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Povo Ticuna perde Pedro Inácio Pinheiro, símbolo de luta e resistência
"Eu morro por ele, por este meu povo. Por isso eu morro, por ela, esta terra, todas as coisas que acontecerem. Por ela eu morro". A frase, de 1983, foi dita por Pedro Inácio Pinheiro, cacique geral do Povo Ticuna, e fez parte do livro Minha luta pelo meu povo . Hoje, 35 anos depois, essa grande liderança deixa órfã a comunidade a que serviu como inspiração de vida.
Pedro tinha 74 anos, era natural da Terra Indígena Eware, município de São Paulo de Olivença (AM), e liderava o povo Ticuna, maior população indígena do país, sendo um dos caciques mais importantes e respeitados por sua trajetória política no movimento indígena desde os anos 70.
Considerado pelas demais lideranças como um sábio tradicional de sua cultura, Pedro também era um desenhista e entoador de cantigas tradicionais na língua Ticuna. Sempre pregava a importância da união entre seu povo para o fortalecimento de suas lutas e resistência. Ao longo de sua vida, o cacique manteve uma postura forte em defesa dos direitos coletivos. Sempre dizia que nunca se corrompeu porque sua missão não se resumia a si, mas em prol de seu povo e na defesa de seus territórios.
Para Mislene Metchacuna Mendes, servidora da Funai e Coordenadora Regional de Alto Solimões, "o legado que Pedro deixa a todos nós é continuarmos a luta e jamais nos rendermos aos anti-indígenas, que se fascinam com aquilo que não é eterno, o dinheiro, ao invés de cuidarem dos territórios, que é a mais importante herança para as gerações futuras".
Paulo Mendes Ticuna, da aldeia Umariaçu (Tabatinga/AM) criou, junto com Pedro Inácio, o Conselho Geral da Tribo Ticuna-CGTT, que tomou a frente da luta pela demarcação das terras indígenas desta população que, à época, tinha seus territórios ocupados por madeireiros, pescadores, fazendeiros e outros invasores. "O cacique deixou de lembrança para nós a demarcação das terras que estão aí, a educação e a saúde. (...) Eu e Pedro viajamos para fora do país e buscamos apoio. Nós conquistamos. Nós conseguimos aquele apoio", afirma Paulo, referindo-se ao episódio ocorrido em 1988, conhecido internacionalmente como o "Massacre do Capacete", quando o cacique viajou para a Áustria e conseguiu apoio financeiro para os trabalhos de demarcação das terras Ticuna.
Em abril de 2017, Pedro foi homenageado no Fórum de Educação Escolar Indígena do Amazonas (FOREEIA), durante o III Encontro de Lideranças Indígenas do Amazonas , devido aos seus grandes feitos em defesa dos direitos dos povos indígenas. O cacique participou da Marcha pela Resistência Indígena no Amazonas , também no ano passado.
"As lideranças que ficam e as novas lideranças que estão nascendo continuam na luta preservando a terra, os lagos e a floresta, que continua em pé, pois Pedro sempre dizia que "um dia nós vamos ficar sem as árvores, um dia vamos ficar sem terra, vamos cuidar!", completa Paulo Ticuna, "essa é a mensagem que ele deixa pra todo o mundo."
A trajetória de vida, de luta e resistência de Pedro Inácio é exemplar para as gerações presentes e futuras do Povo Ticuna pois, para ele, se fosse necessário morrer por seu território, assim o faria, mas jamais fugiria da luta.
O corpo de Pedro está sendo velado desde quarta-feira (25), na funerária São Francisco, no bairro Cachoeirinha, Zona Sul de Manaus, e será sepultado na cidade de São Paulo de Olivença/Alto Solimões.
1. Minha Luta pelo meu povo - Duṻṻ güca' Tchanu - Marília Facó Soares.
Ana Carolina Aleixo Vilela
Ascom/Funai
Com informações da Coordenação Regional Alto Solimões