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Parceria entre Funai e Instituto Federal incentiva capacitação de indígenas Cinta Larga em Juína/MT
Para cerca de trinta jovens indígenas do povo Cinta Larga, em Juína, localizada no noroeste do Mato Grosso, a chance de estudar numa instituição federal ficou mais concreta. Isso porque, desde abril deste ano, o Projeto Prepara Cinta Larga, idealizado por um núcleo de professores do Instituto Federal do Mato Grosso em parceria com a Coordenação Técnica Local Juína I, tem fornecido ensino e treinamento para a realização das provas da entidade, nos níveis médio e superior, que ocorrerão em novembro.
Durante os encontros, promovidos em um fim de semana a cada mês, os jovens têm a oportunidade de familiarizar-se com a formatação do exame e seus respectivos conteúdos, mas não só isso. Trocas de vivências com docentes e alunos da escola são frequentes e enriquecedoras. Além disso, o projeto viabiliza o intercâmbio de experiências entre os próprios indígenas, que poucas vezes partilham do mesmo espaço de maneira leve e descontraída, em virtude de estarem em aldeias distantes umas das outras.
A iniciativa foi idealizada a partir do diagnóstico realizado nas aldeias da etnia, que identificou uma crescente demanda desses jovens por qualificação. Paralelo a isso, a percepção dos professores de que as vagas reservadas para indígenas não estavam sendo ocupadas. Uma das coordenadoras do projeto, a professora e engenheira agrícola, Thaís Vasconcelos, falou um pouco sobre suas impressões.
"Trabalhar com os jovens Cinta Larga é uma experiência única. Eles são estudantes extremamente empenhados. Enquanto instituição, é nossa obrigação incluir todas e todos que querem estudar. A pluralidade de culturas é algo que também deve nortear a prática acadêmica. E essa prerrogativa não poderia acontecer de maneira mais satisfatória", disse a professora.
Para Ronaldo Xibebum, que pretende fazer o curso técnico de agropecuária, apesar do alto grau de dificuldade dos testes, o projeto é um ponto de partida fundamental para trazer melhorias à família e à etnia. "É um pouquinho difícil, mas é tentando que se consegue. Eu pretendo melhorar minha aldeia e as outras aldeias do meu povo. Quero fazer o curso de agropecuária para vender melhor o nosso produto, que hoje é a castanha, e melhorar nossas roças tradicionais. Quem sabe no futuro outros produtos também, como o óleo de copaíba. Eu quero que meu estudo sirva para melhorar a vida de todo mundo", afirmou.
Os jovens acordam bem cedo para, independentemente das dificuldades, estudarem por um futuro melhor. É o caso de Daniela, que já levou o filho de um ano, Bruno Apamakut, para acompanhá-la durante um dos encontros. Ela pretende cursar Administração no nível superior. "Meu desejo é dar continuidade a meus estudos, pois isso é muito importante. Vou aprender como dirigir uma pequena empresa, para que um dia a gente possa criar uma empresa para beneficiar e vender nossa castanha por um preço mais justo", relatou a jovem.
As aulas são realizadas, alternadamente, no instituto federal e na Aldeia Rio Seco, que fica a cerca de 90 quilômetros de Juína. "Mais do que um mero cursinho para o processo seletivo, o Prepara Cinta Larga tem como meta tornar o espaço do IF familiar aos indígenas. Acreditamos que a sensação de fazer parte desse meio, mesmo que de forma incipiente e gradual, é um componente potencializador para condicionar o ingresso desses jovens, visto que muitos deles sequer sabiam da existência dessa entidade e da consequente possibilidade de acessá-la. Fora isso, levar professores e técnicos do instituto à aldeia em projetos de extensão é uma maneira de fazer com que esses povos se sintam contemplados e visibilizados pelo Estado brasileiro, criando pontes que podem incentivar ainda mais essas pessoas", afirma Vagner Campos, coordenador técnico local das TIs Serra Morena e Parque Aripuanã.
Vagner Campos
CTL Serra Morena e Parque Aripuanã/Funai