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Com apoio da Funai, indígenas do Paraná recebem capacitação para operação e manutenção de tratores agrícolas
Foto: Divulgação
No Paraná, indígenas das etnias Kaingang e Guarani participaram de um curso para operação e manutenção de tratores agrícolas. O treinamento foi ministrado pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural do Paraná (Senar-PR) e contou com o apoio da Fundação Nacional do Índio (Funai), por meio da unidade descentralizada do órgão localizada no município de Guarapuava (PR).
O curso contemplou a Terra Indígena Rio das Cobras, sendo que outras capacitações também vêm ocorrendo em diferentes áreas Indígenas do Paraná. Essas ações contribuem para a autonomia e o etnodesenvolvimento das populações indígenas do estado. Também foram realizados cursos do Senar-PR nas Terras Indígenas Ivaí (município de Manoel Ribas) e Faxinal (Cândido de Abreu). A estratégia vai ao encontro de uma nova visão da Funai, que também vem sendo replicada em outros estados brasileiros.
“O objetivo é qualificar os indígenas para que possam trabalhar nas lavouras sem depender tanto de parcerias externas, agregando maior retorno financeiro e, assim, podendo gerar mais recursos para as famílias e a comunidade”, explica o chefe do Serviço de Gestão Ambiental e Territorial (Segat) da Coordenação Regional (CR) da Funai em Guarapuava, Alvaci Jesus Salles Ribeiro.
Além de operação e manutenção de tratores e plantadeiras, também foram realizados cursos nas áreas e aplicação de agroquímicos e gestão rural. “Propusemos este curso para que os indígenas e também os servidores da Funai obtivessem mais conhecimento na área administrativa e contábil sobre noções de como calcular os custos de produção e estimar os ganhos”, completa o indigenista especializado da Funai Rafael Illenseer.
A população jovem das aldeias está no centro das ações. “Depois de concluírem o ensino médio, eles ficam meio sem rumo. Hoje temos dentro da aldeia uma extensão da [instituição universitária] Unicentro, mas muitos querem uma formação mais rápida”, explica Neoli Kafy Rygue Olibio, liderança e presidente da Associação Comunitária da Terra Indígena de Rio das Cobras. Segundo ele, essa população jovem tem vontade de consumir e acessar tecnologias, mas para isso precisa de uma fonte de renda.
O primeiro curso realizado na aldeia, voltado à operação e manutenção de tratores, não foi escolhido ao acaso. “Temos 960 hectares de área mecanizável. Futuramente queremos ter nossas próprias máquinas”, afirma Olibio. Atualmente a produção de Rio das Cobras é voltada apenas para subsistência, mas existem projetos em diversas áreas para mudar essa realidade.
Um deles envolve a recuperação de solos degradados por meio do cultivo de erva-mate. Também existe disposição de fazer cursos do Senar-PR nas áreas de meliponicultura e de agricultura orgânica. “Acredito que em três, quatro anos vamos ter excedente para comercializar”, prevê o presidente da Associação.
Outros cursos
Na Terra Indígena Ivaí, foram realizados quatro cursos do Senar-PR: “Operação e manutenção de tratores”, “Operação e manutenção de plantadeira/semeadeira”, “Aplicação de agrotóxicos” e “Introdução a gestão rural”. Já Terra Indígena Faxinal foi realizado o curso “Operação e manutenção de tratores”.
“A Funai apoia iniciativas que promovem a autonomia das populações indígenas, por meio da geração de renda, de forma responsável. O que propusemos, neste primeiro momento junto ao Senar-PR, foi buscar apoio à capacitação de indígenas para que possa contribuir na transição para sustentabilidade”, afirma Ribeiro, da Funai em Guarapuava.
No que se refere à gestão do próprio negócio, o curso do Senar-PR teve importância adicional, uma vez que os indígenas desconhecem, em sua maioria, os princípios que norteiam estimativas de custos e preços dos produtos.
“Eles precisam melhorar na área gerencial, compreender que, apesar de negociarmos um produto, seja de subsistência ou não, temos que ter o entendimento de quanto gastamos para produzi-lo. Esse é um ponto que precisa ser fortalecido, pois o mercado dita o preço da venda, e eles precisam entender se estão fazendo um bom negócio”, pontua Alex Fernandes de Almeida, instrutor do Senar-PR na área de gestão, que ministrou o curso na Terra Indígena de Ivaí.
“Foi o curso normal, de 40 horas. Trabalhamos dando para eles a necessidade de ter o conhecimento da empresa rural como um todo”, afirma Almeida, que considerou a experiência de ministrar um curso para indígenas uma “oportunidade fantástica”. “A questão cultural do indígena é diferente da nossa. Foi gratificante o convívio com eles, conhecer seus valores, a busca pela gentileza, por desbravar novos horizontes”, relembra.
A expectativa é que mais capacitações cheguem às aldeia do Paraná. “Além dos cursos propostos até o momento, o Senar-PR pode contribuir mais em outras ações importantes aos indígenas, como o interesse pela erva-mate, a olericultura, a piscicultura, o turismo, a criação de abelhas, o artesanato, a agricultura orgânica e agroecologia, entre outros”, conclui o chefe do Segat da CR Guarapuava.
Com informações do Senar-PR