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Mulheres Indígenas do Xingu se reúnem para discutir seus direitos
O IV Encontro das Mulheres Xinguanas foi realizado entre os dias 24 e 28 de outubro, na aldeia Capivara, Parque Indígena do Xingu (PIX). Promovido pela Associação Yamurikumã das Mulheres Xinguanas, com apoio técnico e financeiro da Funai, da Secretaria Especial de Saúde Indígena e do Fundo ELAS de investimento social, o Encontro contou com a participação de 280 mulheres indígenas.
O objetivo foi refletir sobre problemas que as afetam, como a divulgação de imagens de mulheres xinguanas na internet e em outras mídias; a saúde da mulher; e a alimentação tradicional x alimentos industrializados, com abordagem na saúde e na crise de alimentos no PIX. Desde 2014, as comunidades vêm sofrendo com a diminuição da produção nas roças de mandioca - principal fonte de alimentação, juntamente com o peixe. Entre os diversos motivos para essa diminuição estão as chuvas atrasadas em razão das mudanças climáticas e o desinteresse dos jovens pelo trabalho nas roças.
Os temas foram escolhidos pelas próprias xinguanas. São demandas que elas consideram urgentes e que carecem de solução e orientação, por se verem prejudicadas ao terem seus direitos violados. Um exemplo é a postagem, sem consentimento, de fotos tiradas de jovens e mulheres nuas durante os rituais. O compartilhamento em redes sociais dessas imagens tem gerado constrangimentos e revolta entre as indígenas.
Para contribuir com a discussão desse assunto, uma representante do Senado Federal falou sobre a Lei nº 12.737/2012, chamada de "Lei Carolina Dieckman", que dispõe sobre crimes de internet, e sobre o PL5555/2013, que altera a Lei "Lei Maria da Penha", criando mecanismos para o combate a condutas ofensivas contra a mulher na internet ou em outros meios de propagação da informação.
As dinâmicas dos trabalhos se deram em forma de plenárias temáticas, seguidas de trabalhos em grupos, em que as próprias indígenas puderam refletir a respeito dos problemas, buscando soluções com suas comunidades e instituições parceiras. "As demandas são muitas, e os homens sozinhos não dão conta. Precisamos somar forças. Não estamos aqui para competir com eles, mas para somar nossas forças para melhorar a vida do nosso povo", afirmou Sula Akuku Kamaiurá.
Além das etnias que vivem no PIX - Kawaiweté, Yudjá, Kamayurá, Ikpeng, Waurá, Trumai, Nafkuá, Kalapalo, Yawalapiti, Kuikuro, Aweti -, o evento contou com a participação de mulheres das etnias Kawaiweté do rio dos Peixes/MT e do Pará, Xavante, Apiaká, Tapirapé e Guarani Kaiowá. Kaiulu Yawalapíti Kamaiurá pôde perceber que a linha de raciocínio e demandas são semelhantes. "O que precisamos é de mais espaço para as mulheres falarem sobre seus problemas e suas ideias, respeitando seu ritmo e sua forma de pensar".
Também estiveram presentes os caciques Aritana Yawalapiti, Jakalo Kuikuro, Afukaka Kuikuro, Kowo Trumai, Pofat Kaiabi, Visio Kaiabi Mairawê Kaiabi, representantes da Procuradoria Especializada da Mulher no Senado Federal, da Associação Cultural de Realizadores Indígenas do Mato Grosso do Sul (Ascuri), da Coordenação Regional do Xingu e da Coordenação-Geral de Promoção da Cidadania da Funai, do Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) Xingu, e do Fundo ELAS de Investimento Social.
Segundo o Coordenador Regional do Xingu, Kumaré Txicão, "as mulheres são parcerias fundamentais na luta dos povos indígenas por seus direitos. Elas são mais objetivas e, no que depender da CR Xingu, sempre terão as portas abertas, assim como as demais associações".
Os resultados apresentados pelos Grupos de Trabalho apontam para a necessidade de conscientização nas comunidades e promoção de eventos que gerem intercâmbio de sementes e mudas, além da valorização da culinária tradicional. "O resultado positivo fortaleceu mais ainda o movimento das mulheres e tem mostrado que elas vieram para somar junto aos homens na busca de soluções aos problemas que suas famílias e comunidades têm vivenciado", observou Marileia Taiua, Agente em Indigenismo da CR Xingu. O relatório final servirá como orientação no planejamento das ações da Associação Yamurikumã e das instituições parcerias que atuam no PIX.
Colaboração: Marileia Taiua/CR Xingu