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Programa Ibirama realiza intercâmbio entre indígenas Xokleng e Guarani
Na semana passada, entre os dias 24 e 28 de junho, 14 representantes Xokleng e Guarani da Terra Indígena Ibirama-La Klãnõ, localizada no Estado de Santa Catarina, estiveram na região de Itanhaém (SP) para trocarem experiências, conhecimentos e saberes sobre práticas produtivas sustentáveis, produção orgânica, sistemas agroflorestais e conservação e recuperação ambiental com povos Guarani da região.
A atividade acontece no âmbito do Programa Ibirama, que surgiu em decorrência da construção da Barragem Norte, ainda na década de 1970. A barragem, construída no braço norte do Rio Itajaí (SC) que atravessa a Terra Indígena, tem como objetivo evitar grandes enchentes nas cidades abaixo do rio. A obra acabou por remover as comunidades indígenas para outros locais e alagou a maior parte agricultável da TI. O Programa foi, então, criado para tentar minimizar os impactos decorrentes no que se refere à segurança e soberania alimentar e nutricional, à geração de renda e à conservação de recursos naturais.
Durante os cinco dias de intercâmbio, os representantes Xokleng e Guarani vivenciaram diversas experiências. No primeiro dia, a visita foi ao Banco de Alimentos do município do Itanhaém, criado em 2007 a partir de um convênio entre a prefeitura e o antigo Ministério do Desenvolvimento Social – MDS. O Banco de Alimentos atua no combate à fome e ao desperdício de alimentos, bem como no fortalecimento e na valorização da produção sustentável de agricultores familiares, pescadores artesanais e povos indígenas por meio da compra de produtos para o Programa de Aquisição de Alimentos – PAA e Programa Nacional de Alimentação Escolar – PNAE. O milho guarani, por exemplo, é fornecido na merenda escolar desde o ano de 2016.
Sistemas de Aquicultura de Recirculação
No dia 25, os indígenas conheceram três experiências de produção sustentável. A primeira consiste na criação de peixes em Sistemas de Aquicultura de Recirculação (SAR). Esses sistemas objetivam à criação intensiva de peixes com a reutilização da água após tratamentos mecânico e biológico, de forma a reduzir a emissão de poluentes para o ambiente, bem como a necessidade de grande quantidade de água e de energia. A tecnologia social, desenvolvida pela Embrapa e adaptada à realidade e necessidade local, conta com o apoio da Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável, ligada à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, e do Departamento de Agricultura da Prefeitura de Itanhaém.
A segunda experiência foi uma área de agricultura familiar que produz pupunha, hortaliças e legumes para o PAA e PNAE. "Realizamos a transição agroecológica da produção, o que propiciou, além da diversificação dos cultivos, maior valorização dos produtos e, consequentemente, maior renda com a comercialização", contou o agricultor.
Na TI Piaçaguera, localizada no município de Peruíbe (SP), os indígenas puderam observar várias iniciativas de produção sustentável realizadas pelos Tupi-Guarani/Guarani Ñandeva com o apoio da Funai: turismo de base comunitária, realizado principalmente com grupos escolares da região e para o qual estava sendo construído um centro cultural; galinheiro móvel, por meio do qual o esterco produzido pelas galinhas pode adubar diferentes áreas de interesse da comunidade; viveiro de tilápia, adotando o sistema de aquicultura de recirculação; viveiro de mudas de palmito juçara para plantio e adensamento de áreas, doação e venda de mudas; estufa de hortaliças de baixo custo; agrofloresta para a produção de hortaliças, plantas alimentícias não convencionais (PANCs), frutas, espécies madeireiras, bem como para a recuperação de área degradada; e plantio de variedades indígenas de batata-doce para a merenda escolar.
Sistemas Agroflorestais
No dia 26, a visita foi à TI Aguapeú, localizada no município de Mongaguá (SP). Lá, foram observadas várias áreas de agrofloresta implantadas pelos Guarani com apoio da Funai, além de hortas, tanque artesanal para a criação de peixe (também em SAR) e galinheiro móvel. O milho Guarani e a banana produzidas nos Sistemas Agroflorestais (SAFs) já estão presentes na merenda escolar e há demanda para a produção e futura inclusão da batata e da mandioca.
Foi destacado o papel da agrofloresta para a produção sustentável – com especial destaque para a segurança e soberania alimentar e nutricional e para a geração de renda –, para a conservação e recuperação ambiental e para o fortalecimento cultural, uma vez que é um sistema que possibilita e valoriza o resgate de espécies tradicionais importantes para as comunidades indígenas.
Milho Guarani
No dia 27, os representantes indígenas estiveram na TI Rio Branco, município de Itanhaém. O resgate do milho Guarani foi um dos temas tratados na visita, ação realizada com o apoio da Funai. Hoje, o milho produzido na aldeia é fornecido para a merenda escolar e a intenção é aumentar a venda para outros produtos, como batata doce, mandioca, amendoim, banana, entre outros. "O milho Guarani é fortalecimento cultural. A semente fortalece o espírito, o corpo físico, as crianças em desenvolvimento", ressalta o Cacique Guarani Werá Xunu.
A Aldeia Rio Branco ainda conta com áreas de agrofloresta em que foram cultivadas diversas espécies de interesse da comunidade indígena e nativas da Mata Atlântica, além de quintais agroflorestais e do enriquecimento de áreas de sub-bosques. Segundo a CR Litoral Sudeste, há cerca de oito hectares de agroflorestas implantados nos últimos cinco anos nas TIs Aguapeú, Bracuí, Piaçaguera, Rio Branco e Aldeia Renascer. Além disso, as áreas de enriquecimento com palmeiras e frutíferas em quintais e matas nativas ultrapassam centenas de hectares, sendo uma atividade tradicionalmente realizada pelos indígenas, que conta com o apoio da Funai para o fornecimento de mudas e insumos.
Próximos passos
Para os indígenas e servidores que participaram do encontro, os objetivos de trocar conhecimentos e boas práticas de produção sustentável, conservação e recuperação ambiental foram alcançados. Neste sentido, algumas inciativas vivenciadas servirão de inspiração para a construção e execução do Programa Ibirama, levando em conta as especificidades da TI Ibirama-La Klãnõ e dos povos que ali vivem.
De acordo com a CGETNO e a CGGAM, os próximos passos referem-se à realização de Oficinas de elaboração de projetos, consolidando as observações levantadas em diagnóstico realizado pela Funai em dezembro de 2018, com as novas propostas oriundas do Intercâmbio. A oficina, prevista para o mês de agosto, terá como objetivo elaborar uma carta de projetos do Programa Ibirama, com ações específicas, segundo a realidade de cada aldeia, e outras de maior abrangência, para toda a comunidade.
"Foi muito importante a nossa visita porque a maioria dos que participaram não tinham conhecimento dessas experiências. O trabalho dos indígenas aqui dessa região abriu a nossa mente e trouxe algumas boas ideias para serem realizadas nas nossas aldeias. Se fosse possível ter outros intercâmbios, seria muito rico", avaliou o Cacique-Presidente da TI Ibirama-La Klãnõ, Tucum Gakran.
Além dos representantes indígenas, participaram do intercâmbio servidores da Funai das Coordenações Regionais Litoral Sul e Litoral Sudeste, das Coordenações-erais de Etnodesenvolvimento (CGETNO) de Gestão Ambiental (CGGAM), e da Coordenação Técnica Local de José Boiteux (SC).
Informações da CGGAM, CGETNO, CR Litoral Sudeste, CR Litoral Sul e CTL José Boiteux.