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Projeto Ibaorebu, Povo Munduruku: valorizando a cultura, afirmando a identidade e fortalecendo a autonomia na defesa dos direitos
Texto: Izabel Gobbi e André Ramos
Das diferentes explicações para o sentido da palavra Ibaorebu, dada pelos Munduruku, uma delas talvez seja a que melhor traduz a experiência de educação que vem sendo realizada: é a criação constante do criador, que não termina nunca, quase infinita, como se sempre tivesse algo novo para responder a um novo desafio.
De certa forma, é desse modo que o Projeto Ibaorebu vem realizando sua trajetória de formação entre o Povo Munduruku. Formação essa que, apropriada e orientada pelos próprios indígenas, ultrapassa os limites da mera escolarização e habilidades profissionais, para se recriar em compromissos com a identidade, a territorialidade e a etnocidadania, mantendo sempre a coerência com o eixo principal do projeto, definido pelos caciques, jovens, mulheres e velhos das comunidades há anos atrás: Cultura e Direitos do Povo Munduruku.
O Ibaorebu é uma iniciativa coordenada pela FUNAI, juntamente com os Munduruku, e possui 210 cursistas, divididos em turmas de Magistério Intercultural, Técnico em Enfermagem e Técnico em Agroecologia. O Projeto é realizado com o apoio técnico e financeiro da Coordenação Geral de Promoção da Cidadania – CGPC e Coordenação Regional do Tapajós, além do apoio de outras Coordenações Gerais da FUNAI e das parcerias com o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará – IFPA (Campus Rural de Marabá) e com o DSEI Tapajós. Para a realização da última etapa, também contamos com o apoio financeiro do Ministério da Educação – MEC, graças à articulação dos próprios Munduruku.
XI Etapa Intensiva do Projeto
A XI Etapa Intensiva do Projeto Ibaorebu foi realizada entre os dias 21 de novembro e 20 de dezembro de 2014, na Aldeia Sai-Cinza, localizada na região do Alto Tapajós – PA. Como de costume, a comunidade de Sai-Cinza, representada pelos Caciques Vicente Saw e Nezinho Saw, acolheu os integrantes do Ibaorebu e prestigiou os seminários de apresentação dos trabalhos elaborados durante a etapa.
A intensa e criativa produção dos cursistas foi apresentada nos seminários, a exemplo dos projetos agroextrativistas sustentáveis e de recuperação ambiental das erosões na aldeia Sai Cinza, pela turma de agroecologia; das discussões sobre a política de saúde, sobre a necessidade de reflexão sobre o parto e sobre a alimentação tradicional, pela turma de técnico de enfermagem; e as discussões sobre as ameaças do sistema de ensino e a necessidade de valorização da língua materna, que deu origem a um livro de alfabetização Munduruku, elaborado pelas turmas do Magistério Intercultural e tendo como referência o método Paulo Freire.
Registros audiovisuais: os Munduruku por eles mesmos.
Durante a etapa, os cursistas do Projeto Ibaorebu realizaram diversos registros audiovisuais, com o objetivo de divulgar a experiência do projeto, falar sobre a cultura Munduruku e, ainda, produzir um vídeo sobre o combate ao preconceito e à discriminação, que deverá ser divulgado no Brasil e no mundo, bem como poderá ser utilizado nas escolas indígenas e não-indígenas. Os vídeos foram todos concebidos pelos Munduruku, a partir de um processo de reflexão e discussão sobre as situações de preconceito vivenciadas cotidianamente e, principalmente, sobre a importância da valorização da cultura e da afirmação da identidade na luta em defesa dos direitos.
A discussão sobre a temática da discriminação e do preconceito esteve presente de forma transdisciplinar nas turmas de Magistério Intercultural, Técnico em Enfermagem e Agroecologia, originando um vasto debate onde se destacaram situações de racismo institucional, presentes nas políticas de educação, saúde e também nas políticas ambientais e de desenvolvimento.
O Ibaorebu e a defesa dos direitos indígenas
Fazendo jus às caraterísticas de um espaço aberto de participação, com caráter de fórum permanente de reflexões e debates pautado pelo Povo Munduruku, durante a XI Etapa do Ibaorebu aconteceu um importante encontro: nos dias 13 e 14 de dezembro, a aldeia Sai-Cinza sediou a Assembleia Extraordinária do Povo Munduruku, que contou com a participação de mais de 100 lideranças do Médio e Alto Tapajós, além do Procurador da República, Dr. Camões Boaventura. Na ocasião foi discutida e aprovada a proposta de protocolo de consulta da Convenção 169 da OIT, onde os Munduruku estabelecem como querem ser consultados sobre empreendimentos e outras políticas de Governo que impactam suas terras e sua cultura (ver link: http://www.prpa.mpf.mp.br/news/2014/munduruku-decidem-como-deverao-ser-consultados-sobre-hidreletricas-e-obras) .
Continuidade do Projeto Ibaorebu
A expectativa dos Munduruku é de que a próxima etapa do Ibaorebu seja realizada no mês de março de 2015, para que possam dar continuidade ao processo de formação em curso. Há, ainda, a proposta de abertura de novas turmas do Ibaorebu e de sistematização dessa importante experiência.