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Oficina de produção de canoão promove autonomia de indígenas do Vale do Javari
A Coordenação Regional do Vale do Javari, em Atalaia do Norte, Amazonas, por meio da Coordenação Técnica Local - CTL de Atalaia do Norte II e III, realizou a Oficina de Construção de Canoão com o povo Kanamary, entre os dias 4 e 15 de julho. Já é a terceira edição da oficina, que se iniciou com o povo Marubo no fim de 2018 e com o povo Matis no início de 2019. O sucesso do projeto despertou interesse em outros povos do Vale do Javari, como é o caso dos Kanamary.
Segundo Ilter Rodrigues, coordenador técnico local e idealizador do projeto, os indígenas contemplados não tinham tradição fluvial. O canoão, estrutura de navegação maior do que as canoas tradicionais, passou a ser utilizado como recurso para o escoamento de produtos como farinha, macaxeira, banana e melancia para as cidades próximas, como Atalaia do Norte, Benjamin Constant e Tabatinga (AM). Também é útil no transporte de famílias que precisam acessar serviços do Estado que só estão disponíveis nessas cidades.
Até então, os Kanamary não dispunham de tecnologia de transporte fluvial compatível com as demandas resultantes dessa interação com as cidades vizinhas. O deslocamento era precário, em canoas pequenas que comprometiam a integridade física dos tripulantes. Segundo Michel Neves, chefe da CTL Atalaia do Norte II, que acompanhou a primeira oficina, "Os indígenas acabavam comprando canoas nos estaleiros do município de Atalaia do Norte a preço muito além de sua possibilidades. A madeira dessas canoas não é durável, fazendo com que os indígenas logo tivessem que comprar outras. Assim muitas famílias endividavam-se com empréstimos".
No decorrer da oficina, os Kanamary edificaram os canoões com auxílio dos instrutores: artífices da região reconhecidos pela qualidade do trabalho com as embarcações. "O primeiro canoão é feito com ajuda do artífice. O segundo ele deixa para os indígenas fazerem, mas está sempre coordenando", conta Danielle Brasileiro, coordenadora regional substituta. Durante o processo, discutiu-se qual a madeira mais adequada de acordo com critérios de durabilidade, navegabilidade e capacidade de suportar peso, tendo em vista a necessidade dos Kanamari.
O resultado da oficina foi a construção de três canoões, com madeiras disponíveis nas terras dos Kanamary e insumos obtidos pelo apoio da Funai. A madeira de qualidade garante durabilidade de pelo menos dez anos para o meio de transporte (contra 4 anos do mesmo equipamento comercializado nas cidades) que beneficiará 12 aldeias, totalizando aproximadamente 1300 indígenas. A Coordenação Regional do Vale do Javari ainda pretende realizar outras duas oficinas no segundo semestre de 2019, com outros povos da região.
Cleuber Amaro
Assessoria de Comunicação/Funai