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AgroBrasília 2022: Indígenas Haliti-Paresi ressaltam apoio da Funai ao desenvolvimento sustentável nas aldeias
Indígenas da etnia Haliti-Paresi ressaltam apoio da Funai ao desenvolvimento sustentável nas aldeias. Foto: Mário Vilela/Funai
Lideranças da etnia Haliti-Paresi compareceram nesta semana à “AgroBrasília 2022: Feira de Tecnologia e Negócios do Agro” para compartilhar experiências sobre a produção sustentável desenvolvida na Terra Indígena Utiariti, no Mato Grosso. Na ocasião, eles agradeceram o apoio da Fundação Nacional do Índio (Funai), que em uma iniciativa inédita promove a participação de agricultores indígenas no evento, que segue até sábado (21) em Brasília.
Para o cacique Rony Azoinace, a Funai apoia os indígenas na reconstrução de sua própria história. “Graças à Nova Funai, que hoje propicia e inova sua política, os indígenas conseguem avançar em diferentes áreas de atuação e isso contempla muitas etnias. A Funai respalda o nosso trabalho, pois vê que é uma iniciativa construída com participação coletiva, com respeito à diversidade e ao meio ambiente”, afirma o cacique da Aldeia Wazare.
De acordo com a liderança Ronaldo Zukezumaeke, estar em Brasília em um evento nacional do agronegócio era algo inimaginável para os indígenas até então. “Há 18 anos a gente vinha até Brasília para pedir para a Funai o direito de trabalhar, de produzir. Hoje, voltamos a Brasília para prestar contas desse trabalho que hoje é amplamente apoiado pelo Governo Federal através da Funai. Por isso, hoje agradecemos a Funai, pois a anuência que recebemos para realizar esse trabalho possibilita que hoje os Haliti-Paresi estejam aqui apresentando o resultado dessa iniciativa”, pontua Ronaldo.
O presidente da Associação Waymare, Paulo Zenazokemae, afirma que o sucesso do trabalho desenvolvido pelos Paresi no Mato Grosso é resultado do esforço coletivo entre as associações, cooperativas e a Funai. “Temos a Funai dentro da nossa comunidade, eles lutam pelas causas indígenas ao nosso lado, por isso só temos a agradecer a parceria do Governo, pois com esse apoio constante nós conseguimos dar andamento aos nossos projetos e qualificar o serviço desenvolvido pelas associações e cooperativas”, afirma Zenazokemae.
Para o presidente da Associação Halitinã, Aristides Onezokemae, a participação dos indígenas na AgroBrasília também ajuda a divulgar a cultura tradicional da etnia à população. “Além de mostrar o trabalho agrícola que hoje desenvolvemos, também temos a oportunidade de apresentar a cultura Haliti-Paresi para pessoas que ainda não conhecem. E a Funai sempre é a nossa parceira, nos ajuda a organizar as cooperativas, e orienta sobre como avançar nos nossos projetos. Só temos a agradecer”, ressalta.
Segundo Arnaldo Zunizakae, um dos expoentes da etnia Haliti-Paresi, o sentimento é de gratidão. “A Funai possibilita hoje uma nova modalidade de trabalho, no sentido de dar oportunidade aos índios de exporem sua opinião, suas ideias, suas vontades. A Funai não impõe, ela dá oportunidade e ouve o que de fato o indígena quer, seja no trabalho agrícola, no turismo, nos projetos dentro das aldeias. Aqui na AgroBrasília a gente consegue trocar experiências e apresentar à população o formato do trabalho que desenvolvemos. Isso é muito bacana”, destaca Arnaldo.
Já Genilson Kezomae ressalta a necessidade de promover mudanças de opinião e pensamento sobre a liberdade do indígena em decidir o seu próprio caminho. “A Funai está se atualizando sobre como é o índio da atualidade. E a partir do momento que ela abre espaço para diferentes etnias do Brasil virem até a AgroBrasília para mostrar quem eles realmente são e o que querem para suas vidas, isso é promover a justiça social. Agradecemos a Funai por isso, pois esse tipo de iniciativa promove a inserção social de todos os indígenas que buscam caminhos diferentes para suas comunidades”, explica Genilson.
Para o engenheiro agrônomo da Coopiparesi, Lúcio Avelino, a iniciativa da Funai é um incentivo para que os indígenas apresentem o trabalho desenvolvido por eles nas suas aldeias. “A Funai é uma grande parceira, que ajuda os indígenas que querem desenvolver formatos de trabalho diferentes. Isso ajuda a quebrar barreiras, seja com o trabalho no campo ou em outras áreas”, afirma Lúcio.
Participação do presidente da Funai
O presidente da Funai, Marcelo Xavier, esteve presente na feira na terça-feira (17). Na ocasião, Xavier percorreu as dependências da AgroBrasília 2022 e visitou os estandes das etnias participantes, prestigiando os itens produzidos pelos indígenas em aldeias de diferentes regiões do país. Produtores de etnias como Paiter Suruí, Kaingang, Guajajara, Haliti-Paresi, Xavante, Cinta Larga e Tapuia participam do evento. Para o presidente da Funai, a iniciativa é um incentivo da fundação à autonomia das populações indígenas por meio do etnodesenvolvimento e da produção sustentável.
