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Encontros de mulheres no Amapá reafirmam protagonismo das indígenas
O mês de julho foi marcado por dois grandes encontros de mulheres indígenas no Estado do Amapá. No período de 21 a 23, na aldeia Aramirã da Terra Indígena (TI) Waiãpi, em Amapari, foi realizado o Encontro de Mulheres Waiãpi, que reuniu 58 mulheres de todas as regiões da TI - jovens, mães e avós - para discutirem questões diversas de seu cotidiano. Foram abordados temas como cultura, família, relações com o mundo não-indígena e gênero.
A programação contou com debates sobre mudanças climáticas; políticas públicas em saúde e educação; direitos sociais e previdenciários; discussões em grupo sobre os cuidados no pós parto e menarca, considerando as práticas tradicionais; e, ainda, sobre a atuação das parteiras, destacando a importância da valorização dessas mulheres para o fortalecimento da cultura Waiãpi e humanização do parto. Outros temas internos também foram tratados, com destaque para o uso de aparelhos celulares e internet pelos jovens, que tem sido uma preocupação das mães e avós.
O Encontro faz parte do calendário anual de eventos do povo Waiãpi. É organizado exclusivamente por mulheres dessa etnia com experiência em mobilização social, uma vez que fizeram ou fazem parte das organizações indígenas de seu povo. A Coordenação Regional Amapá e Norte do Pará e o Instituto de Formação e Pesquisa Indígena-Iepé são parceiros das mulheres Waiãpi neste evento.
Já em Oiapoque, na aldeia Manga, Terra Indígena Uaçá, aconteceu o Grande Encontro de Mulheres Indígenas nas terras indígenas de Oiapoque: plantas medicinais, territórios e mudanças climáticas, de 29 a 31 de julho. O planejamento e a realização foi inteira da Associação das Mulheres Indígenas em Mutirão-AMIM, organização formada por mulheres indígenas dos quatro povos da região – Galibi-Kalinã, Galibi-Marworno, Karipuna e Palikur - moradoras das terras indígenas Galibi, Juminã e Uaçá, localizadas no extremo norte do Brasil.
Além das associadas dos povos locais, o Grande Encontro recebeu parentas da região do Parque do Tumucumaque, dos povos Waiana, Apalai, Tiriyó e Kaxuyana, mulheres de diversos povos indígenas do norte, nordeste e centro-oeste do país: Mebengokré/Kayapó, Kaiabi, Krikati, Yanonami, Yawanawa, Nukini, Kaxinawa, Tariano, Tukano, Macuxi e Wapichana, além de uma representante do Quilombo do Rosa, em Macapá/AP, reforçando a diversidade e a riqueza do evento.
Também fez parte da programação um momento institucional, com resgate do histórico da Associação; prestação de contas da gestão e levantamento de demandas de atividades para o próximo período; partilha de experiências entre as visitantes; oficinas diversas (pintura corporal, produção de cuias, cosméticos naturais, garrafadas, óleos, banhas, parteiras, artefatos de miçangas); visita à uma roça Karipuna, com debates sobre os impactos das mudanças climáticas nas atividades produtivas; partilha de saberes sobre o cultivo de alimentos diversos; feira de artesanato; troca de mudas e sementes; debate sobre o filme "Quentura"; e palestras de acadêmicas indígenas sobre direitos das mulheres indígenas, Lei Maria da Penha e proposta de pesquisa de mestrado relativa às narrativas das mulheres Karipuna, numa devolutiva às comunidades sobre suas atividades acadêmicas.
A programação oficial foi encerrada no dia 31, mas as convidadas dos outros povos ainda participaram de um passeio na aldeia Açaizal, também na TI Uaçá, no dia 1º, ocasião em que visitaram as diversas atividades produtivas existentes (bananal, meliponicultura, cítricos, manejo de açaí) e degustaram um almoço tradicional. No retorno à capital Macapá, no dia 2, também houve visita à aldeia Ahumã, com roda de conversa com a cacica da aldeia, Dona Creuza, importante liderança Karipuna.
Bruna dos Santos Almeida, participante da etnia Karipuna e discente do mestrado em Letras, da Universidade Federal do Amapá, afirmou que o Encontro foi muito gratificante. "Foi tudo incrível! Ver as trocas de experiências das mulheres indígenas compartilhando os saberes tradicionais e ter as falas dessas guerreiras na minha pesquisa será gratificante! Cada fala tem muito significado! Parabéns às mulheres indígenas!"
Maria Alice de Oliveira
CR Amapá e Norte do Pará