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Cinema nas Aldeias Xavante
Entre os dias 27 e 30 de julho de 2015, aconteceu a primeira etapa do ciclo de cinema itinerante promovido pela FUNAI nas aldeias Xavante da Terra Indígena Parabubure em Campinópolis / MT
Por Maíra Ribeiro, FUNAI CTL em Nova Xavantina/MT
No centro da aldeia ou debaixo de um pé de manga, armava-se o telão. Numa mesinha, colocava-se os equipamentos de som e projeção. As cadeiras da escola eram dispostas para a comunidade sentar. Assim foi montada a estrutura nas três aldeias xavante por onde passou o "Cinema nas Aldeias Xavante: ver, ouvir e debater", executado pelas servidoras Maíra Ribeiro e Mirian Tsibodowapré, no fim de julho de 2015.
O projeto é desenvolvido numa parceria entre as Coordenações Técnicas Locais (CTL) em Nova Xavantina/MT e em Campinápolis/MT, com apoio do Programa de Promoção do Patrimônio Cultural dos Povos Indígenas do Museu do Índio.
O projeto tem dois objetivos. Por um lado, divulga nas aldeias os filmes sobre o povo Xavante e povos indígenas, criando um espaço de lazer e cultura junto às comunidades da Terra Indígena (TI) Parabubure. Por outro lado, seguindo a máxima de que uma imagem vale mais que mil palavras, a exibição dos filmes traz reflexão e discussão sobre temas pertinentes e cotidianos através de uma linguagem diferente.
Os filmes selecionados são documentários que tratam de diferentes questões presentes na vida das comunidades indígenas, como alcoolismo, conflitos territoriais e direitos indígenas (veja a seleção no quadro abaixo). Para fomentar a discussão nas aldeias, na manhã seguinte, são trabalhadas atividades relacionadas aos temas tratados nos filmes exibidos na noite anterior.
A primeira aldeia a receber o cinema itinerante foi a Parabubure, no dia 27 de julho. A comunidade juntou-se para ver os filmes "Pi'õ Höimanadzé" de Cristina Flória, "Uma Casa Uma Vida" de Raiz das Imagens e "Vale dos Esquecidos" de Maria Raduan. Este último retrata a luta pela terra dos Xavante de Marãiwatsédé e foi o gancho para a atividade junto com a comunidade na manhã seguinte. O Cacique Celestino foi convidado para contar às crianças a história de genocídio e expulsão sofridos em meados do século passado pelo povo de Parabubure e a luta e reconquista deste território xavante ainda na década de 1970.
No dia seguinte, a equipe rumou para as aldeias Espírito Santo e Ro'oredzaodzé, localizadas uma de frente para a outra. A exibição de filmes aconteceu debaixo do pé de caju na Aldeia Espírito Santo enquanto as atividades na manhã seguinte aconteceram na escola da Aldeia Ro'oredzaodzé. Os jovens comentaram que o filme exibido que mais gostaram foi "A Grande Caçada", do salesiano Adalbert Heidi. Este filme mostra uma caçada com fogo tradicional xavante feita na Missão de São Marcos, na região de General Carneiro/MT, na década de 1970. Apesar da distância temporal de quatro décadas, os jovens se identificaram com as cenas, consideradas verdadeiras e atuais pelos espectadores. Observaram algumas pequenas mudanças, como o canto ritual antes da caçada que eles não fazem mais nessa aldeia. "Queremos uma cópia do filme para aprender os cantos, aprender mais, porque não sabemos e os velhos não nos ensinam" comentou o jovem Régis Tsawe.
No dia 29 de julho, o Cinema nas Aldeias Xavante chegou na Aldeia São Gabriel, onde foram exibidos os filmes "Ödzé Nhimi Wamnari", de Aquilino Tsi'rui'a, "Pi'õ Höimanadzé" e "Índio Cidadão", de Rodrigo Siqueira. Sob a lua quase cheia, a pequena comunidade reuniu-se no centro da aldeia para assistir aos filmes. Nesta aldeia, a atividade do dia seguinte foi diferente. Os indígenas propuseram visitar o "fervedor", uma nascente próxima à aldeia onde brota água da areia. Mais do que um passeio turístico, aconteceu uma atividade de gestão territorial, no qual os indígenas aproveitaram para limpar a estrada até o local e zelar pelo território.
Ao todo, o projeto circulará em doze aldeias na TI Parabubure, de julho a outubro. Para ampliar o alcance da divulgação do material audiovisual xavante, é prevista a produção de uma caixa com todos os filmes exibidos para ser distribuída em todas as escolas indígenas no âmbito das sete Terras Indígenas xavante.
OS DOCUMENTÁRIOS EXIBIDOS NAS ALDEIAS
· Uma Casa Uma Vida de Raiz das Imagens (24 minutos, 2013)
Sinopse: O filme debate sobre a moradia Xavante e os programas de habitação do governo enquanto registra as oficinas de construção ecológica nas aldeias Santa Cruz e Belém, TI Pimentel Barbosa, no projeto Tiba´uwe. Temas: Moradia, Tradição, Território, Sustentabilidade
· Vale dos Esquecidos de Maria Raduan (72 minutos, 2011)
Sinopse: Retrato do conflito por terras na região do Araguaia em Mato Grosso, onde grupos rivais defendem seus interesses, entre eles os Xavante de Marãiwatsédé, posseiros, grileiros, sem-terra e fazendeiros. Temas: Território, Grilagem, conflitos e luta pela terra, História Xavante, Marãiwatsédé
· Pi'õ Höimanadzé - A Mulher Xavante Em Sua Arte de Cristina Flória (45 minutos, 2008)
Sinopse: O universo feminino Xavante é revelado pelas mulheres da Aldeia Etehiritipá, TI Pimentel Barbosa, através da sua arte, suas raízes culturais e seus conhecimentos, mantidos e transmitidos de geração a geração até os dias atuais. Temas: Mulher Xavante, Família, Vida na aldeia
· A Grande Caçada de Adalberto Heidi / Missão Salesiana (65 minutos, 1978)
Sinopse: Registro de uma caçada tradicional xavante na década de 70, em meio a cenas do cotidiano desse povo, como a vida das famílias nas aldeias, os rios e paisagens da TI São Marcos. Temas: Caçada tradicional, História Xavante, Território, Uso do fogo.
· Ödzé Nhimi Wamnari - Os efeitos do álcool nos Xavante de Aquilino Tsi'rui'a/ Missão Salesiana (17 minutos, 2015)
Sinopse: O cinegrafista Xavante Divino e o padre Xavante Aquilino visitam cidades, como Campinápolis, e aldeias em busca de compreender porque os Xavante estão se entregando ao vício do álcool? Tema: Alcoolismo, Juventude, Identidade, Saúde
· Índio Cidadão de Rodrigo Siqueira (52 minutos, 2014)
Sinopse: Filme mostra o movimento indígena desde a mobilização coordenada pela União das Nações Indígenas pela participação popular na Constituinte em 1987/88, até a ocupação indígena da Câmara dos Deputados 25 anos depois, na Mobilização Nacional em Defesa dos Direitos Constitucionais. Temas: Direitos indígenas, Relação com sociedade envolvente, Conflitos, História, Mobilização indígena.
Por Maíra Ribeiro, FUNAI CTL em Nova Xavantina/MT