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Cultura: Mitos e cosmologias compõem aspectos importantes das tradições indígenas
As cosmologias das populações indígenas representam modelos complexos que expressam suas concepções a respeito da origem do Universo e de todas as coisas existentes. Já os mitos, considerados individualmente, descrevem aspectos como a origem do ser humano, as relações ecológicas entre o homem, animais, plantas e outros elementos da natureza, bem como a razão de ser de certas relações sociais culturalmente importantes.
Cada etnia elabora suas próprias explicações a respeito do mundo, dos fenômenos da natureza, dos espíritos, dos seres sobrenaturais e, também, do momento em que surgiram os seus ancestrais. Para muitas comunidades, o cosmos está ordenado em diversas camadas, onde se encontram divindades, fenômenos atmosféricos e geográficos, animais e plantas, montanhas, rios, espíritos de pessoas e animais, ancestrais humanos, além de entes sobrenaturais benévolos e malévolos.
Para indígenas da etnia Arara, do estado do Pará, por exemplo, quando essa vida ainda não havia começado, existiam somente o céu e a água, separados por uma pequena casca que recobria o céu e servia de assoalho a seus habitantes. Na casca celeste a vida era plena, pois havia de tudo para todos. A boa humanidade, protegida pela divindade Akuanduba, vivia conforme as coisas básicas da vida: acordar, comer, beber, namorar, dormir.
Se alguém cometesse algum excesso, contrariando as normas, a divindade fazia soar uma pequena flauta, chamando a atenção de todos para que se comportassem de acordo com a boa ordem. Fora da casca do céu, existiam coisas ruins, seres atrozes e espíritos maléficos, contra os quais a boa humanidade estava protegida por Akuanduba.
Houve um dia, no entanto, que ocorreu uma enorme briga local. A divindade fez soar a flauta, mas a multidão teimosa não quis parar de brigar. Nessa confusão, a casca do céu se rompeu, lançando tudo e todos para longe, para dentro da água que envolvia a casca. Com a queda, todos os velhos e crianças morreram, restando apenas uns poucos homens e mulheres.
Dos sobreviventes, alguns foram levados de volta ao céu por pássaros amazônicos, onde se transformaram em estrelas. Os que ficaram foram abandonados pelos pássaros nos pedaços da casca do céu que caíram sobre as águas. Assim, surgiram os Araras que, para se manter afastados das águas, escolheram ocupar o interior da floresta.
Até hoje, os Arara assobiam chamando as araras que voam sobre a floresta. Quando pousam no alto das árvores, as aves, por sua vez, observam os indígenas e, ao notarem o quanto eles cresceram, desistem de levá-los de volta ao céu. Aqui, embaixo, já foram deixados outras vezes e aqui deverão permanecer.
Os Arara, que antes viviam como estrelas, estão agora condenados a viver como gente, tendo que perseguir o alimento de cada dia em meio aos perigos que existem sobre o chão.
Assessoria de Comunicação/Funai
com informações do Museu do Índio