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APIB divulga carta aberta em entrevista coletiva sobre a condução da Tocha Olímpica
A articulação dos povos indígenas do Brasil (APIB), representada pelo indígena Toya Manchineri, divulgou carta aberta na tarde de hoje (2), em entrevista coletiva sobre a participação de indígenas brasileiros na condução da Tocha Olímpica.
A coletiva foi realizada no Memorial dos Povos Indígenas, com a participação do diretor da instituição, Álvaro Tukano, e lideranças indígenas do Xingu, do nordeste e do Amazonas.
Durante a coletiva, os indígenas reafirmaram suas principais demandas no que diz respeito à manutenção das garantias constitucionais e demarcação de todas as terras indígenas do Brasil, dando ênfase à situação de extrema violência vivenciada, hoje, pelos povos Guarani e Kaiowá do Mato Grosso do Sul.
Na carta aberta, a APIB reconhece a importância da realização das Olimpíadas Rio 2016 e da promoção do esporte no Brasil, mas lamenta a ausência dessas políticas públicas junto às populações indígenas, "sobretudo reconhecendo as suas especificidades e diversidade". Denuncia ainda o preconceito, o racismo, a intolerância e o conjunto de violências a que são submetidos os mais de 900.000 indígenas do território brasileiro.
Uma das críticas apresentadas por Manchineri diz respeito à falta de incentivo estatal para o fomento aos esportes indígenas e, ainda, a necessidade de se retratar a imensa riqueza cultural brasileira na abertura do evento, para mostrar ao mundo "que o Brasil não é apenas o país do samba e do futebol".
Destacou, também, a grande contribuição que os povos indígenas dão ao mundo na construção de uma cultura de paz: "a expressão dos povos indígenas vem trazer um grande exemplo para o mundo da cultura da paz, onde a intolerância reina cada dia mais, onde crianças, jovens e mulheres são os mais afetados", afirmou.
No mesmo sentido se posicionou Álvaro Tukano ao mencionar que a paz para os indígenas está relacionada à demarcação de suas terras: "Esse museu é pra combater o preconceito. O fogo estará aceso aqui simbolizando tudo isso. Chega de matança de índios, queremos a paz e a demarcação das nossas terras", concluiu.
PEC 215 e fortalecimento da Funai
Durante a coletiva, Manchineri falou do retrocesso representado pelas iniciativas em curso no Congresso Nacional que violam não somente o direito ao esporte, mas todo um conjunto de direitos humanos garantidos aos mais de 305 povos indígenas brasileiros, em especial o direito à terra: "A PEC 215 significa a extinção dos povos indígenas. A paz significa terra. A terra para nós é nossa mãe, nosso mercado e nosso banco de investimentos. Por isso não vamos permitir que a PEC avance. A função do Congresso não é executar; é legislar. O Congresso deveria é se ocupar de fazer boas leis em prol da população brasileira", declarou.
Manchineri lembrou, também, do papel fundamental da Funai na coordenação das políticas públicas indigenistas, afirmando ser objetivo do movimento indígena o fortalecimento da autarquia: "Não à PEC 215 e sim ao fortalecimento do nosso órgão indigenista", concluiu.
Cerimônia de revezamento
Amanhã, durante a cerimônia de revezamento, o atleta indígena Kamukaiká Lappa Yawalapiti carregará a Tocha Olímpica no trajeto interno do Memorial dos Povos Indígenas, em Brasília. É a primeira vez na história que esse símbolo ingressará em um local fechado. Para recepcioná-lo, os indígenas farão um ato pela garantia do direito às suas terras e ao respeito aos seus modos de vida únicos e insubstituíveis.
Texto: Mônica Carneiro/ASCOM Funai