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Mulheres Xavante atuam no resgate e fortalecimento da alimentação tradicional
Um lugar onde se planta e colhe frutos - um pomar. Em língua xavante, Abahi Tebrezê é o nome do projeto abraçado há dois anos pelas mulheres indígenas Xavante, da Terra Indígena (TI) Pimentel Barbosa, MT. Trata-se de uma ação de resgate do conhecimento tradicional, a partir da revitalização do cultivo de batatas nativas. A ideia é, a longo prazo, amenizar - e até reverter - efeitos negativos das mudanças nos hábitos alimentares e a sedentarização causada pela introdução de alimentação industrializada na comunidade.
Na segunda quinzena de setembro, mulheres indígenas Xavante reuniram-se para promover ações de resgate e fortalecimento da alimentação tradicional, momento em que reconstruíram o Centro Etnoecológico, estrutura física inaugurada em 2010 para sediar diversas atividades do projeto Abarhi Tebrezê .
Iniciado em 2010, o Abahi Tebrezê objetiva o fortalecimento da cultura, da segurança alimentar e nutricional, e da gestão territorial do povo Xavante da TI Pimentel Barbosa (MT). Originalmente conduzido pelos homens, passou a ser protagonizado pelas mulheres Xavante em 2017, as mais interessadas na recuperação da alimentação tradicional e no repasse de conhecimentos às meninas e aos meninos da comunidade, visto que a agricultura, o preparo dos alimentos e o cuidado das crianças é tradicionalmente atribuição delas. O foco das mulheres Xavante é a revitalização da produção das batatas tradicionais, em especial a Mo'ôni , com expedições de coleta em diversos pontos do território e seu cultivo em canteiros demonstrativos perto da aldeia e da escola.
A iniciativa inspira-se em ações anteriores, entre elas, o projeto Dasa Uptabi: De volta às raízes, que ocorreu entre 2004 e 2007. O projeto Dasa Uptabi , coordenado pelo analista ecológico Frans Leeuwenberg, contou com participação de 57 mulheres xavantes das aldeias Tanguro, Papa Mel, Caçula e Pimentel Barbosa. Nasceu da parceria entre as Xavante e a Sociedade de Proteção e Utilização do Meio Ambiente/PUMA.
Num intercâmbio de conhecimento intergeracional, anciãs e jovens Xavante coletaram 20 espécies de batatas silvestres que tradicionalmente faziam parte da alimentação do povo. Relembraram as formas de cultivo, as características de cada planta, as formas de preparo e as indicações alimentares (por vezes ritualísticas, sociais ou medicinais) de cada tubérculo. Os resultados do Dasa Uptabi podem ser conferidos na cartilha De volta às raízes: Uma tradição A'uwe nunca morre...
A cada ano, por decisão das próprias mulheres Xavante, o projeto Abahi Tebrezê pode envolver também a realização de oficinas de artesanato ou o intercâmbio com outros povos, como ocorreu em 2018, com a visita de mulheres de Pimentel aos Kuikuro (Parque Indígena do Xingu, MT), realizando troca de artesanato e sementes.
Em 2019, o projeto centrou-se na reconstrução do Centro Etnoecológico Ababhi Tebrezê , destruído pelo fogo no ano anterior. Localizado às margens do Rio das Mortes, é um espaço voltado à realização de encontros, reuniões e oficinas. Para 2020, as mulheres Xavante manifestaram o desejo de promover debates sobre alcoolismo e violência, e promover atividades culturais.
O projeto Abahi Tebrezê, além de atuar na revitalização da alimentação tradicional, possui caráter educativo bastante amplo, envolvendo o intercâmbio de conhecimentos, o fortalecimento da cultura, a gestão do território e maior conscientização sobre os direitos das mulheres indígenas na proteção e promoção de garantias à comunidade Xavante. O projeto conta com o apoio da Funai, sobretudo da Coordenação Geral de Promoção da Cidadania – CGPC. Envolve, ainda a Coordenação Geral de Gestão Ambiental – CGGAM, além de ter contado com atuação da Coordenação Geral de Etnodesenvolvimento – CGETNO em sua gênese.
Coordenação de Gênero e Assuntos Geracionais (Funai)
Assessoria de Comunicação (Funai)