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Encontro de Mulheres A’uwẽ Xavante reúne representantes de todas as terras xavante
Cerca de 40 mulheres xavante se reuniram na Aldeia Bom Jesus da Lapa, na Terra Indígena (TI) Parabubure, em Campinápolis/MT, para participarem do primeiro Encontro Geral de Mulheres A'uwẽ Xavante , ocorrido na última semana (2 a 6 de julho).
Representantes de todas as sete Terras Indígenas xavante (Areões, Marãiwatsédé, Marechal Rondon, Parabubure/Ubawawe/Chão Preto, Pimentel Barbosa, Sangradouro e São Marcos) percorreram distância aproximada de 500 km para discutirem e trocarem experiências sobre a realidade da mulher xavante em cada região.
O evento promovido pela Coordenação Regional (CR) Xavante, com apoio da Coordenação-Geral de Promoção da Cidadania (CGPC), ocorreu após encontros regionais de mulheres em todas as Terras Indígenas Xavante, em andamento desde 2014, também desenvolvidos pela Funai.
A parceria entre a Funai e as mulheres Xavante, contou com a colaboração da Aldeia Bom Jesus da Lapa, Escola Estadual Indígena Wa'omorã, Núcleo de Produção Digital do Campus Araguaia da Universidade Federal de Mato Grosso, CR Ribeirão Cascalheira, CR Regional Xingu, Secretaria Municipal de Educação de Nova Nazaré/MT, Secretaria Municipal de Educação de Água Boa/MT e Casa de Saúde Indígena – Casai de Campinápolis/MT.
Além das mulheres xavante, quatro convidadas xinguanas, da Associação Yamarikumã de Mulheres Xinguanas e uma convidada do povo Tapirapé participaram do encontro. Na oportunidade, Kaiulu Yawalapiti, presidente da Associação Yamarikumã, relatou a história da formação da associação, compartilhando as dificuldades e realizações sob o olhar atento das participantes xavante.
Kaiulu foi enfática ao afirmar que as mulheres indígenas devem buscar autonomia para organizar os encontros de mulheres e desenvolver as próprias atividades: "A Funai pode apoiar, pode ajudar a escrever o projeto, conseguir recurso para realizar, mas é de vocês, mulheres Xavante, que deve partir qual vai ser a programação, quais os temas discutidos".
A apresentação de Kaiulu marcou a indígena Maria Gorete Wa'utomodutsi'õ, da Aldeia Três Marias da própria TI Parabubure, que considerou a presença das xinguanas numa aldeia xavante como a melhor parte do evento: "Achei bonito, ela é realmente uma guerreira, porque ela abriu as portas e lutou para conseguir espaço para as mulheres. Isso ajuda as mulheres a pensarem de outra maneira. Agora vamos pensar na evolução para as mulheres indígenas, principalmente xavante, para seguir em frente, para abrir os olhos, pensar, aprender mais, ter o nosso espaço."
Depois disso, as mulheres xavante da TI Marãiwatsédé e da Aldeia Ripá, na TI Pimentel Barbosa, também compartilharam a experiência do trabalho dos grupos de coletoras de sementes que vêm realizando na Rede de Sementes do Xingu.
A jovem Nelice Roosisãmri, da Aldeia Batovi, na Terra Indígena Marechal Rondon, em Paranatinga/MT, fez questão de declarar a satisfação com o encontro: "Estou muito feliz por estar aqui. Estou gostando da reunião. Tem muitas ideias novas que a gente aprende com outras pessoas e existe também a possibilidade de orientar as mais novas, explicando o que está acontecendo na aldeia."
Feira, debates e corrida de tora
No terceiro dia do encontro, ocorreu a Feira de Troca de Sementes e Artesanato. As mulheres levaram variedades tradicionais de milho, feijão e abóbora. O povo Xavante possui variedades próprias de feijão e milho. São conhecidas sete variedades de milho xavante, diferenciadas pela cor. Na feira de trocas, levaram as variedades vermelha, branca e amarela. Em muitas aldeias, estas variedades se perderam, e no momento da troca, as mulheres aproveitaram para recuperar variedades que não existem mais em sua região.
Os debates promoveram discussões profundas entre as mulheres xavante sobre as dificuldades e desafios vividos em cada região. Temas como violência doméstica e gravidez precoce apareceram como grandes preocupações para elas. Foram encaminhadas propostas de ações conjuntas entre as comunidades xavante, as Coordenações Regionais (CR) da Funai, o Distrito Sanitário Especial Indígena Xavante e os órgãos municipais e estaduais de assistência social e educação no intuito de avançar nestas questões.
Ao final do evento, ocorreu a corrida de tora de buriti das mulheres, evento em que as representantes dos grupos etários rivais competem numa corrida de revezamento da tora de buriti por uma distância de aproximadamente 3 km. Segundo os moradores da aldeia, a tora que pesava mais de 40 kg estava leve. Na corrida, a coragem da mulher xavante apareceu também na força física e determinação da competição.
Na plenária final, as mulheres manifestaram o desejo de realizar o segundo Encontro Geral de Mulheres Xavante em 2019. Para tanto, foi montada uma comissão com representantes de todas as Terras Indígenas e da Funai para a organização do próximo evento, que ainda não tem local definido.
Maíra Ribeiro
Coordenação Regional Xavante