"Temos acompanhado o surgimento e consolidação de inúmeras atividades exitosas, cujo retorno para as comunidades é extremamente relevante. Com total respeito à autonomia dos indígenas, queremos seguir contribuindo para que eles conquistem novos mercados e alcancem independência econômica, sempre com respeito aos usos, costumes e tradições de cada etnia", pontua Xavier, que esteve acompanhado no evento de sua esposa, Jucilene Rodrigues.
O presidente da Funai também prestigiou uma apresentação de dança tradicional Haliti-Paresi e parabenizou todos as etnias pelos trabalhos apresentados, ressaltando que, em toda a história da AgroBrasília, essa é a primeira vez que indígenas participam como expositores. “Essa conquista representa uma enorme quebra de paradigmas, pois mostra que os indígenas querem e podem produzir, sendo perfeitamente possível aliar desenvolvimento econômico sustentável com a manutenção da cultura, levando dignidade e melhores condições de vida às aldeias. E reforço: quem tem que dizer o que verdadeiramente quer para as comunidades são os próprios indígenas”, destacou Xavier.
Durante a feira, os indígenas poderão ainda comercializar seus produtos como café, castanha, farinha de mandioca e itens de artesanato e adereços. Além da exposição, eles terão acesso a palestras, cursos e debates sobre o agronegócio e agricultura familiar, além de poder realizar intercâmbio de conhecimentos e experiências com outros expositores e ficar por dentro das últimas tecnologias desenvolvidas para o campo.
A participação dos indígenas na AgroBrasília 2022 foi viabilizada pela Diretoria de Promoção ao Desenvolvimento Sustentável (DPDS) da Funai, por meio da Coordenação-Geral de Promoção ao Etnodesenvolvimento, cujo coordenador, Denis Raimundo de Quadros Soares, também compareceu ao evento e acompanhou a exposição dos produtos indígenas.
Etnodesenvolvimento nas aldeias
Nos últimos anos, a Funai investiu aproximadamente R$ 30 milhões em projetos voltados à geração de renda nas aldeias. Os recursos foram destinados para diversas ações que visam a autossuficiência, como a aquisição de materiais de pesca, sementes, mudas, insumos, ferramentas, maquinário agrícola, apoio para o escoamento da produção e realização de cursos de capacitação para os indígenas.
Entre os projetos que contam com o apoio da Funai e que têm apresentado resultados expressivos na transformação da realidade das comunidades indígenas estão a produção de grãos da etnia Paresi no Mato Grosso, a colheita de castanha dos Cinta Larga em Rondônia, a produção de camarão da etnia Potiguara na Paraíba e a produção artesanal dos indígenas Guarani no Sul do país.
Exemplo de produção no Mato Grosso
As lavouras cultivadas pelos Haliti-Paresi, Nambikwara e Manoki, no Mato Grosso, ocupam quase 20 mil hectares de um total de 1,3 milhão de hectares – ou seja, apenas 1,7% da área indígena é usada na atividade agrícola. O plantio ocorre em locais já antropizados, sendo um exemplo bem-sucedido de etnodesenvolvimento na Região Centro Oeste. A produção de grãos como soja, milho e feijão movimenta cerca de R$ 140 milhões ao ano.
Projeto Independência Indígena
Por meio do projeto Independência Indígena, a cooperativa Xavante Cooigraandesan busca incentivar a produção sustentável em comunidades indígenas do Mato Grosso. Nas diversas ações, o projeto disponibiliza ferramentas e maquinários utilizados no plantio e colheita do arroz, bem como promove a capacitação de indígenas na operação de tratores e práticas de cultivo, beneficiando 57 aldeias.
Na última safra, os indígenas colheram cerca de 50 hectares de arroz. A intenção é plantar também, num futuro próximo, soja e milho em uma pequena área da Terra Indígena. O projeto Independência Indígena é uma parceria entre diferentes instituições como a Funai, o Governo do Mato Grosso, o Sindicato Rural de Primavera do Leste e a Cooigrandesan, e conta com o apoio de dezenas de caciques da região.
Produção de café e castanha se consolida em Rondônia
A produção de café se consolidou com uma das principais atividades produtivas das comunidades indígenas em Rondônia. Desde 2018 a produção de café indígena é vendida para o grupo 3Corações, por meio de acordo que prevê o aumento da produtividade com foco na qualidade do café especial sustentável. A unidade descentralizada da Funai em Cacoal apoia os cafeicultores indígenas ainda por meio da logística do transporte da produção e o fornecimento de materiais como sacarias, lonas e peneiras utilizados na colheita do grão.
Além do café, a coleta e o beneficiamento da castanha-da-Amazônia geram emprego para cerca de 280 famílias indígenas que garantem sua renda com a comercialização do produto para os estados de São Paulo, Santa Catarina e Goiás, além dos municípios de Rondônia.
Sobre a AgroBrasília
A AgroBrasília é uma feira de tecnologia e negócios voltada para empreendedores rurais de diversos portes e segmentos. Realizada pela Cooperativa Agropecuária da Região do Distrito Federal (COOPA-DF), serve como vitrine de novas tecnologias para o agronegócio e tem um cenário de referência em debates, palestras e cursos sobre diversos temas relacionados ao próprio setor produtivo. A 14° AgroBrasília ocorre de 17 a 21 de maio, com expectativa de receber de 90 a 120 mil visitantes nos cinco dias de programação da Feira. Confira a programação completa aqui .
Assessoria de Comunicação/Funai