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Professor indígena ensina a língua kaingang na Unicamp
O Departamento de Linguística da Unicamp conta, neste semestre, com um falante da língua kaingang como Professor Visitante Especialista. É o professor bilíngue Selvino Kókáj Amaral, Kaingang da Terra Indígena Guarita, no Rio Grande do Sul. Selvino, que conquistou uma das oito vagas disponíveis, vai trabalhar no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da universidade até dezembro de 2017.
Além de colaborar em disciplinas dos cursos de graduação e no projeto de extensão Revitalização do Kaingang Paulista, Selvino está ministrando, em parceria com o linguista e professor Wilmar da Rocha D'Angelis, o curso livre intitulado "Língua kaingang viva: pesquisa e prática em uma língua Jê". O curso é aberto aos acadêmicos e à comunidade.
Selvino é membro da ONG Kamuri - Indigenismo, Ação Ambiental, Cultura e Educação e, desde 2008. Também faz parte do Projeto Web Indígena, na condição de gestor da página "Kanhgág Jógo" (www.kanhgag.org), único site totalmente em língua indígena no Brasil. Ele vem colaborando ainda com o projeto de revitalização linguística do Kaingang Paulista, desenvolvido pela Coordenação-Geral de Promoção à Cidadania da Funai, por meio da Coordenação Regional Litoral Sudeste (CR-Lise) em parceria com a ONG Kamuri e com o Grupo de Pesquisa INDIOMAS, do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL)/Unicamp, liderado pelo linguista Wilmar D'Angelis.
Segundo a CR-Lise, o Kaingang Paulista é de suma importância para os Kaingang, hoje o terceiro maior povo indígena no Brasil, tanto em números de pessoas como de falantes da língua indígena. Desde 2013, o Projeto de revitalização da língua Kaingang Paulista definiu como importante a confecção de um dicionário escolar da língua, e o professor Selvino será de importância fundamental para a conclusão desse projeto, que deve ser concluído entre 2017 e 2018, informa a CR. Os Kaingang paulistas foram os últimos a entrar em contato com a sociedade brasileira no sul/sudeste do Brasil. Em 1912, quando foram "pacificados" depois de muitos anos de resistência à ocupação do seu território, eram, segundo Darcy Ribeiro, cerca de 1200 pessoas. Hoje restam cinco falantes.
Embora com diferenças dialetais e de vocabulário, a língua kaingang paulista é inteligível para os demais Kaingang, e esse dicionário deve enriquecer também as outras comunidades com os conhecimentos que os Kaingang de São Paulo detêm, como a indústria da cerâmica, alimentos tradicionais a partir do milho preto, além de técnicas de cultivo e pescaria por eles conhecidos.
Colaboração: Juracilda Veiga – Funai/Coordenação Regional Litoral Sudeste