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Primeira turma de Licenciatura Intercultural Indígena se forma na Universidade Federal de Santa Catarina
Colaboração: Sirlene Bendazzoli
O palco das comemorações pela conquista do nível superior da primeira turma do Curso de Licenciatura Intercultural Indígena do Sul da Mata Atlântica da Universidade Federal de Santa Catarina, formada por acadêmicos dos povos Guarani, Kaingang e Laklãnõ/Xoklehg, que ocorreram no último dia 08 de abril, foi o Centro de Cultura e Eventos da Universidade Federal de Santa Catarina.
Na plateia, com olhos atentos e largos sorrisos, parentes, como eles próprios se chamam entre os familiares, amigos e pessoas que apoiaram e torceram por este momento, como professores, orientadores e servidores da Funai.
Ali no meio de 85 formandos, histórias de vidas, de jovens, adultos, indígenas mais velhos e até uma bisavó, que acreditam que o curso em Licenciatura Intercultural proporcionou a oportunidade de trabalhar conteúdos educacionais inerentes à suas culturas, comparados aos da sociedade não indígena, sendo a formatura um marco para atuação docente reconhecida institucionalmente.
Foram quatro anos de muita determinação e garra, com um dos menores índices de evasão escolar dentre todos os cursos ministrados na UFSC, dizia a reitora Roselane Neckel, em conversa com o presidente da Funai, Flávio Chiarelli, o coordenador da Coordenação Regional Litoral Sul, João Maurício e a Coordenadora Geral de Promoção dos Direitos Sociais, Patrícia Chagas Neves. Para a reitora os alunos não indígenas aprenderam muito com a presença dos indígenas no campus da Universidade, " não é mais possível pensar a UFSC sem a comunidade indígena ".
O Curso de Graduação em Licenciaturas dos povos Indígenas do Sul da Mata Atlântica – Guarani, Kaingáng e Laklãnõ/Xokleng do Centro de Filosofia e Ciências Humanas da universidade Federal de Santa Catarina, foi criado em abril de 2010, com as primeiras turmas como projeto experimental, iniciando em fevereiro de 2011. Com enforque nos territórios indígenas: questões fundiárias e ambiental no Bioma Mata Atlântica.
Os 85 formados passam a ser habilitados em licenciatura para a docência na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental das escolas indígenas; licenciatura das Linguagens com ênfase nas línguas indígenas; licenciatura em humanidades com ênfase em direitos indígenas e licenciatura do conhecimento ambiental com ênfase em gestão ambiental.
No total foram mais de 3.400 horas aula, divididas em quatro anos, em regime presencial especial, acontecendo com etapas concentradas, desenvolvido na Pedagogia da Alternância, com um tempo na Universidade, um tempo na comunidade, incluindo atividades de campo, conversas e muito aprendizado com os especialistas nos conhecimentos tradicionais indígenas. Durante os oito semestres os alunos participaram de atividades artístico-culturais e de viagens de estudo para visitas a museus, sítios arqueológicos, institutos de pesquisas, arquivos públicos, bibliotecas e laboratórios.
Nesse sentido, o apoio da Funai custeando deslocamentos dos discentes aos módulos presenciais e tempo aldeia foi de grande importância, uma vez que as fases de trabalhos em suas aldeias são essenciais para que a efetiva interculturalidade se estabelecesse durante toda a formação.
Cada semestre letivo foi composto por etapas intensivas, nas comunidades, nos meses de fevereiro, maio, julho e outubro, coincidindo com o período de férias e recesso escolar.
Durante a solenidade de colação de grau, muitas manifestações de vitória e com um discurso bastante emocionado, de juramento (leia aqui a íntegra do juramento), o representante da turma Belarmino da Silva, acompanhado pelos demais formandos, falou do fortalecimento da cultura indígena "fortalecer nossas próprias línguas, construir caminhos de sustentabilidade com os quais podemos fortalecer a autonomia e a auto determinação do povo indígena".
Os novos licenciados também lembraram da necessidade de demarcação de terras tradicionais.
Presente ao evento, o presidente da Fundação Nacional do Nacional, Flávio Chiarelli, participou da mesa e entregou o certificado de conclusão a indígenas das três etnias, Guarani, Kaingang e Laklãnõ Xoklehg. Em seu discurso Flávio destacou a visão acadêmica dos não indígenas, " nós não indígenas, temos uma visão acadêmica muito erudita, os alunos que colam grau hoje, não serão só formados, serão sim, os formadores de opinião do futuro".
A Funai mantém um Termo de Cooperação com a Universidade Federal de Santa Catarina e por meio de suas Coordenações Regionais, do Regional do Litoral Sul, do Interior Sul e Passo Fundo efetivou o deslocamento dos estudantes durante os 4 anos de curso e também dos familiares para a formatura. Destaque-se que os estudantes são provenientes de Terras Indígenas dos estados do Espirito Santo, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
A Universidade Federal de Santa Catarina, busca agora tornar o Curso de Licenciatura Intercultural Indígena do Sul da Mata Atlântica da Universidade Federal de Santa Catarina, regular, uma conquista que vai garantir a inclusão permanente nos currículos da UFSC.
JURAMENTO DA LICENCIATURA INDÍGENA / UFSC
JURO,
COMO PROFESSOR GUARANI,
COMO PROFESSOR KAINGANG,
COMO PROFESSOR LAKLÃNÕ/XOKLENG,
CONTRIBUIR NAS LUTAS DO MEU POVO.
FORTALECER A NOSSA IDENTIDADE.
MANTER A NOSSA LÍNGUA.
CULTIVAR NOSSA FORMA PRÓPRIA DE VIVER,
ATRAVÉS DE NOSSAS PRÁTICAS EDUCATIVAS.
CONSTRUIR CAMINHOS DE SUSTENTABILIDADE
COM OS QUAIS PODEMOS FORTALECER
A AUTONOMIA,
A AUTODETERMINAÇÃO,
A LIBERDADE,
COM FARTURA E ALEGRIA,
COM CRIANÇAS SADIAS,
COM JOVENS E ADULTOS BEM-AVENTURADOS.
MAS,
PARA ALCANÇAR ESSA CONDIÇÃO
PRECISAMOS DE TERRA.
PRECISAMOS DAS NOSSAS TERRAS TRADICIONAIS.
JURO!