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Direção do Museu do Índio se pronuncia sobre ocupação
Falar de Patrimônio Cultural é falar de voz, de representação, de identidade, de busca por reafirmar um lugar no mundo. São 63 anos de existência do Museu do Índio.
O órgão científico-cultural da Funai corre sérios riscos. Está há mais de 24h sem o menor controle dos acervos que custodia. São acervos etnográficos sobre diversos povos indígenas (o conjunto mais representativo da América Latina), bibliográficos (uma das maiores bibliotecas especializadas em etnologia indígena no Brasil) e documentos arquivísticos que são fontes probatórias das relações históricas entre o Estado brasileiro junto aos povos indígenas, sendo fundamentais em processos judiciais de demarcações de terras. O trabalho de documentação realizado pelo Museu do Índio contribuiu para a demarcação de mais de 200 terras indígenas nos últimos 30 anos.
Dentro deste universo, o conjunto documental do Serviço de Proteção aos Índios foi reconhecido como Memória do Mundo pela UNESCO em 2008. Além disso, o Museu do Índio tem sido incansável na condução de projetos de documentação de culturas e línguas dos povos indígenas. Todos os projetos e as práticas museológicas que vêm sendo desenvolvidas na última década têm como diretriz fundamental uma abordagem participativa dos povos indígenas. Todas essas ações contam com a participação direta de mais de 30 povos, tendo contribuído para a formação de 215 pesquisadores indígenas, engajados nos projetos de documentação realizado em parceria com a UNESCO.
O Museu do Índio tem sido espaço de diálogo, de compartilhamento, de debates promovidos pelo curso Dimensões das Culturas Indígenas - atualmente ministrados por especialistas e por lideranças e pesquisadores indígenas -, de qualificações de acervos, sempre buscando conhecer quais são as principais e diversas necessidades dos povos indígenas em relação ao seu patrimônio, suas questões identitárias. As ações têm sido pensadas em direção ao fortalecimento de suas culturas para possibilitar o fortalecimento de suas mobilizações na busca incansável para garantir seus direitos.
É inconcebível e reprovável o que ocorre hoje no Museu do Índio. São seis dias de ocupação – especificamente na noite do dia 17, domingo, ocorreu uma invasão violentíssima – que podem acabar com décadas de trabalho a serviço dos povos indígenas e da conscientização da sociedade em relação à sua diversidade cultural. Depredação dos portões tombados, arrombamento das salas de trabalho, tentativa de arrombamento das reservas, agressão verbal e física à funcionários do Museu e incitação de ódio e desrespeito aos representantes Fulni-ô, que se manifestam inconformados com o desrespeito ao patrimônio ali depositado.
É a situação do Museu do Índio hoje. O dano pode ser irreparável. A Federação das Organização Indígenas do Rio Negro (FOIRN) e outras lideranças indígenas já manifestaram apoio à integridade dos acervos que o Museu guarda e repudiam fortemente o tipo de ocupação que foi realizada.
Todas as medidas legais têm sido tomadas para garantir a preservação dos espaços e do acervo, mas é com tristeza e sensação de impotência que este patrimônio cultural depositado corre risco de desaparecimento.
Há pouquíssima clareza por parte dos manifestantes do tipo de atuação do Museu do Índio dentro da Funai e do trabalho que vem sendo desenvolvido na instituição.
A Direção do Museu já solicitou à Justiça a reintegração de posse para evitar danos aos bens culturais materiais e imateriais dos povos indígenas e ao patrimônio público do povo brasileiro. Somos um órgão científico e cultural e TODAS as reivindicações apresentadas saem completamente da nossa alçada.
Direção do Museu do Índio
19 de julho de 2016