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Cineasta Takumã Kuikuro fala sobre importância da documentação para preservação da cultura tradicional
No dia 21 de agosto, o cineasta Takumã Kuikuro deu a primeira aula da oficina online "Narrativa Audiovisual: Ponto de vista Coletivo Kuikuro de Cinema". A atividade é promovida pelo Centro Audiovisual do Museu do Índio (CAud-MI), localizado em Goiânia - GO.
Takumã falou sobre a trajetória que o levou a se tornar um cineasta. Disse que sua primeira motivação foi documentar a vida na aldeia. “Hoje, temos acesso a muita tecnologia e muitos têm se desinteressado em aprender sobre sua cultura e língua tradicionais, atraídos pelas novidades da sociedade não indígena, porque a influência do branco é muito forte nas aldeias. Filmar é uma forma de registrar e valorizar nossa cultura tradicional”, conta.
De acordo com ele, o audiovisual ajuda a mostrar o que está ocorrendo nas aldeias, a contar uma história e criar uma narrativa sob o olhar do indígena, e não mais pelo olhar do branco. “O audiovisual é uma ferramenta de estudo, de resgate de cultura”, destaca.
Ele lembrou que os anciãos Kuikuro costumavam estimular os jovens a irem para as cidades, para estudar e voltarem às aldeias capacitados para defender os direitos de seu povo. Mas que, ao retornar, muitos desses jovens acabavam disseminando práticas e costumes dos não indígenas. Por isso, enfatiza, é preciso fortalecer a cultura, registrar os rituais, os saberes tradicionais, e o audiovisual é um instrumento para isso.
Os primeiros registros audiovisuais feitos por Takumã foram com os mestres cantores e narradores de sua aldeia. Para recriar as práticas tradicionais, os mestres Kuikuros se pintavam, colocavam os adornos típicos e eram filmados em ambientes familiares. O cineasta explica que o objetivo era deixar os narradores à vontade para contar suas histórias. Depois de editados, os vídeos eram exibidos para toda a comunidade.
Posteriormente, ele participou do projeto Vídeo nas Aldeias, que forma jovens cineastas indígenas e é coordenado pelo indigenista e documentarista franco-brasileiro Vincent Carelli. Nesse momento, Takumã adquiriu mais conhecimentos técnicos.
Hoje, ele é reconhecido nacional e internacionalmente pelos seus filmes, tendo sido premiado em vários festivais, como os de Gramado, de Brasília, do Cinema Brasileiro, da Jornada Internacional de Cinema da Bahia, do Festival de Filmes Documentário Etnográfico e do Presence Autochtone de Terres.
Em 2022, Takumã Kuikuro realizou, em Brasília, o Primeiro Festival de Cinema e Cultura Indígena. O objetivo foi estimular a produção audiovisual e artística de realizadores indígenas e filmes de temática indígena.
A oficina "Narrativa Audiovisual: Ponto de vista Coletivo Kuikuro de Cinema" é gratuita e voltada para realizadores indígenas. Ao longo dos encontros serão abordados temas como etnomídia, a importância da filmagem como registro etnográfico, além de aspectos técnicos e práticos do audiovisual. Excepcionalmente, as inscrições para oficina podem ser feitas até o dia 28 de agosto. Inscreva-se aqui, preenchendo o formulário.
Sobre Takumã
Takumã Kuikuro é fundador do Coletivo Kuikuro de Cinema e presidente do Instituto da Família do Alto Xingu (IFAX). Atualmente, vive na aldeia de Ipatse, no Território Indígena Xingu (MT).
Sua formação técnica contempla estudos realizados no Instituto Brasileiro de Audiovisual – Escola de Cinema Darcy Ribeiro, no Rio de Janeiro, e projeto Vídeo nas Aldeias (VNA). Em 2017, recebeu o prêmio honorário “Bolsista da Queen Mary University London”. E foi, em 2019, o primeiro jurado indígena do Festival de Cinema Brasileiro de Brasília.
O cineasta tem vários filmes premiados. O último deles é “A Febre da Mata”, vencedor do Prêmio do Público na categoria curta-metragem da 12ª Mostra Ecofalante de Cinema. O curta denuncia as queimadas na Amazônia, mostrando o fogo invadindo a floresta e os animais fugindo em busca de abrigo.