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Idosos indígenas protagonizam documentário lançado pelo MMFDH
"Muito obrigada a vocês, meus netos, que não têm vergonha de mostrar o costume dos antigos, dos velhos e dos nossos avós." Diante dos jovens da aldeia Bananal, na Terra Indígena Taunay/MS, uma senhora de 87 anos agradece, em frases melódicas, o registro das tradições Terena. Essa é uma das cenas de O índio velho - Memória ancestral , documentário sobre idosos indígenas lançado ontem (14) pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), em Brasília.
O longa de 1h15, produzido pelo Comitê Intertribal - Memória e Ciência Indígena (ITC), busca dar visibilidade a perspectivas de idosos indígenas das cinco regiões do país.
Na presença da ministra Damares Alves e do secretário do SNDPI, Antônio Costa, o Comitê Intertribal, representado por Marcos Terena, compartilhou um
trailer
de sete minutos da obra em cerimônia com indígenas, servidores da Funai, do Ministério e demais convidados. Também compuseram a mesa de abertura Ronore Kaprere Pahintini, anciã do povo Gavião Kykatejê, e Valdecir De Carli, assessor parlamentar da Funai, representante do órgão indigenista na ocasião.
O lançamento do documentário coroou a inclusão da pessoa idosa indígena na política pública do SNDPI, uma inovação do atual governo anunciada hoje por Antônio Costa. "Pela primeira vez na história desse país, nós vamos trabalhar também com os idosos indígenas que são uma referência porque são eles que possuem as maiores idades em todos os indicadores etários do Brasil", declarou o secretário que também divulgou publicamente o
Projeto Viver - Envelhecimento ativo e saudável
, primeira ação do órgão voltada à inclusão digital, saúde, educação e mobilidade do idoso indígena, em Santa Cruz Cabrália/BA.
Damares Alves discursou, em fala inicial, sobre a riqueza dos saberes dos indígenas mais velhos: "Quanto conhecimento, quanta sabedoria que nós precisamos buscar para melhorar este mundo em que vivemos há no idoso indígena!"
LUGAR DE FALA
"É mais fácil a gente ir num encontro nas universidades onde se fala de índios, memória indígena, medicina. Mas quem fala? Essa iniciativa é para mostrar quem é o índio, quem é aquela senhora que canta lá na aldeia porque não tem políticas públicas para essas pessoas". Assim Marcos Terena, representante do ITC, destacou a ideia que serviu como combustível para a produção do documentário.
O objetivo era, a partir das falas de idosos e outros integrantes das comunidades, não só registrar a ancestralidade indígena, mas também despertar nas esferas do poder público o olhar para a falta de políticas voltadas à terceira idade dessa população.
Para Wesley Zaremaré, indígena Bororo e produtor do documentário, a experiência registrou a importância de resgatar a memória nas aldeias. " Eu percebi que, se há estímulo, esses idosos estão sempre dispostos a ensinar e isso é muito importante para os jovens não perderem essa essência, essa cultura. Eles são bibliotecas vivas de seus povos", definiu Maré.
Ao todo, 14 meses foram necessários à conclusão do projeto, desde o contato com órgãos governamentais responsáveis pelo tema e filmagens nas aldeias à apresentação do resultado às comunidades. Foram registradas as realidades dos Gavião Kykatejê, no Pará; Pataxó, na Bahia; Guarani Mbya, no litoral paulista; Kaingang, no Paraná; e Terena, no Mato Grosso do Sul.
PERSONAGENS DA VIDA REAL
Estiveram presentes algumas idosas que participaram do projeto. Protagonistas do cotidiano das comunidades em que vivem, Ronore Pahintini, do povo Gavião Kykatejê, e Albertina Terena não puderam ser meras espectadoras no cerimônia de lançamento.
Espontaneamente, Ronore, de 106 anos, manifestou, na língua materna, a alegria que sentia ao estar ali. A única expressão dita em português, "alegria no meu coração", se juntou à sinceridade que transparecia na voz, desafiando a inércia de qualquer ouvinte.
Albertina entregou à ministra miniaturas das cerâmicas tradicionalmente produzidas pelas mulheres da aldeia Bananal num processo que requer grande esforço (é necessária a escavação de até cinco metros para a localização da terra adequada). Acompanhado do presente, um alerta que também requer grande dedicação. "É muito importante que o governo olhe pela nossa terra, porque se não tivermos nossa terra, vamos desaparecer", pontuou a Terena.
Confira o trailer do filme
Kézia Abiorana
Assessoria de Comunicação/Funai