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Parceria entre Funai e Povo Jamamadi promove a proteção de índios isolados no Médio Purus, Amazonas
Proteção, vigilância, expedições de localização. Seria possível o trabalho com povos indígenas isolados e de recente contato ser ainda mais extenso e complexo? A Frente de Proteção Etnoambiental Madeira-Purus (FPEMP) tem provado que sim.
Imagem da capa, os indígenas Timoteo Hi-merimã, Abadias Wayafi, José Hawa e Jaime Nakanike com cerâmica dos Hi-Merimã isolados
Nos últimos anos, as bases de vigilância da FPEMP em Canaru, Piranha e Suruwaha – estrategicamente instaladas nas Terras Indígenas Hi-Merimã e Zuruwahã, têm atuado com excelência na vigilância ostensiva e em tempo integral desses territórios, priorizando a proteção e o monitoramento da área.
Estas atividades da Frente de Proteção Etnoambiental Madeira-Purus contam com a articulação da Coordenação Regional Médio Purus e Coordenação Regional Madeira junto com as Coordenações Técnicas Locais de Lábrea, Pauini, Canutama e Tapauá. A PFEMP recebe o apoio das seguintes organizações:
- Federação das Organizações e Comunidades Indígenas do Médio Purus (Focimp);
- Conselho Indigenista Missionário (Cimi);
- Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio);
- Operação Amazônia Nativa;
- Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB);
- Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional (UFRJ);
- Serviço Florestal Americano (US Forest Service); e
- Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid).
Ações integradas
A FPEMP, também realiza, anualmente, desde 2014, diversas expedições de localização nas áreas correspondentes a registros da presença de dois povos indígenas isolados. Os Kagwahiva no interflúvio Roosevelt/Purus; e os Arawá no interflúvio Juruá/Purus. Mas, para além das ações de vigilância e fiscalização, é o aspecto integrador que tem se destacado no trabalho dessas bases.
Estas unidades avançadas da Fundação Nacional do Índío têm se consolidado como importantes espaços de interlocução e articulação com os povos indígenas, comunidades não indígenas do entorno e antropólogos, tanto por ocasião de oficinas de capacitação, quanto, de forma mais cotidiana, em encontros para troca de experiências diversas.
Os cursos de treinamento e oficinas reúnem, regularmente, representantes dos povos indígenas Jamamadi, Jarawara, Banawa, Apurinã e Paumari para formação continuada e reflexões sobre o território e o trabalho de vigilância. Alguns temas abordados em tais encontros tornaram-se pautas frequentes nos debates locais: as concepções sobre isolamento e contato no médio Purus; a importância das plantas e suas formas humanas; o uso dos venenos; a centralidade do tabaco (tabaco:
sina
na língua madi e
kumadi
, em suruwaha) para muitos povos da região, para citar apenas alguns temas.
Hi-Merimã, um caso de sucesso
As ações no território Hi-Merimã é um caso emblemático de uma experiência bem sucedida da parceria entre Funai, povos indígenas, não indígenas e antropólogos, e do investimento da FPEMP em compreender uma dinâmica social mais ampla na qual estes povos da família linguística arawá estão inseridos. O fortalecimento das ações de vigilância e proteção do território do povo indígena isolado Hi-Merimã resulta da compreensão e do reconhecimento de diversos aspectos: o amplo contexto de relações sociais entre os povos Madi, conjunto ao qual pertencem os Hi-Merimã, a centralidade da relação destes povos com o universo vegetal e o violento histórico de contato com os brancos e de como ele afetou bruscamente as configurações das comunidades indígenas Arawa de todo o curso do médio Rio Purus.
Desde o ano de 2016, as expedições de monitoramento dos vestígios Hi-Merimã são realizadas sempre com a importante participação dos povos indígenas do entorno, sobretudo os Jamamadi, que compartilham com os isolados importantes aspectos de sua cosmologia, organização social, práticas de manejo da mata entre outras questões. Como resultado, essas expedições têm revelado que um dos reflexos salutares das ações de vigilância e fiscalização é a retomada paulatina por parte dos Hi-Merimã de territórios de uso tradicional.
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A expedição de monitoramento realizada em setembro de 2018 pela FPEMP, com a participação dos Jamamadi, percorreu a região do igarapé Canuaru, no interior do território Hi-Merimã, e revelou vestígios que comprovam a retomada de uma dinâmica territorial que fora abandonada em virtude dos riscos e do assédio exercido por invasores. A intensificação das articulações do entorno e a reconfiguração do sistema de vigilância de acordo com as transformações para uma nova realidade são alguns dos desafios que a FPEMP, os indígenas e demais parceiros deverão enfrentar juntos nos próximos anos.
Quem são os Hi-Merimã?
Os Hi-Merimã desmistificam algumas definições da categoria coletor-caçador, na medida em que suas técnicas de manejos são tão elaboradas quanto às dos povos mais sedentários e agricultores. Eles extraem o vinho de palmeiras como açaí, bacaba, buriti e pataua com utensílios que produzem junto com cerâmicas.
Para os Hi-Merimã, o
modus
de vida itinerante é caracterizado por uma mobilidade cíclica. Eles permanecem por um ano – no máximo – em uma determinada região. De tempos em tempos, aproximadamente de quatro em quarto anos, os Hi-Merimã revisitam seus antigos acampamentos.
Daniel Cangussu, coordenador da FPEMP, constata: "parece haver dois padrões distintos de mobilidade apresentados pelos Hi-Merimã a julgar pelos vestígios que temos analisado nos últimos cinco anos. Penso que os Hi-Merimã, a exemplo dos seus vizinhos Jamamadi, Banawa e Suruwaha, são um coletivo, não um povo, formado por pequenos grupos dispersos e com grande mobilidade, a exemplo do que possivelmente foram os demais povos Arawa antes do contato com os brancos".
Assessoria de Comunicação Social/Funai
com informações de Daniel Cangussu / FPE Madeira-Purus