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Povos do Cone Sul do MS participam de Etapa Regional da Conferência Indigenista
A espiritualidade, elemento norteador dos Guarani Ñandeva e Kaiowá, marcou a abertura da Etapa Regional de Dourados da 1ª Conferência Nacional de Política Indigenista, que ocorreu na segunda-feira (5). Rezadores benzeram o auditório da Universidade da Grande Dourados, local de realização do evento, e pediram a ñanderu, primeiro pai e criador de tudo que existe, que abençoasse os participantes e levasse a discussão a bons resultados.
O procurador federal, Eduardo Cardoso Ferro, abriu o evento, destacando a dificuldade de defender os direitos indígenas no Mato Grosso do Sul. Ele reconheceu a discriminação e o preconceito institucional e da sociedade para com os povos indígenas na região do Cone Sul e conclamou a todos para, nessa conferência, ouvir as propostas e vozes indígenas com respeito.
O cacique do povo Guarani Kaiowá, Jorge Gomes, da Terra Indígena Pirakuá, reforçou a fala de Eduardo Ferro. Ele fez um desabafo empunhando um exemplar da Constituição: "nossos direitos não estão sendo respeitados. Os artigos 231 e 232 da Constituição Federal e a Convenção 169 precisam ser cumpridas." Disse ser necessário rebatizar a denominação do estado do Mato Grosso do Sul, "pois não existe mais mato", concluiu.
A despeito da situação de vulnerabilidade dos povos indígenas na região do Cone Sul, a realização da Conferência Regional se apresenta como um momento de diálogo, para mudar e melhorar a atuação dos órgãos de governo, conforme relatou o coordenador da Funai de Ponta Porã, Helder Ribas. "O preconceito contra os povos indígenas não pode inviabilizar o direito que eles têm à vida e à terra", destacou.
Juan Negret, coordenador geral de Promoção ao Etnodesenvolvimento da Funai, fez um breve relato de como vem sendo realizadas as etapas regionais da Conferência Indigenista e um alerta sobre a importância de analisar o presente, de como pode e deve ser o Bem Viver: "podemos aprender com os outros países sobre a gestão dos seus recursos e dar ênfase à cota de parlamentares indígenas, que já é garantida por constituições de outros países da América do Sul".
Afirmando tratar-se de "uma crise humanitária", a situação dos povos indígenas no Cone Sul do MS foi abordada pelo secretário de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos da Presidência da República, Paulo Maldos. Para ele, os debates da conferência são determinantes não só para o futuro dos Guarani, mas de todos os povos indígenas do país. "Daqui vão surgir propostas importantes para a Conferência Nacional, que será construída a partir do que vocês estão trazendo de suas comunidades", finalizou.
Participam da Etapa Regional de Dourados, que prossegue até quarta-feira (7), cerca de 130 representantes indígenas Terena, Guarani Ñandeva e Kaiowá da região do Cone Sul. Na tarde de ontem, grupos de trabalho discutiram os avanços e marcos da política indígena e indigenista do país.