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II Feira dos Povos do Médio Xingu promove interação e oportunidades de negócios em Altamira-PA
Indígenas e extrativistas de 11 terras indígenas e de cinco unidades de conservação federais levaram mais de cinco mil produtos para a II Feira dos Povos do Médio Xingu, realizada nos dias 10 e 11 de junho, em Altamira, no Pará. De acordo com os organizadores, quase todos os itens foram comercializados ou trocados entre os participantes.
A Feira é organizada pela Fundação Nacional do Índio (Funai) e pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), com apoio de parceiros locais. Desta segunda edição, participaram 126 pessoas, sendo 85 indígenas das etnias Araweté, Parakanã, Xipaya, Kuruaya, Juruna, Xikrin, Kayapó, Kararaô e Arara e 41 extrativistas da Reserva Extrativista (Resex) do Riozinho do Anfrísio, Resex Rio Iriri, Resex Rio Xingu, Estação Ecológica Terra do Meio e Parque Nacional Serra do Pardo.
De acordo com o Coordenador-Geral de Promoção ao Etnodesenvolvimento da Funai, Juan Negret Scalia, "o evento é uma oportunidade fundamental para a articulação entre os povos indígenas e as várias populações tradicionais da região, proporcionando inúmeras trocas e aprendizados mútuos. A Feira contribui significativamente para a valorização do trabalho e dos produtos desses povos e vem se consolidando como um evento marcante no calendário da cidade de Altamira", avalia.
O evento foi criado em 2015 com o objetivo de mostrar à população urbana um pouco do que são e o que fazem os indígenas e extrativistas do Médio Xingu, criar um espaço maior no mercado local para esses povos, além de promover o encontro entre eles. Segundo Rejane de Andrade, consultora do ICMBio, "a Feira é um espaço facilitador para a construção de diálogo para a gestão territorial do Médio Xingu, compartilhado entre índios e extrativistas, e pode ser considerada como um ambiente para fortalecer e estimular a participação social nos espaços formados pelos conselhos e nos espaços e discussão".
Para o Coordenador da Frente de Proteção Etnoambiental do Médio Xingu/Funai, Luciano Pohl, o objetivo foi alcançado. "Foi muito bonito ver a intensa troca de produtos entre indígenas e extrativistas, as trocas de experiências sobre as formas de produzir e a excelente oportunidade de refletir sobre a produção de cada povo e da região, como um todo".
Espaço de trocas e de integração
A II Feira dos Povos do Médio Xingu contou também com a participação de representantes da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Nascentes Geraizeiras, do estado de Minas Gerais, convidados pela organização do evento. Eles ensinaram aos participantes como se faz tijolos de mel de cana com massa de mandioca e outros produtos produzidos no norte de Minas Gerais. Os Geraizeiros também levaram boas experiências para casa: "lá não temos tanta água como aqui em Altamira, então é muito bom conhecer como outros extrativistas vivem e produzem, é uma experiência muito boa para nós", comentou Sebastião Ramos, morador da RDS.
A pintura corporal feita pelas mulheres indígenas chamou atenção do público, assim como os produtos da agrobiodiversidade produzidos pelos extrativistas. Entre os diversos produtos que fizeram sucesso na Feira, estão: óleo de copaíba, repelente de andiroba, farinha, o biscoito de castanha, cestos, caixas de folha de cacau, doce de babaçu, cocada e raízes.
Francisco dos Santos, morador e presidente da Associação dos Moradores da Resex Rio Iriri, comentou a importância da Feira para seu povo: "É o único espaço que temos para mostrar ao mundo os nossos produtos e nosso modo de viver, que são tão ricos em história e tradição. Também é uma forma de gerar mais renda para nossa comunidade", afirmou.
Para Marth Uchôa, morador de Altamira, "a cidade precisa disso para discutirmos identidade e preconceito, principalmente das pessoas que moram nas reservas. Sou altamirense, nasci aqui e tenho pouco contato com essa população. Minha intenção nessa Feira é me alimentar dessas referências culturais", avaliou.
Outras atrações
Além das bancas com produtos, foi montada a exposição fotográfica do altamirense Evair Almeida, com imagens da primeira edição da feira. Houve também micro-oficinas de fotografia, realizadas por Mônica Lizardo e Marise Maués, que se transformou num espaço de experiências para crianças e adultos.
À noite, moradores das reservas extrativistas tocaram música, animando quem passava pelo local. No último dia, o grupo Mundu Rodá fez uma apresentação teatral chamada "Memórias da Rabeca". O espetáculo revela as memórias guardadas por sete rabecas (instrumento precursor do violino) e seus guardiões - os rabequeiros brasileiros -, colocando em foco as dinâmicas das relações entre homem e rabeca e dando voz a fatos históricos que fazem parte da construção da identidade cultural brasileira.
O evento foi realizado pelo Plano de Ação Sustentavel (PAS) da Resex Rio Iriri, subsidiado pelo Programa ARPA, em conjunto com a Funai, além de contribuições de vários parceiros e patrocinadores locais.
Ana Heloisa d'Arcanchy/Ascom
Com informações da Divisão de Comunicação Social do ICMBio