Notícias
Papel da mulher indígena é tema de encontro no Ceará
O Cacique Pitaguari Franscisco Daniel Araujo da Silva, 64 anos, ainda não acostumado com o comando das reuniões só por mulheres indígenas, considerou produtivas as discussões do I Encontro Regional do Espaço Nacional de Diálogo de Mulheres Indígenas, realizado no período de 10 a 13 de agosto de 2015, na Aldeia Santo Antonio da Terra Indígena Pitaguari, reunindo mais de quarenta mulheres indígenas do Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte.
O evento é uma realização da Fundação Nacional do Índio em parceria e Secretaria de Políticas para as Mulheres, buscando ampliar o conhecimento sobre a relação entre os povos Indígenas e o Estado, com enfoque no papel da mulher indígena.
Lideranças femininas de outras regiões contibuíram compartilhando suas experiências, como a Kaingang Brasília, de 60 anos, militante na área de segurança alimentar, sempre alertando para a importãncia de plantar, produzir alimento seguro, sem veneno e não depender de programas do governo, e dizendo com firmeza que a sabedoria de plantar é dos povos indígenas.
Eliane Monzilar do Povo Umutina é aluna do curso de Mestrado da Universidade de Brasília e sua fala no encontro foi para a importância da qualificação dos povos indígenas. Ela também representou a União das Mulheres Indígenas da Amazônia Brasileira - UMIAB. Jupira Terena, uma das fundadoras do Conselho Nacional de Mulheres Indígenas - CONAMI, fez apresentação da organização que atua mais na região sul e sudeste.
Os relatos das experiências com projetos foi o ponto alto dos debates ao mostrar que as dificulfades vivenciadas na execução dos projetos são quase as mesmas, no entanto, servem para revigorar e seguir adiante na visão de Rosa Pitaguari.
O relato de Rozania Barbosa do Nascimento Potiguara, 23 anos, da Terra Indígena Amarelão, chamou a atenção ao enumerar os projetos aprovados em instituições e governo, já com resultados. Ela participa do movimento indígena desde a juventude e hoje atua no de mulheres. Na Comunidade Amarelão, toda a sua familia trabalha no beneficiamento da castanha do caju."Uma atividade árdua que não é fácil", destaca, mas por outro lado tem motivos para se alegrar com a aprovação de projetos para a comunidade, sobretudo Culturais. "Um dos primeiros projetos conquistado pela Associação Comunitária do Amarelão foi o do Banco do Nordeste que fortaleceu o Toré e ampliou o grupo de flauta, para uma orquestra; Comunica Diverdade; Prêmio Culturas Indígenas em duas Edições e em 2014 veio a cozinha comunitária do Programa Consular Mulher da indúsutria Consul".
Ela atribui esses resultados ao trabalho da Associação e o reflexo dos projetos atinge os jovens que antes só trabalhavam no beneficiamento da castanha de caju e agora com a Orquestra, além do lazer, participando da orquestra ou mesmo das atividades culturais da comunidade: " Eles se interessam em estudar música e temos até monitores que saíram da orquestra, outro grande ganho foi com o fortalecimento do Toré, que hoje também está nas salas de aula e não apenas nos rituais", faz questão de destacar Rozania.
Como uma jovem liderança, Rozania vislumbra o fortalecimento da etnicidade do povo Potiguara da Comunidade Amarelão com o Curso "Saberes Indígenas" a ser oferecido pelo Instituto Federal do Rio Grande do Norte - Campus Canguaretama. O curso capacitará professores indígenas para lecionar saberes tradicionais com a assessoria dos anciões. Na sua avaliação o evento foi muito rico pela troca de experiências e para fortalecer cada vez mais o movimento de Mulheres Indígenas.
A Tabajara Jacyara Maciel da Paraíba da Aldeia Vitória da Terra Indígena Tabajara, em processo de demarcação, o encontro foi uma oportunidade para as mulheres compartilharem os saberes, fortalecer e empoderar as mulheres indígenas para reivindir políticas públicas e garantir atuação nos espaços de governo. "Nos últimos dois anos, conseguimos um avanço com a demarcação de nossa terra e ter direito a voz e autonomia política dentro do nosso povo atuando como protagonistas nesse processo de luta".
Ao avaliar o evento, Jacyara chama atenção para uma maior participação no espaço de diálogo, proposto pelo encontro.