica. Sou feliz por ter cruzado o caminho de Artur, que é uma dessas pessoas admiráveis que fazem da Funai um espaço de grandes e bonitas relações!"
Lorena Soares - coordenadora de Auditoria
"Caro companheiro Artur, como amigo e como Presidente da Associação Nocional dos Servidores da Funai (Ansef), neste momento que você encerra uma fase da sua vida pessoal e profissional, manifestamos o nosso reconhecimento e parabenizamos a sua admirável trajetória no órgão indigenista. Da nossa convivência de quase quarenta anos na Funai, o que nos deixa como legado é seu exemplo de dedicação, compromisso à causa e companheirismo. Um guerreiro que sempre usou como arma a serenidade, o equilíbrio e o diálogo, qualidades que fizeram conquistar a admiração de todos os seus colegas da Funai e dos indígenas".
Wagner Sena - CGETNO
Ana Carolina Aleixo Lima - Servidora da Assessoria de Comunicação, e mais uma amiga e admiradora de Artur