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Povo Karajá da Ilha do Bananal dá primeiros passos para manejo participativo de pirarucu
Os Karajá das aldeias Fontoura e Santa Isabel do Morro deram o primeiro passo para a implantação do manejo participativo de pirarucus na Ilha do Bananal (TO). Entre os dias 1º e 7 de agosto, foram realizados cursos voltados ao tema, ministrados pela consultora Ellen Amaral, bióloga com mais de 15 anos de experiência na área. A iniciativa solicitada pelos indígenas à Funai, tem sido administrada pela Coordenação-Geral de Promoção ao Etnodesenvolvimento (CGETNO), Coordenação Regional Araguaia Tocantins e Coordenação Técnica Local (CTL) em São Félix do Araguaia, com o apoio da CTL em Gurupi.
O povo Karajá, autodenominado Inỹ, vive às margens do Rio Araguaia. Sua cosmologia está profundamente relacionada ao rio, de forma que até a vida humana teria emergido dele. Os peixes são fundamentais na alimentação dos Karajá e a pesca é uma das principais fontes de renda das comunidades. Eles são conhecidos pelas habilidades nessa atividade e pelo conhecimento sobre a fauna aquática.
Durante os cursos, os indígenas conheceram todas as etapas necessárias ao manejo, visualizaram experiências bem-sucedidas no Amazonas e Tocantins e discutiram conceitos importantes para o início do trabalho. De acordo com a consultora, a participação ativa das comunidades e as ideias que elaboraram para desenvolvimento da atividade nas aldeias mostram-se ótimo sinal, tendo em vista que o interesse é fundamental para o sucesso da ação.
"Esse curso vem trazer à tona coisas que a gente fazia antes e deixou de fazer", comentou Curerrete Wartirre, ao lembrar de quando os Karajá pescavam coletivamente. Mawysi e Manaije Karajá explicaram que a pesca era coordenada por um líder experiente e que os peixes eram distribuídos igualmente entre todos. Os indígenas sempre manifestaram o cuidado em não capturar todos os peixes para que pudessem se reproduzir, garantindo a pesca sustentável nos anos posteriores.
O manejo participativo de pirarucus tem sido uma alternativa econômica importante para populações tradicionais. Diferente do cultivo, o manejo se dá em ambiente natural e não requer tecnologias sofisticadas ou insumos caros. O controle é feito a partir da delimitação dos lagos a serem utilizados e o estabelecimento de regras criadas conjuntamente, onde se define zonas de proteção e de pesca, período para reprodução do peixe, tamanho mínimo permitido, dentre outras. A partir da contagem dos estoques se estabelece uma cota sustentável de pesca, garantindo o peixe para hoje e para o futuro.
Além dos cursos, a iniciativa contará com oficinas e com a elaboração participativa de um projeto de implementação do manejo. Lilian Brandt Calçavara, indigenista na CTL em São Félix do Araguaia, destacou a importância do diálogo entre os saberes científicos e tradicionais. "Não se trata de um retorno compulsório às tradições, mas do reconhecimento de um saber ancestral. Os Karajá são especialistas em pesca, mas as circunstâncias ambientais e sociais de hoje são diferentes das de antigamente. A pesca será reelaborada a partir de sua experiência atual, respeitando os saberes de seus antepassados e incorporando conhecimentos científicos", declara a servidora.
Na próxima etapa, serão ministradas as oficinas de manejo participativo de pirarucus, nas quais as aldeias irão trabalhar no diagnóstico do grupo e na elaboração do projeto de manejo, que deverá considerar as especificidades culturais do povo Inỹ. A atividade está prevista para o final de outubro deste ano.
Texto de Ellen Amaral, Fernanda Tibana (Cgetno), Lígia Rodrigues de Almeida ( CR Araguaia Tocantins) e Lílian Brandt Calçavara (CTL em São Félix do Araguaia)