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Com apoio da Funai, livros didáticos Nhandewa-Guarani são lançados em aldeia de São Paulo
Durante a tarde de ontem (25), foram lançados, na escola da Aldeia Nimuendaju, Terra Indígena Araribá, em Avaí – SP, os livros didáticos " Lições de gramática Nhandewa-Guarani (vol I) " e " Inypyrũ :Narrativa sagrada da criação do mundo ".
As publicações inserem-se no contexto do projeto Gramática e Site Nhandewa, apoiado pela Funai desde 2013 em parceria com o Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e com a Organização não governamental Kamuri, Indigenismo, Ação Ambiental Cultura e Educação, de Campinas.
O projeto tem como objetivos a formação continuada dos professores no domínio da língua escrita e falada do idioma Nhandewa, a produção de uma gramática pedagógica e a consolidação do site "nhandewa.org" como instrumento pedagógico e de fortalecimento da língua Nhandewa, ou tupi-guarani como eles vem se auto-denominando.
O projeto, cuja responsabilidade técnica é do linguista prof. Dr. Wilmar da Rocha D'Angelis, conta com apoio financeiro da Coordenação Geral de Promoção da Cidadania da Funai e acompanhamento técnico da antropóloga Juracilda Veiga, que compõe o quadro de servidores da Coordenação Regional da Funai no Litoral Sudeste.
Para Veiga, nesses três anos de projeto, além de melhor formação linguística dos professores indígenas e aprofundamento da língua falada, houve ampla participação e mobilização dos alunos. A maioria dos professores aprendeu a língua Guarani: "Aqueles que não falavam nem escreviam hoje têm essa competência. Alguns deles podem entender e escrever e já definiram como meta a prática da oralidade, que já estão executando", declarou.
Revitalização da língua
Em 1997 o cacique Claudemir Marcolino apresentou ao prof. Dr Wilmar D'Angelis o pedido que linguistas estudassem o dialeto falado por eles, tendo em vista que o outro dialeto Guarani falado em São Paulo, o Mbyá, era muito diferente do Nhandewa, ou Apapokuva como chamou o etnólogo Curt Nimuendaju.O primeiro trabalho didático com apoio dos linguistas para essa comunidade publicou, em 2002, um pequeno livro de leitura. Em 2013 os indígenas solicitaram ao professor e à equipe da Funai a continuidade desse trabalho.
Desde então, passou-se a delinear as ações que culminariam com a proposta do projeto Gramática Pedagógica e Website Nhandewa, que objetiva a produção de site e material didático para o ensino da língua Nhandewa (ou Tupi-Guarani). A língua Nhandewa, falada pelas comunidades residentes no norte do Paraná (Laranjinha e Pinhalzinho) e pelas comunidades das aldeias Nimuendaju, Piaçaguera, Djakoaty, Itaoca-Tupi, Ribeirão Silveira e Bananal (todas no estado de São Paulo), encontra-se em risco de extinção.
O trabalho executado integra a realização de oficinas de revisão da ortografia Nhandewa, com ênfase no processo de compreensão da estrutura gramatical e no aprendizado da língua pelos professores indígenas (em sua maioria, falantes do português como primeira língua). Dentre as atividades já realizadas, destacam-se oficinas conduzidas por linguistas especializados e assessoria antropológica; discussões, análises e treinamento com os professores e lideranças Nhandewa; levantamento das principais dificuldades do ensino da língua Nhandewa; realização de treino ortográfico, baseado na Convenção Linguística Nhandewa; e realização de "treinamento em web" para criação do site Nhandewa, hospedado no Projeto Web Indígena da Unicamp.
Além do projeto Gramática Pedagógica e Website Nhandewa, a Funai também apoia e atua, por meio da Coordenação Regional Litoral Sudeste, nos projetos Revitalização Linguística do Kaingang Paulista e Dicionário Escolar; Revitalização Linguística Nhandewa do Litoral e Língua Krenak em São Paulo, todos orientados à revitalização linguística das comunidades interessadas.
Educação Comunitária
A Funai possui, entre suas atribuições institucionais, importante papel no que se refere à educação indígena. Nesse contexto, além de monitorar as políticas voltadas à educação escolar indígena, sob responsabilidade do MEC, dos estados e municípios, a Funai tem como atribuição fomentar e apoiar os processos educativos comunitários indígenas.
A Funai compreende que é papel do Estado conhecer os diferentes processos educativos dos povos indígenas, apoiá-los e fortalecê-los, respeitando as formas próprias de organização social e as diferentes visões de mundo dessas populações. Parte, para tanto, do pressuposto de que a educação não se restringe à escolarização ou aos demais processos tidos como formais, mas abrange processos diversos de ensino e aprendizagem e socialização dos conhecimentos que são essenciais para a reprodução das culturas, a gestão territorial, a autonomia e a sustentabilidade dos Povos Indígenas.
O fomento à Educação Comunitária pela Funai possui, portanto, um viés transversal que promove a interface com ações de diferentes setores dentro da Funai e de instituições que atuam com a questão indígena e cujas políticas demandam uma abordagem educativa, sempre visando o reconhecimento da autonomia dos povos indígenas.
Mônica Carneiro/Ascom Funai
Com colaboração de Izabel Gobbi (CGPC) e Juracilda Veiga (CR Litoral Sudeste)