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Oficina de sementes tradicionais busca fortalecer a agricultura familiar de indígenas do Rio Grande do Norte
A Secretaria do Desenvolvimento Rural e da Agricultura Familiar do Rio Grande do Norte (Sedraf/RN), em parceria com a Funai, realizou a primeira etapa da Oficina sobre Agrobiodiversidade e Casa de Sementes na aldeia Amarelão, no último dia 23. O objetivo geral é construir diálogos sobre a importância e resgate da agrobiodiversidade e das sementes tradicionais para o fortalecimento da Agricultura Familiar e Cultura Indígena.
Segundo Yuri Vasconcelos da Silva, coordenador da Coordenação Técnica Local (CTL) Natal, vinculada à Coordenação Regional Nordeste II da Funai, a intenção é fortalecer a agricultura familiar das comunidades indígenas por meio da valorização dessas sementes. "Anualmente a Funai busca comprar sementes crioulas de agricultores indígenas, e todo ano tem dificuldades. Acaba comprando de outros produtores. Essa oficina é de troca de conhecimentos, para pensarmos juntos em como fortalecer a agricultura familiar indígena", comenta Vasconcelos.
A comunidade quer, num primeiro momento, se tornar autossuficiente para o plantio de suas lavouras de subsistência, mas tem um plano mais ousado: o de, no futuro, poder participar do PAA Aquisição de Sementes, fornecendo para o próprio governo. O PAA é o programa de aquisição de alimentos do governo federal que incentiva a agricultura familiar. A modalidade Aquisição de Sementes permite que a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) compre sementes de organizações da agricultura familiar detentoras da Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP Jurídica), para destinação a agricultores familiares, conforme demanda de órgãos parceiros, entre eles a Funai.
"É uma forma de produzir nossas próprias sementes para a comunidade e até para outras, uma vez que a Funai compra para distribuir", explica José Carlos Tavares Silva, liderança do Amarelão. Atualmente a comunidade depende das sementes distribuídas pela Funai chegarem antes das primeiras chuvas, em janeiro. Caso contrário, o plantio é perdido, pois é o único período que chove no Semiárido.
O agricultor indígena Sebastião Sabino da Costa, da aldeia Serrote de São Bento, levou para a oficina uma variedade de feijões, favas e sementes diversas de pepino, abóbora e melancia. "Tirou um caroço desse, é só aguar que nasce", afirmou, orgulhoso da qualidade das sementes cultivadas e selecionadas por décadas e que recebeu de seus pais e avós.
Participaram da oficina, agricultores e agricultoras indígenas com experiência na produção de sementes tradicionais nas aldeias do território Mendonça, assim como jovens interessados em recuperar sementes ancestrais e fazer parte desse processo.
Duas professoras de turmas de alfabetização de jovens e adultos souberam da oficina e também estavam entre os presentes para levar o assunto até a escola. Uma delas, a professora Lidiane, da aldeia Serrote, pretende elaborar um projeto com os alunos para formar um banco de sementes.
A próxima etapa da oficina está marcada para o dia 14 de outubro, quando os técnicos da Sedraf/RN trabalharão com os elementos necessários para a criação de um museu de sementes na comunidade.
Heloisa D'Arcanchy
CTL em Natal