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Série de entrevistas com os coordenadores regionais da Funai continua com Marco Antônio Gimenez, do Juruá (AC)
Marco Antônio Gimenez na sede da CR Juruá, que já entregou 2.440 cestas básicas a 5.280 famílias indígenas nas ações de prevenção à covid-19
Pergunta: Quais são as ações da Coordenação Regional (CR) Juruá em relação à prevenção do contágio da covid-19?
Resposta: As ações desta CR começaram no início do mês de março, através de parceria intensa com o Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Alto Rio Juruá. Nossa equipe da CR passou a ir direto a campo e fazer reuniões com os caciques e suas lideranças. Nossa orientação se baseou principalmente nas informações iniciais sobre a pandemia que chegava ao Brasil. Alertamos as comunidades indígenas sobre os procedimentos e cuidados que deveriam ser tomados por todos, em especial, sobre o isolamento nas aldeias. Percorremos todo o Vale do Juruá levando as informações necessárias para diminuir o impacto da covid-19 em nossas aldeias.
Entre as principais dificuldades, encontramos a necessidade de saída dos indígenas das aldeias em busca de benefícios sociais, como aposentadoria e Bolsa Família. Em vista disso, passamos a monitorar os acontecimentos, sempre levando conhecimento até as aldeias. Como faz parte da cultura indígena local as famílias se deslocarem sempre juntas, explicamos a necessidade de que apenas uma pessoa da família se deslocasse com os devidos cuidados, caso realmente a saída fosse muito necessária.
Também era comum a entrada de não-indígena nas aldeias. Neste caso, com base na restrição existente, orientamos as comunidades indígenas sobre a proibição da entrada de não-indígenas nas aldeias. Tivemos apoio das autoridades policiais e militares como a Polícia Federal do Vale do Juruá e o comando do 61º Batalhão de Infantaria de Selva, localizado em Cruzeiro do Sul (AC). Com esse apoio, por várias vezes conseguimos impedir ações de caçadores, comerciantes e turistas nas Terras Indígenas.
Pergunta: Quais são as principais atividades da CR atualmente?
Resposta: Em virtude da atual situação, hoje estamos direcionando nossos esforços em atender as comunidades principalmente no tocante ao controle da pandemia. Felizmente, estamos tendo sucesso. Para isso, trabalhamos com objetivos compartilhados com o DSEI e também alguns parceiros. Porém, sempre que nos deslocamos até uma determinada Terra Indígena, trabalhamos em conjunto para identificar e atuar nos problemas existentes e suas necessidades básicas que porventura estejam em falta. Realizamos, com frequência e sucesso, as ações de conciliação que ocorrem dentro das Terras Indígenas entre os próprios indígenas. Às vezes, incluímos as ocupações ribeirinhas, que são muito comuns aqui no Vale do Juruá.
Pergunta: Quais são os principais projetos de etnodesenvolvimento que contam com apoio da CR?
Resposta: Este ano, tivemos as nossas ações prejudicadas em virtude da pandemia, onde dirigimos nossos esforços com neste foco. Mesmo assim, ainda conseguimos desenvolver um projeto de apoio à implantação dos (Planos de Gestão Territorial e Ambiental (PGTAs) das Terras Indígenas, como parte das ações de fomento à produção da agricultura familiar das comunidades.
Pergunta: Quais os pontos que o senhor gostaria de destacar da sua gestão?
Resposta: A minha gestão aqui na CR ainda está começando, pois assumi a unidade da Funai no final de fevereiro deste ano. Meu primeiro e grande desafio é a pandemia. Através de todo o trabalho que desenvolvemos com os parceiros desde o início, vale destacar o grande empenho da saúde indígena. Eu diria, com certeza, que o principal feito até o momento da minha gestão é o sucesso no controle da pandemia, que infelizmente chegou às nossas aldeias. Porém foi muito bem controlada, conforme comprovam os mapas de controle semanal.
Outro ponto que vale muito destacar é a amizade e confiança que temos com os povos indígenas e as lideranças locais. Sempre que solicitamos a ajuda deles, qualquer que seja o caso, conseguimos a compreensão e apoio dos caciques, lideranças e toda a comunidade indígena.
Pergunta: Quais são os desafios enfrentados pela CR?
Resposta: Com certeza o nosso maior desafio no momento é manter a epidemia controlada como está no momento. Trabalhamos também com a melhoria das escolas, que é a fonte da educação dentro das aldeias. Logo as escolas estarão de volta e os problemas irão aparecer de forma crescente. Estaremos prontos para trabalhar de forma intensa para atingir o sucesso merecido.
Um grande desafio que enfrentamos aqui, em especial, para atender nossas Terras Indígenas, é o transporte. Cerca de 80% de todo o nosso deslocamento é através dos rios, o que é muito desgastante para toda a equipe que participa da jornada. Esses deslocamentos são muito frequentes aqui na Região Norte. Os rios têm períodos navegáveis, porém nossas demandas não param. Temos que chegar ao local de destino superando os obstáculos que aparecem. Em alguns casos, a vida de um indígena depende do nosso trabalho. Por isso, são desafios que não temos o direito de não superar, pois são parte da essência da nossa CR.
Assessoria de Comunicação / Funai
com informações da Coordenação Regional Juruá (AC)