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Comitiva da Funai participa de ritual do Kuarup no Parque do Xingu
Fotos: Débora Schuch/Funai
Uma comitiva da Fundação Nacional do Índio (Funai), liderada pelo presidente Marcelo Xavier, participou no sábado (28), na Aldeia Ipawu Kamayurá, do ritual fúnebre sagrado denominado Kuarup, que mantém viva a cultura e a tradição de diversas etnias do Parque do Xingu (MT). O evento, promovido por indígenas Kamayurá, também recebeu 8 etnias convidadas: Kalapalo, Kuikuro, Matipu, Nafukua, Yawalapiti, Waurá, Mehinako e Aweti.
Xavier foi recepcionado pelo cacique Kotok Kamayurá e assistiu a diversos rituais do Kuarup. O presidente da Funai foi acompanhado pelo diretor de Promoção ao Desenvolvimento Sustentável, Cleber Abreu Borges; pelo diretor de Administração e Gestão substituto, Paulo Henrique de Andrade Pinto; e pela coordenadora de Proteção Social, Natália Dias. A esposa do presidente, Jucilene Rodrigues, apoiou os trabalhos de forma voluntária.
“Com observância a todos os protocolos de saúde necessários, a Funai está participando desse festival de cultura que se desenvolve aqui na aldeia anualmente. É um ritual muito bonito e importante para a comunidade. Fico muito honrado de poder estar com os indígenas nessa grande festividade”, comentou o presidente Marcelo Xavier, que destacou ainda o incentivo da Nova Funai ao protagonismo indígena.
O cacique Kotok Kamayurá falou sobre o evento e agradeceu o apoio da fundação. “É uma honra poder receber a Funai aqui na aldeia, que nos deu apoio para a realização do nosso ritual. No Kuarup prestamos uma homenagem àqueles que morreram. O ritual marca o encerramento do luto de um ano das famílias que perderam seus parentes”, ressaltou o cacique.
“O Kuarup é um ritual fúnebre que homenageia os entes queridos que nos deixaram e agora estão na paz celestial, no mundo das almas. O apoio institucional da Funai é de grande importância para que a gente possa perpetuar e fortalecer essa grande festa sagrada para nós. Agradeço ainda a presença do presidente Marcelo Xavier, que veio prestigiar nossa cerimônia”, destacou a liderança Marcello Kamayurá.
A fundação deu suporte ao evento, fornecendo recursos para combustível, linhas de pesca, ornamentação e gêneros alimentícios. O apoio se deu por meio da Coordenação de Gênero, Assuntos Geracionais e Participação Social (Cogen), que integra a Diretoria de Promoção ao Desenvolvimento Sustentável (DPDS).
Pela Funai, também estiveram presentes o chefe da Coordenação Regional da Funai no Xingu, Gleiky Jhone da Silva Magalhães, a coordenadora de Gênero, Assuntos Geracionais e Participação Social, Maria Aureni Gonzaga da Silva, e o servidor Otávio Moura, da Coordenação-Geral de Promoção da Cidadania (CGPC).
O ritual
O Kuarup ocorre sempre um ano após a morte dos parentes indígenas. Os troncos de madeira representam cada homenageado falecido. Eles são colocados no centro do pátio da aldeia, ornamentados, como ponto principal de todo o ritual. Em torno deles, as famílias realizam uma homenagem aos mortos.
No primeiro dia de evento, os indígenas realizaram as tradicionais pinturas dos troncos e também dos familiares que estão de luto. Ainda na parte da manhã, ocorreu a dança dos guerreiros e a Dança Uruá, em que dois indígenas percorreram as casas da aldeia tocando a flauta uruá, que dá nome ao rito.
Durante a tarde e até o final do dia, foi entoado o canto sagrado Kuarup Maraka. Na ocasião, houve uma recepção solene das etnias convidadas e a condução dos enlutados para perto dos troncos Kuarup.
No segundo dia de evento, os convidados puderam apreciar a tradicional luta chamada Huka Huka. A preparação da modalidade iniciou-se na noite anterior, em que os guerreiros se prepararam, se arranhando com dente de um peixe da espécie "cachorro", passando ervas em toda pele e pintando seus corpos e cabelo com jenipapo e urucum. Tudo isso com um objetivo: enfrentar seus adversários e, assim, ganhar a luta.
Durante o Huka Huka, os guerreiros jovens se enfrentaram com o objetivo de tocar a coxa do adversário ou derrubá-lo, segurando a sua perna. Quem consegue isso primeiro, ganha. Ao final da luta, os ornamentos colocados nos troncos no dia anterior foram retirados e entregues às famílias dos mortos homenageados. Em seguida, os troncos foram atirados na Lagoa Ipavu, para que a alma deles seja liberta.
Após os combates, iniciou-se o cerimonial de meninas moças. Nessa parte da festa, meninas que, até então, estavam em reclusão pubertária pelo período de um ano, foram direcionadas aos chefes das aldeias convidadas e ofereceram a eles castanhas de pequi. As longas franjas de cabelo, que cobriam todo rosto, foram cortadas um pouco acima dos olhos. A partir daí, em comum acordo com os parentes e, caso se interessem, podem constituir matrimônio.
Ao final do evento, foram entregues peixes às etnias convidadas pelas famílias que estão de luto, de acordo com a tradição e como forma de agradecimento. O Kuarup é de suma importância para os indígenas do Xingu, pois ele promove e reforça as relações internas da comunidade; estabelece e fortalece as crenças com aqueles que se foram; e constrói uma imagem e reconhecimento externo, dando maior visibilidade à cultura indígena.
Assessoria de Comunicação/Funai