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Jovens Xavante debatem gravidez e violência contra mulher
"Jovens unidas e fortes" é o significado para Ĩhöibaté Tsimitutu'rã Ĩtsiptede , termo que intitulou as rodas de conversas promovidas entre as jovens Xavante, com apoio da Coordenação Regional (CR) Xavante, das Coordenações Técnicas Locais subordinadas e da Coordenação-Geral de Promoção da Cidadania (CGPC), na última semana de junho. O objetivo foi discutir questões voltadas à proteção e cuidados do corpo e da mente.
Os encontros ocorreram na aldeia Santa Clara, que fica no interior da Terra Indígena Parabubure, e na Coordenação Técnica Local Campinápolis-MT. Além da Funai, o Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) Xavante, o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) de Campinápolis e a Operação Mato Grosso também colaboraram na promoção do evento.
Maíra Ribeiro, indigenista na CR Xavante e responsável pela articulação dos encontros, explica que a iniciativa foi resposta à demanda das indígenas. "A ideia surgiu do último evento com as mulheres Xavante, em 2018, quando apresentaram suas preocupações em relação a temas como abuso sexual e violência contra a mulher e pediram a promoção de rodas de conversas para informar e incentivar as jovens", comenta a indigenista.
O povo Xavante tem uma alta taxa de natalidade, com média de cinco filhos por mulher. Em 2018, houve 1.380 mulheres gestantes, segundo dados do Dsei Xavante. Só em Campinápolis, 29 destas engravidaram com menos de 15 anos. A gravidez das jovens preocupa as mães e avós.
Experiências femininas
Para a escolha das palestrantes, a Funai priorizou valorizar os conhecimentos tradicionais e científicos de pessoas que atuam na região. A anciã Juliana Tsinhotsé'ere, as enfermeiras Arielle Costa e Wanessa Souza, a psicóloga Eloísa Ferreira e a nutricionista Delma Pereira contribuíram para a promoção da troca de conhecimento entre as jovens.
Juliana Tsinhotsé'ere aconselhou as jovens e compartilhou suas experiências como mãe e esposa. Apesar da timidez, as jovens tiraram dúvidas e expuseram suas preocupações. Foi apontado o uso abusivo de bebidas alcoólicas pelos homens como o fator principal de potencialização da violência doméstica.
Para falar sobre o tema, foi convidada a psicóloga Eloísa Ferreira, do CAPS de Campinápolis. Após explicar os diferentes tipos de violência, a psicóloga ressaltou a importância das mulheres promoverem o apoio mútuo.
Arielle Costa e Wanessa Souza apresentaram diversos métodos anticoncepcionais. A maioria das jovens não conhecia os métodos e nunca haviam visto um preservativo. Em seguida, conversaram sobre os cuidados durante a gestação, como é feito o acompanhamento pré-natal e os cuidados pós-parto para a mãe e o bebê. A nutricionista Delma Pereira, do Dsei Xavante, complementou o diálogo ao falar sobre a importância do aleitamento materno.
Alice Ro'odzaniwe Rune'ewe, de 21 anos, participou da etapa do encontro que aconteceu em Campinápolis. A jovem ressaltou a importância do evento para o debate sobre assuntos que muitas vezes não são comentados em casa. "Para mim foi muito interessante porque valorizou as mulheres e podemos entender como vivem. Tem muitas mulheres que sofrem muito, os homens não as respeitam. Às vezes, os homens só querem os filhos, mas não cuidam de suas mulheres, as maltratam e a maioria não têm coragem de denunciar. É bom que a gente possa conversar sobre isso", declarou.
O projeto terá continuidade. Estão previstas, ainda neste ano, rodas de conversa com jovens Xavante das Terras Indígenas São Marcos e Sangradouro.
Maíra Ribeiro (CR Xavante) e Kézia Abiorana (Ascom/Funai)