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Intercâmbio promove diálogo intercultural entre povo A’uwẽ e Kĩsêdjê
As experiências e iniciativas sustentáveis de geração de renda empreendidas pelos Kĩsêdjê chamaram a atenção dos Xavante (autodenominados A'uwẽ) que, para conhecê-las, empreenderam uma viagem de quase 600 km, promovida pela Coordenação Regional Xavante na primeira semana de dezembro.
O destino foi a Terra Indígena (TI) Wawi, mais precisamente a aldeia Kikatxi, que fica em Querência-MT. A viagem contou com a participação de servidores e indígenas de quatro terras diferentes: TI Sangradouro, São Marcos, Parabubure e Ubawawe.
Leonardo Warovedene, um dos A'uwê que participaram do intercâmbio, ressalta que a experiência tem um forte valor intercultural e motivador: "A questão indígena no país é muito peculiar. Os povos estão inseridos em processos diferentes e têm condições distintas. A comunidade Kĩsêdjê é relativamente pequena, se comparada à Xavante, porém enfrenta as mesmas dificuldades. Eles têm tido êxito na questão da sustentabilidade (...) conhecer essa realidade nos dá ânimo, porque estamos tentando priorizar esse aspecto, buscando sobreviver em nosso território de uma forma nova."
Enquanto os A'uwe compartilharam seus conhecimentos e vivências como professores, cineastas, caciques e agricultores e Warovedene contou sobre sua experiência como vereador indígena no município de Santo Antônio do Leste, os Kĩsêdjê narraram sua história e atividades desenvolvidas pela Associação Indígena Kĩsêdjê (AIK) e pela Escola Central Kĩsêdjê.
Yaiku Suya, diretor da AIK, também relatou alguns projetos que realiza junto com instituições parceiras, como o Instituto Socioambiental (ISA). Entre eles, produção e comercialização de óleo de pequi, mel e pimenta.
Em roda, cada povo expôs alguns de seus artesanatos, materiais e alimentos. Os visitantes apresentaram o que levaram, como o tsiõno , cesto de buriti feito pelas mulheres, e o mo'oni , o cará nativo do cerrado, apreciado e cultivado pelo povo A'uwẽ. Nelson Rudzane Hambe, da TI São Marcos, presenteou o filho do cacique Kĩsêdjê com a gravata tradicional A'uwẽ feita pelo seu pai.
Na ocasião, também ocorreu o moitará , palavra xinguana que denomina momento de troca. Depois que o primeiro A'uwê trocou um cará por penas com um Kĩsêdjê, em pouco tempo tanto visitantes quanto anfitriões trouxeram mais materiais e o espaço se tornou uma grande feira de trocas.
Realidade Kĩsêdjê
Os Kĩsêdjê explicaram aos visitantes que a TI Wawi é uma terra reconquistada do seu território original, que foi ocupado por fazendas após terem sido deslocados dali para a Terra Indígena do Xingu, em meados do século XX.
Kikatxi, maior e mais nova aldeia Kĩsêdjê, ainda está em construção. A comunidade vivia na aldeia Ngôjwêrê, mas decidiu se mudar para evitar os limites da terra indígena, devido à proximidade das lavouras de soja adjacentes e à consequente exposição aos agrotóxicos.
Durante o intercâmbio, os visitantes percorreram uma parte do território e conheceram a antiga aldeia, onde está a agroindústria de óleo de pequi e pomares formados de pequi do Xingu plantados pelos Kĩsêdjê. O grupo também visitou a fazenda comunitária Ronkhô, uma experiência do povo Kĩsêdjê de consórcio de pequi e gado.
Na despedida, os A'uwẽ agradeceram a oportunidade da visita e mostraram-se admirados e animados com as iniciativas que conheceram.
serviu de aprendizado a ser aprimorado em futuros intercâmbios, para trazer novas reflexões e conhecimentos para os A'uwẽ e para os servidores.
Coordenação Regional Xavante e Assessoria de Comunicação/Funai