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Indígenas Xavante participam de curso de permacultura
Entre os quase 50 participantes do curso, seis se destacavam pelo corte de cabelo e brincos de madeira nas orelhas. Eram indígenas do povo Xavante, vindos das Terras Indígenas São Marcos, em Barra do Garças; Parabubure, em Campinápolis; e Pimentel Barbosa, em Canarana. Todas no leste mato-grossense. O Curso de Planejamento em Permacultura - do inglês Permaculture Design Certification (PDC) – foi promovido pelo sítio Flor de Ibez, em parceria com o Instituto de Permacultura da Pampa (Ipep), de 22 a 31 de julho, em Barra do Garças.
A participação dos Xavante ocorreu graças a bolsas concedidas pelo sítio Flor de Ibez, com apoio da Funai, por meio da Coordenação Regional Xavante. As bolsas integrais foram custeadas por meio de campanha de financiamento coletivo, na internet, que permitiu a participação de nove pessoas da região, entre indígenas, agricultoras assentadas e coletoras da Rede de Sementes do Xingu.
Pensar no espaço em que se habita almejando uma vivência permanente e equilibrada no ambiente, respeitando todas as formas de vida; manejar os elementos desse sistema – casas, rios, ventos, fauna, flora, os espaços de plantio e coleta –, desenhando um sistema integrado e sustentável. Essas poderiam ser referências às estratégias de gestão ambiental e territorial desenvolvidas pelos diversos povos indígenas brasileiros, mas são assuntos das aulas introdutórias dos professores João Rockett e Tatiana Cavaçana.
Rockett explica: "a Permacultura é uma ferramenta de planejamento integrado que utiliza conhecimentos ancestrais de diversas etnias do mundo, junto com o bom uso das tecnologias modernas e em harmonia com a natureza". Apesar de o termo ser pouco conhecido entre os povos indígenas no Brasil, a Permacultura vai ao encontro do que os povos vêm fazendo há gerações em todo o planeta. A apropriação desses conceitos e inovações vem somar às estratégias de resistência dos povos indígenas frente aos novos desafios, como a limitação dos territórios ou mesmo as mudanças climáticas.
A programação do curso contou com aulas práticas e teóricas de desenhos e leitura da paisagem, bem como práticas de movimentação corporal. O professor João Rockett ressaltou a relevância da participação dos Xavante na composição da turma. "Os Xavante contribuíram com observações a respeito de sua forma de abordar temas como a produção de alimentos, as construções vernaculares, o uso da terra e a implantação das aldeias" observou o permacultor.
Nas aulas práticas, os participantes puderam experimentar técnicas de construção com barro e palha, compostagem, preparação de biofertilizantes e tratamento de águas servidas através de círculos de bananeiras. Tais aprendizados trazem respostas para problemas reais enfrentados nas aldeias, como a falta de saneamento básico, mas sem trazer fórmulas prontas, caras e estranhas às comunidades. "Os próprios Xavante avaliaram ao final do curso que muitas das tecnologias apresentadas serão úteis em suas aldeias, de acordo com as exigências de suas realidades" pontuou Rockett.
O idioma foi uma das principais dificuldades para os indígenas. Para contornar o problema, durante as aulas, eles contaram com o apoio da equipe de Flor de Ibez e da indigenista da Funai Maíra Ribeiro, que também participou do curso. Essa dificuldade não os impediu de participar das atividades propostas. Eles também apresentaram danças e cantos tradicionais. Além disso, foram reservados dois espaços durante a programação para que os Xavante expusessem um pouco da sua cultura e a forma como organizam a aldeia e manejam o território.
Maíra Ribeiro acredita que iniciativas como essa possibilitam uma troca efetiva de conhecimentos entre indígenas e não-indígenas para além das relações de imposição e exploração às quais os povos indígenas costumam estar submetidos. "Todos os participantes se sensibilizaram para a questão indígena, compreendendo os desafios e as especificidades que existem e dos quais, muitas vezes, a maioria do povo brasileiro desconhece e ignora" avaliou a indigenista da Funai.
Colaboração: Maíra Ribeiro