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Em Mato Grosso, agricultores Xavante capacitam-se em sistemas agroflorestais
Agricultores do povo Xavante tiveram a oportunidade de participar do Curso de Implantação, Planejamento e Manejo Agroecológico de Sistemas Agroflorestais , em Mato Grosso, no final de agosto. O curso oferecido pelo Núcleo de Estudo em Agroecologia do Vale do Araguaia, do campus de Barra do Garças do Instituto Federal de Mato Grosso (NEA-VA/IFMT), com assessoria pedagógica do Instituto Flor de Ibez, priorizou atividades práticas para trazer os conceitos, princípios e técnicas ligados aos sistemas agroflorestais inspirados na sucessão natural.
Além dos Xavante de cinco aldeias das terras indígenas Sangradouro e São Marcos, cuja participação foi apoiada pela Funai, via Coordenação Regional (CR) Xavante, estiveram presentes agricultores do projeto de assentamento Serra Verde, no município de Barra do Garças, servidores do Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT) e da Funai.
O objetivo foi recuperar, por meio da fusão entre práticas tradicionais e aprendizado de novas técnicas, os antigos hábitos alimentares Xavante. Baseados na produção em roças de toco, coleta de frutos do cerrado e caça, esses hábitos começaram a perder espaço para a compra de alimentos na cidade, diante das mudanças do uso impostas a seu território, o que tem ocasionado diabetes, desnutrição e outras doenças. Ao considerar a autonomia das comunidades e a conservação ambiental, as técnicas agroecológicas se revelam de baixo custo de implantação e bastante integráveis às práticas tradicionais.
Dividido em seis módulos, o curso, que contou com professores e iniciativas de referência, como a Rede de Sementes do Xingu e a Cooperafloresta, reuniu os participantes desde março, durante um fim de semana por mês. Em cada etapa, os estudantes implantaram diferentes formatos de módulos agroflorestais e aprenderam técnicas de coleta de sementes e manejo dos sistemas por meio de podas.
Uma feira agroecológica marcou o encerramento do curso, no dia 31 de agosto. Os moradores da cidade puderam levar hortaliças e verduras produzidas sem veneno nas agroflorestas implantadas no IFMT e no assentamento Serra Verde pelos participantes do curso. Em roda de conversa de encerramento, os participantes comentaram sobre o aprendizado. "Já estou usando na aldeia algumas coisas que aprendi. O pé de laranja está com capim e raízes embaixo dele. Se molho hoje, amanhã não molho. Eu vejo embaixo, está cheio de água. E ainda vou levar essas trocas de sabedorias e de ideias para a aldeia e lá posso trocar outras ideias com meus irmãos", destaca Domingos Sávio Tserenhi'odi, da aldeia Riprere, na TI Sangradouro.
Com o fim desta etapa, inicia-se outra de implantação de módulos agroflorestais nas aldeias dos participantes do curso, desenvolvida pela CR Xavante com assessoria técnica do Instituto Flor de Ibez. Já ocorreram reuniões e visitas técnicas nas aldeias para definir como será o trabalho desenvolvido em cada uma.
Maíra Ribeiro
Coordenação Regional Xavante