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Retrospectiva histórica marca o segundo dia da Etapa Regional de Cuiabá
No segundo dia da Etapa Regional de Cuiabá, foi realizada uma troca de saberes na qual levantou-se diversos aspectos históricos dos povos participantes.
Como ponto de partida, a passagem do Marechal Rondon no Mato Grosso no início do século passado está presente na memória dos povos indígenas da região, assim como a chegada das missões católicas e evangélicas. As lembranças são marcos na linha do tempo, uma atividade do segundo dia da Etapa Regional de Cuiabá da I Conferência Nacional de Política Indigenista.
A Guerra do Paraguai, em 1864, é citada por ter a participação dos povos indígenas. Um pouco mais adiante, em 1894, o povo Arara é contatado. Em 1716 acontece o extermínio dos Bororo na região de Cuiabá. Mas, é a partir de 1900, que o contato dos missionários com os povos indígenas se intensifica com os Salesianos e os Bororo em 1902, com os Xavante de Sangradouro em 1945 e, em 1924, é a vez dos Apiaká do Rio Juruema.
O pós-contato e a resistência dos indígenas têm ocorrências consideradas dolorosas. A introdução das missões cristãs nas aldeias Xavante não foi pacífica. No início não aceitam a religião e culmina com a morte de um padre na aldeia Wededze.
A chegada de famílias Paresi e Nambikuara na Aldeia Umutina, município de Barra do Bugres, nas décadas de 30 e 40 é marcada por um choque cultural ao serem forçados a falar a língua portuguesa para conviver com outros povos que também foram levados à Terra Indígena Umutina. Com a criação do internato Utariti por missionários, em 1960, os Paresi voltam a sofrer com a proibição de falar a língua materna. Outro internato salesiano é instalado em Meruri, agora para os Bororo, e esse mesmo ano é feito o primeiro contato com o povo Miki.
Uma Década de Violência
A década de 60 é marcada por um dos maiores massacres da história dos povos indígenas, conhecido como o Massacre do Paralelo 11, com a morte por envenenamento em massa de indígenas Cinta Larga por arsênico. A retirada dos índios Xavante de suas aldeias acontece em 1966. Como marco positivo para os delegados indígenas do evento em Cuiabá, há a criação do Parque Nacional do Xingu pelos irmãos Villas Boas.
No último ano da década de 60, é criada a UNI – União das Nações Indígenas, congregando indígenas de várias regiões do país. Ainda como marco positivo está a criação da Funai, em 1967, com a extinção do SPI.
Novos Tempos
É nos ano 70 que se organiza o movimento indígena no Mato Grosso, a partir das primeiras demarcações de terras indígenas, fruto da luta de caciques, como a Terra Indígena Meruri e Umutina. Os Paresi passam a se contrapor às imposições dos missionários de não falar a língua materna, com o posicionamento de lideranças que passam a ter noção de território.
Em 1973, é instituído o Estatuto dos Povos Indígenas, e os Chiquitanos iniciam a luta pelo reconhecimento de suas terras e de seu povo. Por outro lado, os Nambikuara são proibidos de realizar suas manifestações culturais pela missão e, também, de produzir artesanato, cantar e dançar. Enquanto isso, a missão SIL - Summer Instituto Linguístico passa a aprisionar os Bakairi com a criação de um internato.
A Igreja progressista cria o CIMI- Conselho Indigenista Missionário, um parceiro dos povos indígenas até os dias de hoje. Entre 1973 e 1977, são expulsos os fazendeiros das Terras Indígenas São Marcos e Sangradouro e o fim do garimpo. Ainda em 1973, tem início a luta pelo reconhecimento do território dos Paresi, considerados extintos por trabalharem nas redes telegráficas de Rondon. O Cacique João Garimpeiro foi ao Rio de janeiro mostrar ao governo que seu povo continuava presente no Mato Grosso. Em 1976, a Terra Indígena Meruri é demarcada.
O Índio Político e o Antropólogo
É Xavante do Mato Grosso o político que marcaria o seu nome na História da Política do país e do Indigenismo. Mario Juruna é eleito deputado federal, em 1982, um nome considerado marco na vida dos povos indígenas mato-grossenses, mesmo sendo eleito pelo Rio de Janeiro. Em 1980, é demarcada a Terra Indígena Xavante. No mesmo período, começa a luta pela revitalização da sua alimentação tradicional, deixada de lado pelo advento da aposentadoria e dos benefícios sociais.
O povo Riktbstsa consegue a demarcação de seu território no município de Juína na década de 80, e os Apiakás passam a realizar constantes relações de casamentos entre homens Apiakás com mulheres Kaiabi e Munduruku. O antropólogo Darci Ribeiro é citado não pelos estudos realizados com os Urubu Kaapor, sim pelo seu envolvimento na exigência dos direitos indígenas, apoiando os Bakairi, requerendo bolsas de estudo e alimentação da Funai.
A retrospectiva história dos povos indígenas do Mato Grosso é parte da verdadeira História do Brasil, que ainda está sendo vivenciada e, certamente, novos marcos históricos surgirão nessa Etapa Regional e terão continuidade com outros marcos de outros povos indígenas do país, na 1ª Conferencia Nacional de Política Indigenista, a ser realizada no período de 14 a 17 de dezembro de 2015, em Brasília.