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Maior pacote de editais do Ministério da Cultura se destaca por priorizar inclusão e diversificação do cinema nacional
Lançado no dia 7 de fevereiro, o programa #AudiovisualGeraFuturo abre hoje (26) as inscrições para 8 dos 11 editais anunciados para 2018. De acordo com o site oficial do Ministério da Cultura (MinC), esse é o maior programa, até hoje, no que diz respeito à quantidade de projetos e recursos, além de fortemente representativo pela busca da inclusão e diversificação do cinema nacional.
Após levantamento da Agência Nacional de Cinema (Ancine), observou-se que, de 142 longas brasileiros lançados comercialmente em 2016, 75,4% foram dirigidos por homens brancos. Sendo assim, o programa investirá 80 milhões do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) em aproximadamente 250 projetos, objetivando, entre outras metas, estimular a participação de mulheres, negros e indígenas, bem como a descentralização do setor audiovisual.
As produções contempladas são longas de animação, curtas e séries de narrativas para infância, narrativas transmídias para infância, jogos digitais, duas linhas de documentários (temáticas indígenas ou afro-brasileiras e temas voltados à infância e juventude). O montante de R$ 10 milhões será empregado nos demais editais que contemplam o desenvolvimento de projetos para infância e para a temática dos 200 anos de Independência. Por fim, R$ 16 milhões serão investidos em uma linha inédita: o edital de festivais, mostras e eventos de mercados audiovisuais.
Com exceção da última, que terá como enfoque a difusão, reservando porcentagens das vagas a participantes não provenientes do eixo Rio-São Paulo, todas as outras categorias apresentarão cotas para mulheres, negros e indígenas, além da reserva de vagas referentes à região de produção.
Em discurso no lançamento do programa, o Ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, ressaltou que todo montante empregado é investimento e que o FSA fará jus a uma parte das receitas auferidas pelos projetos quando prontos. "Estamos falando de linhas de investimento e, portanto, são linhas reembolsáveis(...) Os recursos do FSA são gerados pela própria atividade, pelo próprio setor audiovisual e são recursos reinvestidos pelo Ministério da Cultura, por meio da Secretaria do Audiovisual e da Ancine, no setor, visando promover o seu desenvolvimento", esclareceu Sá.
A notícia é bem recebida pelos cineastas indígenas. Em desenvolvimento crescente, as produções de autoria indígena apresentam um olhar nativo e real sobre a vida nas aldeias. Fruto de projetos que têm incentivado o registro audiovisual produzido, dirigido e roteirizado nas comunidades, como o Vídeo nas Aldeias , Cinema de Índio e outros, o cinema indígena vem gradativamente ocupando seu espaço e se consolidando no país e no mundo.
Maricá Kuikuro, do Coletivo Kuikuro de Cinema, dirigiu, em 2004, Nguné Elü - O Dia em que a Lua Menstruou e, em 2006, Imbé Gikengü - Cheiro de Pequi .
Maricá vê a iniciativa do MinC como uma oportunidade de incentivo e divulgação do cinema indígena. Para ele, as comunidades indígenas são impactadas pela produção de audiovisual devido à possibilidade de, por meio dela, conseguir manter suas tradições ao divulgá-las aos mais jovens e aos não indígenas.
O cineasta enxerga no fazer audiovisual o prazer de registrar, com câmera em mãos, diversas culturas, ser respeitado como cineasta indígena e divulgar o seu trabalho a todos, inclusive não indígenas, que "têm a oportunidade de conhecer e vivenciar sua cultura através da lente da câmera", segundo ele.
Mas a vida de cineasta apresenta, também, seus entraves. Maricá conta que enfrentou muitas dificuldades mesmo dentro da aldeia quando começou.
Era difícil para os demais acreditarem que seu trabalho lhes seria útil, e chegavam, às vezes, a se recusarem a participar. Mas Kuikuro alega que ficava tranquilo acreditando que um dia seria respeitado pelo que fazia. "Depois que eles viram o resultado do trabalho foi que entenderam como o que eu fazia era tão importante para o povo", acrescentou.
No entanto, algumas dificuldades do trabalho de Maricá ainda não foram vencidas, como a falta de recursos, por exemplo. Esta é a mesma dificuldade que muitas vezes acomete Alexandre Pankararu, que produziu ao lado de Graciela Guarani, em 2012, o documentário O Rio tem Dono e, em 2014 e 2016, os documentários em curta-metragem Terra Nua e Mãos de Barros, respectivamente.
Pankararu aponta que a falta de incentivo financeiro leva muitos realizadores indígenas a abandonarem a atividade em busca de outras fontes de renda para subsistência. Sua visão é de que os editais do MinC são importantes, mas ainda insuficientes para a demanda de cineastas indígenas. Ele espera que, nos próximos anos, os editais deem ainda mais possibilidade para as realizações indígenas e outros segmentos.
Clique aqui para acessar os editais do #AudiovisualGeraFuturo já publicados.
Kézia Abiorana
Ascom/Funai