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Ibaorebu: no caminho da conclusão de um ciclo, para que outros se iniciem
Caminhando para a conclusão da sua trajetória de formação, o Projeto Ibaorebu realizou, no período de 05 a 12 de dezembro de 2015, a V Etapa de Acompanhamento dos estudos e pesquisas , com concentração das atividades nas aldeias Katõ, Sai-Cinza e Restinga, localizadas na região do Alto Tapajós, e Sawré Muybu, no Médio Tapajós.
Realizado por meio de etapas intensivas ou "tempo escola" (aulas presenciais) e etapas de acompanhamento ou "tempo aldeia" (momento de orientação às pesquisas desenvolvidas pelos alunos), ao longo de sete anos, o Projeto Ibaorebu se constituiu como um espaço privilegiado de exercício da autonomia e do protagonismo do Povo Munduruku. É coordenado pela Funai, juntamente com os Munduruku, e possui 210 cursistas, divididos em turmas de Magistério Intercultural, Técnico em Enfermagem e Técnico em Agroecologia. O Projeto é realizado com o apoio técnico e financeiro da Coordenação Geral de Promoção da Cidadania – CGPC e Coordenação Regional do Tapajós, em parceria com o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará – IFPA (Campus Rural de Marabá e Itaituba).
Durante a V Etapa de Acompanhamento foram feitos relatos sobre as pesquisas que estão em andamento, seguidos de discussão, avaliação e orientações necessárias à conclusão das mesmas. Os temas das pesquisas são variados, tendo como foco aspectos da cultura Munduruku e os processos dinâmicos de mudanças decorrentes dos contatos interétnicos ocorridos ao longo da história desse povo. A proposta é de que as pesquisas e outros materiais escritos pelos cursistas, juntamente com os registros audiovisuais realizados durante a trajetória de formação, componham material didático e educativo para serem distribuídos às escolas das aldeias Munduruku.
Participação das Comunidades
Nas aldeias Katõ e Sai-Cinza foram os anciões e anciãs que efetivamente deram o tom aos trabalhos da etapa de acompanhamento: orientaram, contaram histórias, compartilharam os seus conhecimentos em longas falas, ouvidas atentamente por cada um dos cursistas e demais membros das comunidades – crianças, velhos, jovens, homens e mulheres.
O que presenciamos foi um valoroso e intenso processo de ensino e aprendizagem, de valorização da cultura Munduruku, de reconhecimento dos saberes dos anciões e anciãs e, portanto, de empoderamento das comunidades. Desse modo, os professores não-indígenas, colaboradores no processo, assumiram um papel de "coadjuvantes" naquele momento, mantendo uma postura de franco incentivo à autonomia e ao protagonismo dos Munduruku na condução dos trabalhos, como sempre ocorre nas atividades do Ibaorebu.
No decorrer da etapa, cursistas e membros das comunidades Munduruku também tiveram a oportunidade de assistir a vídeos a respeito do direito de consulta garantido na Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho - OIT. Pode-se resumir o direito à consulta prévia, livre e informada como a obrigação do estado em consultar povos e comunidades tribais antes de tomadas de decisão que possam afetar seus bens ou direitos. Nesse sentido, a consulta deve ser realizada por meio das instituições representativas dos povos indígenas e mediante procedimentos adequados a cada circunstância. O povo Munduruku já elaborou seu Protocolo de Consulta, documento que informa ao estado brasileiro como o povo indígena deve ser consultado para as decisões administrativas e legislativas que lhes afetem diretamente.
Os indígenas também assistiram a vídeos sobre o processo de luta e resistência do Povo Munduruku na proteção de seu território e dos bens naturais essenciais à sua vida e autonomia e aos registros audiovisuais produzidos durante as atividades do Ibaorebu. Entre elas, destacam-se o vídeo da expedição feita pela turma de Agroecologia aos "campos do Tapajós", no mês de setembro de 2015, e o documentário intitulado Mensagem do Povo Munduruku para o Combate ao Preconceito e à Discriminação , concebido por cursistas e professores do Projeto.
Práticas Pedagógicas
No que diz respeito às práticas pedagógicas que correspondem às três áreas de formação, os cursistas de Magistério Intercultural que estiveram presentes nas aldeias Restinga e Sawré Muybu fizeram o exercício de elaborar planos de aula com diferentes abordagens temáticas e ministrar aulas para os colegas.
Já os cursistas de Técnico em Agroecologia realizaram atividades de recuperação de frutíferas e quintais agroflorestais, bem como de melhorias no manejo de caixas de meliponicultura, na Aldeia Restinga. Os indígenas do curso de Técnico em Enfermagem realizaram um diagnóstico preliminar das condições de saúde na comunidade, em visitas familiares nas aldeias Samaúma e Restinga.
Na Aldeia Sai-Cinza, após as atividades de acompanhamento, foi iniciada a supervisão de estágio do curso de Técnico em Enfermagem. Observando as especificidades da saúde indígena, as práticas se concentraram em procedimentos relacionados à atenção primária em saúde, exposição sobre as doenças diarreicas e diálogos com a comunidade para a avaliação do desempenho dos cursistas.
Demandas para 2016
Dentre os debates ocorridos na etapa de acompanhamento destacou-se a preocupação com a supervisão dos estágios necessários à conclusão dos cursos, em especial o de Técnico em Enfermagem, tendo os cursistas se manifestado sobre a necessidade de efetivo apoio institucional da FUNAI e da SESAI, tendo em vista as especificidades e, sobretudo, o fato de os cursistas já atuarem no subsistema de saúde indígena, como agentes indígenas de saúde, microscopistas e agentes de saneamento.
Na área da educação, após refletirem e avaliarem o que vem sendo desenvolvido na região do Médio Tapajós, os cursistas reunidos na aldeia Sawré Muybu fizeram a proposta de realização de um encontro pedagógico com os professores Munduruku, quando deverão ser discutidos temas como: legislação, calendário diferenciado, temas da cultura Munduruku a serem incluídos no currículo de 2016, lotação de professores, relação com as comunidades e Projeto Político Pedagógico – PPP das escolas. Também foi proposta a realização de uma oficina pedagógica para troca de experiências vivenciadas no Ibaorebu com os demais professores indígenas da região.
Outra demanda debatida e que tem sido caracterizada como prioritária é a realização do Encontro Munduruku de Educação, com o objetivo de construir diretrizes para o funcionamento das escolas Munduruku e a construção da autonomia pedagógica.
Por fim, visando superar as dificuldades e garantir a realização das atividades que precedem a formatura, foi definida a proposta de realização de uma reunião da Comissão do Ibaorebu, composta por representantes de turmas, professores Munduruku, lideranças, técnicos da FUNAI e professores convidados, o que deve ocorrer logo no início de 2016.
*Assista ao documentário Mensagem do Povo Munduruku para o Combate ao Preconceito e à Discriminação, produzido no Ibaorebu: https://vimeo.com/146773026.
**Para saber mais sobre o Projeto Ibaorebu:
http://www.gov.br/funai/pt-br/.../2858-projeto-ibaorebu-uma-experie...
http://www.gov.br/funai/pt-br/.../3165-projeto-ibaorebu-povo-mundur...
http://www.gov.br/funai/pt-br/.../3313-projeto-ibaorebu-compromisso...#
http://www.gov.br/funai/pt-br/.../3422-projeto-ibaorebu-criatividad...
Texto: Izabel Gobbi (COPE/CGPC), André Ramos (COPE/CGPC) e Geraldo Dias (CR Tapajós)