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Cafeicultores indígenas de Rondônia recebem microlotes de café especial em embalagem personalizada
Da esquerda para direta: o Cacique Anderson Suruí, o produtor Gamaroy Bianco Suruí, o coordenador regional da Funai em Cacoal, Sidcley José Sotele, e o Cacique Joaquim Suruí durante a entrega dos microlotes (fotos: CR Cacoal/Funai)
Produtores indígenas de café especial sustentável de Rondônia começaram a receber da empresa 3 Corações os microlotes do produto em embalagem personalizada do Projeto Tribos. O café embalado começou a ser entregue, neste mês de abril, a 85 cafeicutores e cafeicultoras dos povos Aruá, Canoé, Paiter-Suruí e Tupari nas suas respectivas aldeias. Outros 16 produtores ainda deverão receber os microlotes. A empresa já iniciou a comercialização do café especial no mercado nacional.
A iniciativa conta com o apoio da Fundação Nacional do Índio (Funai). De acordo com a Coordenação Regional (CR) de Cacoal, uma das unidades descentralizadas da Funai em Rondônia, os produtores indígenas recebem também a assistência técnica da Entidade Autárquica de Assistência Técnica e Extensão Rural de Rondônia (Emater/RO) para o manejo, boas práticas e gestão. Os indígenas contam ainda com o suporte da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), da Câmara Setorial do Café de Rondônia e Secretaria de Estado da Agricultura.
O início das tratativas entre os cafeicultores indígenas e a empresa 3 Corações ocorreu em 2018 durante a Semana Internacional do Café em Belo Horizonte (MG). A participação dos indígenas nas recentes edições do evento tem recebido apoio da Funai ao longo dos anos, por meio da CR Cacoal. A partir do Projeto Tribos, idealizado pela 3 Corações, os produtores indígenas firmaram um contrato para venda exclusiva da produção de café especial para a empresa. Em média, cada família indígena produz dois hectares do grão.
Para o coordenador regional em Cacoal, Sidcley José Sotele, o sucesso do projeto também se deve à persistência dos indígenas que cultivam o café há mais de 30 anos, após a extrusão de agricultores não indígenas que haviam desmatado parte da floresta para plantar café em pequenas áreas. “A partir de então, os indígenas aprenderam sobre o cultivo do café em pequena escala e sem o uso de agrotóxicos. O Projeto Tribos veio para coroar a excelência e a qualidade de um produto produzido com tanto cuidado pelas famílias indígenas”, ressalta Sotele.
O presidente da Cooperativa de Produção e Extrativismo Sustentável da Floresta Indígena Garah Itxa do Povo Paiter Suruí, Celso Lamitxab Suruí, destaca que o projeto fortalece a qualidade da produção dentro de uma consciência ambiental, social e econômica. “Para nós, o desenvolvimento sustentável veio quebrando paradigmas de mostrar para a sociedade o nosso valor, a nossa identidade, agregando valor à nossa produção. Queremos levar esse tipo de modelo para outras Terras Indígenas, para que eles também possam desenvolver o seu trabalho dessa forma”, explica.
Etnodesenvolvimento
“A produção cafeeira dos Paiter Suruí está relacionada a uma lógica de planejamento territorial e ambiental peculiar daquela Terra Indígena, onde o cultivo específico do café especial alia a produção familiar e a proteção da floresta”, afirma o coordenador-geral de Promoção ao Etnodesenvolvimento da Funai, Juan Negret Scalia. “Cada etnia possui autonomia para escolher a atividade produtiva conforme suas tradições e de acordo com as caraterísticas de cada região. E a Funai tem atuado para valorizar essas escolhas, promovendo seus modos de produção e suas iniciativas”, acrescenta.
Nos últimos dois anos, a Funai investiu aproximadamente R$ 30 milhões em projetos voltados para a geração de renda nas aldeias e fortalecimento cultural dos povos indígenas, atendendo aos preceitos constitucionais de respeito aos usos, costumes e tradições de cada etnia. Os recursos foram destinados para ações que visam a autossuficiência das comunidades indígenas, como a aquisição de materiais de pesca, sementes, mudas, insumos, ferramentas e maquinário agrícola.
Desde o início da pandemia do novo coranavírus, em março de 2020, a Funai já investiu cerca de R$ 18 milhões em ações de etnodesenvolvimento nas aldeias de todo país. Os recursos foram destinados a atividades de piscicultura, roças de subsistência, colheita de lavouras, confecção de máscaras de tecido e artesanato, produção agrícola, casas de farinha, entre outros. O objetivo é fazer com que os indígenas mantenham a produção, além colaborar para que, no pós-pandemia, as etnias invistam em processos de geração de renda.
Incentivo
Criado com a intenção de promover o desenvolvimento sustentável, o projeto Tribos é fundamentado em três pilares interdependentes e indissociáveis: protagonismo do produtor indígena, proteção da floresta e produção de café de qualidade. O lançamento do café especial sustentável cultivado pelos indígenas de Rondônia ocorreu durante a realização do 2º Concurso Tribos, realizado em 2020 e que distribuiu uma premiação em dinheiro para os dez primeiros colocados. Oito etnias participaram do concurso: Aikanã, Arikapú, Aruá, Djoromitxí, Kanoê, Makurap, Paiter Suruí e Tupari.
com informações da Coordenação Regional Cacoal