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Entrevista: cacique Ubiratã faz mestrado em educação escolar indígena para fortalecer cultura guarani em SP
Primeiro indígena do Estado de São Paulo a ingressar no mestrado de pedagogia, Ubiratã Gomes é o exemplo do que representa a formação de professores indígenas para a consolidação da cultura tradicional nas aldeias. Em entrevista à Assessoria de Comunicação Social da Funai, Ubiratã fala sobre o começo da vida acadêmica na Universidade de São Paulo (USP) e a ampliação da educação escolar indígena.
Da etnia Tupi, o cacique Ubiratã vive na aldeia Bananal, município de Peruíbe-SP, e coordena a formação continuada e pedagógica para cerca de 60 professores indígenas de 16 escolas em aldeias da região de São Vicente-SP. Há 15 anos trabalhando na educação escolar indígena, atualmente o cacique cursa o mestrado em Formação de Professores e Adaptação Curricular na Universidade Católica de Santos.
Funai: como foi a sua formação escolar e o início na carreira de professor?
Ubiratã Gomes: Cursei os anos iniciais e o ensino fundamental na própria aldeia. O ensino médio em escolas da cidade de Peruíbe-SP. Em 2004, comecei a dar aula de Cultura Étnica. Ingressei na Universidade de São Paulo (USP) em 2005, juntamente com mais 79 indígenas pertencentes a cinco etnias: Krenak, Kaingang, Terena, Tupi e Guarani. Na ocasião, fizemos um curso chamado Formação Intercultural do Professor Indígena. Na USP, meu Trabalho de Conclusão de Curso foi sobre Etnomatemática.
Funai: Como é o dia a dia do ensino na educação escolar indígena?
Ubiratã Gomes: Depois que assumi como professor coordenador na diretoria de ensino de São Vicente, me deparei com um quadro de professores indígenas leigos. Para estar em sala de aula na aldeia tem que ser professor indígena. Na falta de profissionais, é aberto um cadastro emergencial pelo qual são contratados indígenas recém egressos do ensino médio. Por esse motivo pedi autorização para minha dirigente, a Regina Cátia Spada, para tentar parcerias nas faculdades e universidades da Baixada Santista. Por meio da Igreja Católica fizemos uma parceria para bolsas de ensino que contemplou 80 indígenas. Também apresentei um vestibular específico diferenciado, pelo qual ingressaram 40 indígenas no primeiro vestibular em diversas licenciaturas. Até o final do ano já fechei parceria para o ingresso de mais 40 indígenas com bolsa integral na Universidade Católica de Santos. Na verdade, eles já são professores em sala de aula. Porém são leigos, sem formação universitária.
Funai: Quais são os desafios atuais da educação escolar indígena?
Ubiratã Gomes: Desde que assumi como professor coordenador, estou desenvolvendo com eles [os professores] a adaptação curricular com base na cultura indígena, a partir de temas geradores referenciados na própria cultura. E temos o privilégio de ter como extensão de sala de aula toda a natureza que nos cerca.
Funai: Quais são as principais demandas da aldeia onde o Sr. é cacique?
Ubiratã Gomes: Hoje temos mais de 220 culturas indígenas no país. O desafio maior é construirmos um currículo por etnia, ou mesmo por região que ampare as nossas manifestações culturais como um todo, inclusive nossa língua nativa.
Por outro lado, a SECAD (Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão) que era o órgão no governo federal que subsidiava a educação escolar indígena, se esvaiu dentro deste atual modelo de educação para a diversidade, onde a cultura indígena está inserida. Temos que nos virar com parcerias com a iniciativa privada por meio de projetos locais. Dentro do poder público, a Funai é o órgão que ainda nos dá suporte para desenvolver projetos ligados à sustentabilidade em nossa comunidade.
Assessoria de Comunicação Social - Funai