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[Série Estudo sobre o fogo] - Funai apoia pesquisadores e brigadistas indígenas em evento científico nacional
A Funai participou da 71ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Campo Grande/MS. Entre os dias 21 a 26 de julho, pesquisadores, indígenas e representante do órgão indigenista promoveram o lançamento oficial do projeto Noleedi (fogo, no idioma Kadiwéu).
A iniciativa da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) e do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo/Ibama) visa estudar do efeito do fogo na Terra Indígena (TI) Kadiwéu, a partir da relação com padrões de inundação, e determinar em qual época ele é menos impactante para a biodiversidade. Para os pesquisadores, o conhecimento indígena sobre o território e a maneira como lidam com o fogo é muito importante para definir estratégias de gestão. O projeto teve início em janeiro deste ano.
Durante o evento da SBPC, um estande do Noleedi apresentou ao público áudios e vídeos, proporcionou conversas com pesquisadores e brigadistas, exibiu o artesanato Kadiwéu, bem como os instrumentos usados em campo, e promoveu oficina de cerâmica. O ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Marcos Pontes, foi um dos visitantes do estande.
Parceria
Ao lado dos brigadistas indígenas, a equipe adentra as regiões de interesse. "O que fazemos é acompanhá-los nas áreas que escolheram e apoiá-los em algumas situações que não conhecem, como a identificação de determinadas plantas. Quando eles têm dificuldades, acabam perguntando para a gente. Na ausência deles, a brigada fica responsável pela área em que as pesquisas são realizadas, fazendo aceiro e protegendo a região", conta Mesaque Rocha, indígena e chefe de brigada há seis anos.
Mesaque acredita que o projeto também trará resultados às comunidades da TI Kadiwéu. "Esperamos que ao final, daqui a dois anos, possamos entender direito como funciona esse ecossistema, o cerrado pantaneiro, para ver se o fogo é ou não adequado a ele", comenta.
A Funai tem apoiado o projeto por meio da Coordenação Regional Campo Grande. Ao representar a instituição diante dos pesquisadores, a servidora Keyciane Pedrosa colabora com a expertise indigenista na compreensão sobre o universo e relações Kadiwéu.
"O foco da atuação da Funai no Noleedi é partilhar experiências e conhecimentos. Até porque esperamos que o projeto produza dados e informações científicas que contribuam também para o trabalho da Funai no Monitoramento e Gestão Ambiental da TI Kadiwéu, que é muito grande, com quase 540 mil hectares", explica Pedrosa.
Durante a Reunião Anual da SBPC, a indigenista apresentou ao público um pouco da história do território Kadiwéu e a relação entre a arte em cerâmica, o pau-santo e o projeto Noleedi.
Fogo, cerâmica e pau-santo
Para Danilo Bandini, professor do Instituto de Biociências da UFMS à frente da pesquisa, um dos pontos que tem interessado a equipe do Noleedi é a relação dos Kadiwéu com as plantas da região. "Uma parte do projeto é estudar o efeito do fogo na reprodução das plantas e escolhemos para estudo plantas utilizadas por eles para alimentação e outras atividades, como o artesanato", explica o pesquisador.
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Uma dessas plantas é o pau-santo, de forte relação com a cultura Kadiwéu. A seiva dessa árvore, cuja única ocorrência registrada no Brasil é em Porto Murtinho-MS, município em que se localiza a TI, libera a resina preta, lustrosa, característica da cerâmica única e ricamente ornamentada produzida pelas mulheres Kadiwéu. As peças refletem um conjunto de valores e tradições do grupo indígena.
Essa espécie e outras de interesse econômico, cultural e alimentar têm sido ameaçadas pela incidência de incêndios florestais e a exploração ilegal de madeira na região. O estudo vai tentar identificar a localização dessa e de outras árvores de interesse para a comunidade e quais delas são adaptadas ou não ao fogo, para qualificar o trabalho de Manejo Integrado do Fogo (MIF).
Ao final do Noleedi, será elaborado um manual de boas práticas para o manejo do fogo em um evento que reunirá pesquisadores, indígenas, e órgãos do Estado que trabalham com a questão: Funai, Ibama, prefeituras, agências estaduais, bombeiros e outros.
Saiba mais sobre o projeto Noleedi
Kézia Abiorana
Assessoria de Comunicação/Funai