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Time de futsal de meninas indígenas do Tocantins participa dos Jogos Escolares Brasileiros 2021
Fotos: Ronaldo Caldas/Min. da Cidadania
O sorriso inocente, na maior parte das vezes tímido, de Darcyara Dias Chavito Apinajé, reflete um roteiro de descobertas que representa a síntese do que os Jogos Escolares Brasileiros (JEB’s) 2021, disputados no Rio de Janeiro, podem proporcionar. Em uma cidade tão cosmopolita, acostumada a idiomas dos mais diversos países, as palavras “ambrí jãm Béti” (em grafia livre) soam como língua indecifrável de alguma nação distante.
Incompreensíveis para a maioria dos brasileiros, a expressão quer dizer “oi, tudo bem?”. É uma saudação cotidiana na língua Apinajé, idioma nativo da comunidade indígena de mesmo nome e que vive no estado do Tocantins, em uma região limitada pelas bacias dos rios Mosquito (no divisor de águas do Tocantins) e São Bento (no Araguaia).
E foi de lá, da Escola Indígena Mãtyk, no município de Tocantinópolis, a cerca de 550 quilômetros da capital Palmas, que o time de futsal feminino de Tocantins veio para a disputa dos JEB’s. A jovem Dacyara, de 14 anos, é a capitã da equipe. O futsal é o núcleo da história que trouxe as meninas ao Rio de Janeiro. Diante de tudo o que elas já experimentaram nos últimos dias, mais do que uma competição esportiva, os JEB’s abriram portas de um novo mundo para as 11 integrantes da equipe feminina indígena.
No céu
Desde o início, a história toda foi marcada por surpresas. Acostumadas a treinar em quadra de terra batida, as indígenas aceitaram o desafio de jogar futsal após o incentivo e a orientação do professor Ataídes Jesus de Sousa. “Desde 2015 que trabalho com a escola indígena. Com essas meninas a gente começou o treinamento neste ano. Então, temos basicamente três meses de treinamento. A gente tem um pouco de dificuldade em função de não ter um local específico voltado para o treino de futsal. Então, a gente joga mais o futebol do que o futsal”, explica Ataídes.
A vaga das estudantes indígenas para os JEB’s veio nos Jogos Estudantis de Tocantins (JETS). Segundo o professor, desde que elas souberam que foram classificadas para os JEB’s, a vida das meninas mudou. “A alegria delas foi imediata. A gente viu o brilho nos olhos quando eu falei: ‘Agora, a gente vai para o Rio e de avião!’, elas gritaram e comemoraram”, lembra Ataídes. “Elas têm muita força de vontade, porque algumas não saem nem da comunidade. Quando saem é apenas para ir à quadra de treino e da quadra para a aldeia. Elas não têm esse costume de estar viajando, ainda mais de avião”, conta Ataídes.
Tão tímida quanto a amiga Darcyara e todas as outras companheiras de time, Karla Apinajé, 13 anos, resumiu em poucas palavras o que os JEB’s já significam. “Viajar de avião me deixou um pouco com medo no começo. Mas, quando vi, lá de cima, o Rio de Janeiro lá embaixo, eu fiquei contente. Estou feliz por ter conhecido o Rio. Ter vindo para cá jogar futsal foi um sonho que a gente realizou”, disse a jogadora.
A nova “casa”
Ao chegarem no Rio de Janeiro elas foram hospedadas no Rio Othon Palace, em Copacabana, edifício de 30 andares de frente para a praia. “Elas ficaram um pouco intimidadas quando viram a altura. O hotel que a gente ficou em Palmas, durante a seletiva dos JEB’s, era de três andares. E elas já acharam grande”, recorda Ataídes. “Nunca dormi em um quarto com tanto luxo. Ele é muito grande. Eu gostei de toda a coisa”, reforça Darcyara, habituada a falar mais o Apinajé do que o português, e que ainda encontra dificuldade em se expressar no idioma oficial do Brasil.
No mar
Nenhuma das indígenas jamais tinha visto o mar de perto. O contato representa outro capítulo especial da viagem. “Estava gelado. É muito grande e lindo. Eu achei legal. Nunca vi pessoas na nossa aldeia banhando assim. Eu já falei com a minha mãe e ela falou para eu tirar fotos e mandar para ela”, conta Darcyara, resumindo um sentimento comum a todas as companheiras.
Gols e vitórias
A classificação, a viagem, a hospedagem e o mar certamente ocupam lugar de destaque nas vitórias pessoais que as meninas da Escola Indígena Mãtyk já conquistaram. E dentro de quadra, as guerreiras Apinajés têm brilhado nos JEB’s. No primeiro jogo, contra o Piauí, a vitória veio por 2 x 1. No segundo confronto, contra o Amapá, aplicaram uma goleada de 12 x 0, resultado que impressionou até a capitã de Tocantins.
“Foi difícil chegar aqui porque na nossa aldeia não tem quadra, na nossa escola não tem quadra. A gente treina na cidade, no ginásio. Eu não esperava isso. Eu achava que a gente ia perder de 20 x 0. Mas a gente ganhou o primeiro jogo e o segundo. Foi muito legal!”, comemora Darcyara.
"Gostinho de quero mais"
No terceiro jogo, as meninas Apinajés perderam para o time do Ceará. Mas o revés não encerra o sonho de subir ao pódio. Ainda com chances de uma medalha, elas já são campeãs, seja qual for o resultado. “Um evento desses tem magnitude muito grande. Junta tantas culturas, tanta gente em um lugar só. E todo mundo com o intuito de participar”, prossegue. Para o treinador, um dos efeitos da passagem pelo megaevento escolar é despertar nelas o interesse de seguir na escola, nos treinos e participar de outros torneios. “Agora que já viveram tudo isso, com certeza vão querer voltar”, conclui Ataídes.
com informações do Ministério da Cidadania